Cerro os dentes. Oh, meu Deus, quantas vezes tem este homem de me dizer que me ama? Espera que o escreva de volta, mas simplesmente não me consigo obrigar a fazê-lo neste momento. Estes «amo-te» estão a manter-me refém. Assim, tiro antes uma
Oh, meu Deus, tem literalmente tudo o que me diz de ser uma espécie de jogo de culpa por não ter ido viver com ele?
Atiro o telemóvel para o lado, frustrada. Vou a levantar-me para ir escovar os dentes quando o aparelho começa a tocar. É provavelmente o Brock, tendo em conta que não respondi à sua mensagem. Vai provavelmente perguntar-me se pode vir cá. E eu terei de lhe responder que não com jeitinho.
Só que, ao olhar para o ecrã do meu telemóvel, vejo que não é o Brock. É o
Por que está o
Por um minuto, fico a olhar para o telemóvel, o meu coração a palpitar. Não há nenhuma boa razão para o meu patrão me estar a ligar à meia-noite. Sinto-me tentada a deixar ir para o correio de voz, mas, em vez disso, deslizo o dedo pelo ecrã para atender a chamada.
– Millie – A voz soa ligeiramente seca. –, acordei-a?
– Não...
– Ótimo – diz. – Peço desculpa por ligar tão tarde, mas achei que seria melhor dizer-lhe já. Depois desta semana, não iremos necessitar mais dos seus serviços.
– Está... está a despedir-me?
– Bem, não propriamente a despedi-la – responde. –Mais a dispensá-la. A Wendy parece estar a sentir-se melhor e gostaria de voltar a ter alguma privacidade na nossa própria casa.
– Oh...
– Não é que não tenha feito um trabalho adequado... –Caramba, obrigadinha. – É só que um casal precisa da sua privacidade. Compreende o que estou a dizer?
Percebo perfeitamente a mensagem. Não quer que eu fale com a Wendy ou que a tente ajudar.
– Compreende, não é verdade, Millie? – insiste.
– Claro – respondo, entre dentes cerrados. – É claro que sim.
– Ótimo. – O seu tom aligeira. – E, só para lhe agradecer por tudo o que fez por nós, gostaria de lhe oferecer um par de bilhetes para um jogo dos Mets. Gostaria disso, não gostaria?
– Sim – respondo lentamente. – Gosto dos Mets...
– Perfeito! Está tudo resolvido, então.
– Ahã.
– Boa noite, Millie. Durma bem.
Ao desligar a chamada, sinto ainda uma inquietação. Algo me estava a incomodar naquela conversa – algo que não consigo identificar ao certo. Deixo-me cair de novo na cama e é então que olho para a
É uma
Ergo o olhar para a janela à minha frente. As persianas estão fechadas, como sempre. Corro para a janela, enfio os dedos entre os estores e olho para a rua. Está completamente às escuras. Não vejo nenhum homem ominoso no exterior. Não está ninguém a olhar para a minha janela com uns binóculos.
Talvez tenha sido apenas uma coincidência. Quer dizer, sou de Nova Iorque. Quem não gosta dos Mets?
Mas não creio que fosse. Havia algo no seu tom quando falou em oferecer-me os bilhetes para os Mets.
Oh, meu Deus, e se me consegue ver aqui dentro?
Mas não é como se fosse um segredo enorme eu usar uma camisola dos Mets para dormir. Posso ter aberto a porta com ela vestida, a dada altura. E todos os namorados que tive sabem dela, ainda que essa lista só inclua o Brock e o Enzo.
Ainda assim – tenho mais algumas camisolas com que também durmo. Douglas sabia o que eu tinha vestido
Jurei à Wendy que jamais desistiria dela, mas tenho de admitir: estou totalmente aterrada. As persianas estão corridas. Nunca as abro à noite, muito menos quando estou a vestir a minha camisola de dormir.
Tremem-me as mãos enquanto agarro no telemóvel e envio uma mensagem ao Brock:
Como sempre, responde de imediato:
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Assim que acabar de dobrar esta roupa, vou encontrar-me com o Brock para jantar.
Douglas enviou-me uma mensagem de texto a combinar uma hora para a minha última sessão de limpezas. Depois disto, terei de procurar um novo emprego, por isso espero que me dê uma gorjeta enorme. Ainda que não tenha grandes esperanças.
Ainda bem que esta será a última vez que trabalho para os Garrick. Não desisti da Wendy, mas não quero estar mais nesta casa. Douglas Garrick dá-me calafrios, e quanto mais me puder afastar dele, melhor. Farei o que puder para ajudar a Wendy do exterior.