– Se planejaram um ataque, não me falaram dele. – Jon não acreditava. Lorde Janos não tinha homens suficientes para atacar o campo dos selvagens. Além disso, encontrava-se do lado errado da Muralha, e o portão estava selado com entulho.
– Se está outra vez mentindo para mim, não sai vivo daqui – preveniu Mance. Os guardas trouxeram-lhe o cavalo e a armadura. Em outros pontos do acampamento, Jon viu gente correndo desordenadamente, com alguns homens se posicionando como se fossem assaltar a Muralha, enquanto outros se esgueiravam para a floresta, mulheres conduzindo carros de cães para leste, mamutes vagueando para oeste. Estendeu a mão por sobre o ombro e puxou a Garralonga, exatamente no momento em que uma fina linha de patrulheiros emergia do limite da floresta a trezentos metros de distância. Usavam cota de malha negra, meios-elmos negros e mantos negros. Com a armadura meio posta, Mance puxou a espada. – Então você não sabia de nada disto? – disse friamente a Jon.
Lentos como mel numa manhã fria, os patrulheiros caíram sobre o acampamento dos selvagens, abrindo caminho por entre maciços de giestas e pequenos bosques, por sobre raízes e pedras. Selvagens voaram ao seu encontro, berrando gritos de guerra e brandindo tacapes, espadas de bronze e machados de pederneira, galopando temerariamente contra seus velhos inimigos.
– Acredite no que quiser – disse Jon ao Rei-para-lá-da-Muralha –, mas nada sabia de ataque algum.
Harma passou por eles trovejando antes de Mance poder responder, à frente de trinta corsários. Seu estandarte seguia à sua frente; um cão morto empalado numa lança, fazendo chover sangue a cada passo. Mance observou enquanto ela se esmagava contra os patrulheiros.
– Pode ser que esteja dizendo a verdade – disse. – Estes parecem homens de Atalaialeste. Marinheiros a cavalo. Cotter Pyke sempre teve mais coragem do que juízo. Capturou o Senhor dos Ossos em Monte Longo, pode ter pensado em fazer o mesmo comigo. Se sim, é um idiota. Não tem homens suficientes, ele...
–
Praguejando, Mance saltou para a sela.
– Varamyr, fique e trate de que nenhum mal aconteça a Dalla. – O Rei-para-lá-da-Muralha apontou a espada a Jon. – E mantenha olhos extras neste corvo. Se ele fugir, corte-lhe a goela.
– Sim, eu trato disso. – O troca-peles era uma cabeça mais baixo do que Jon, baixo e mole, mas aquele gato-das-sombras era capaz de estripá-lo com uma pata. – Também estão vindo do norte – disse Varamyr a Mance. – É melhor ir.
Mance colocou o elmo com as suas asas de gralha. Seus homens também tinham montado.
– Ponta de lança – gritou Mance –, a mim, formar em cunha. – Mas quando deu com os calcanhares na égua e voou campo afora ao encontro dos patrulheiros, os homens que correram para acompanhá-lo perderam qualquer semelhança com uma formação.
Jon deu um passo em direção à tenda, pensando no Berrante do Inverno, mas o gato-das-sombras bloqueou-o, com a cauda balançando. As narinas da fera dilataram-se e escorreu saliva de seus dentes curvos da frente.
– Estandartes – ouviu Varamyr murmurar –, vejo estandartes dourados, oh... – Um mamute passou pesadamente por eles, bramindo, com meia dúzia de arqueiros na torre de madeira que levava sobre o dorso. – O rei... não...
Então o troca-peles jogou a cabeça para trás e
O som era chocante, ensurdecedor, pesado de agonia. Varamyr caiu, contorcendo-se, e o gato também estava gritando... e alto, alto no céu oriental, contra a muralha de nuvens, Jon viu a águia
O grito fez Val sair da tenda, pálida.
– Que foi, o que aconteceu? – os lobos de Varamyr estavam lutando um contra o outro e o gato-das-sombras tinha fugido para o meio das árvores, mas o homem continuava se contorcendo no chão. – O que se passa com ele? – quis saber Val, horrorizada. – Onde está o Mance?
– Ali. – Jon apontou. – Foi lutar. – O rei levava a sua cunha esfarrapada na direção de um grupo de patrulheiros, fazendo a espada relampejar.
– Foi? Não pode ter ido, agora não. Começou.