Afinal, muitos homens tão doentes quanto eu acabaram se recuperando.
– “Vou dizer-lhes como Morstan morreu. Ele sofria do coração há muitos anos, mas escondia de todos. Só eu sabia. Quando estávamos na Índia, por uma série notável de circunstâncias, chegamos a ter um tesouro considerável. Trouxe-o para a Inglaterra e, na noite em que Morstan chegou, ele veio imediatamente para cá reclamar a sua parte. Veio a pé da estação e foi recebido pelo meu velho e fiel Lal Chowdar, que já morreu. Morstan e eu divergimos quanto à divisão e chegamos a trocar palavras ásperas. Morstan pulou da cadeira num paroxismo de raiva, e de repente pôs a mão sobre o coração, o rosto ficou escuro e caiu para trás, batendo com a cabeça na quina do cofre que continha o tesouro. Quando me aproximei dele, verifiquei horrorizado que estava morto.
– “Durante muito tempo fiquei sem ação, pensando no que deveria fazer. O meu primeiro impulso, é claro, foi tentar conseguir socorro; mas lembrei-me de que tudo era contra mim e que eu seria imediatamente acusado de assassinato. A sua morte no momento em que discutíamos e a pancada que ele levou na cabeça quando caiu seriam provas contra mim. Uma investigação oficial com certeza iria revelar fatos sobre o tesouro, a respeito do qual eu queria guardar segredo. Ele me dissera que ninguém sabia para onde ele tinha ido. Achei que não era necessário que alguém viesse a saber. Ainda estava meditando sobre o assunto quando, ao erguer os olhos, vi Lal Chowdar na porta. Entrou silenciosamente e fechou a porta. ‘Não tenha medo,
– Nesse instante, houve uma transformação medonha no seu rosto: os olhos ficaram fixos, com uma expressão selvagem; o queixo caiu, e ele gritou numa voz que nunca pude esquecer: “Não o deixem entrar. Por Cristo, não o deixem entrar.” Ambos olhamos espantados para a janela atrás de nós, para onde ele dirigia o olhar esgazeado. Lá de fora, no escuro, um rosto olhava para nós. Via-se bem o nariz apertado contra a vidraça. Era uma cara barbuda, os olhos ferozes, selvagens, e uma expressão de maldade. Corremos até a janela, mas o homem fugira. Quando voltamos, a cabeça de meu pai pendia para o lado e o pulso tinha parado de bater. Vasculhamos o jardim naquela noite, mas não descobrimos o menor sinal do intruso, a não ser uma única pegada debaixo da janela, nitidamente visível no canteiro. Mas como só havia aquele único vestígio, achamos que tínhamos imaginado aquele rosto na janela. Entretanto, pouco tempo depois, tivemos uma prova de que havia agentes secretos agindo em volta de nós. A janela do quarto de meu pai foi encontrada aberta de manhã, todos os armários e gavetas haviam sido remexidos e sobre o seu peito havia um pedaço de papel rabiscado com as palavras