Jon virou-se, e entrou na tenda.
ARYA
À porta da estalagem, pendurados em uma forca desgastada pelas intempéries, os ossos de uma mulher torciam-se e chocalhavam a cada rajada de vento.
– Não queremos entrar – decidiu subitamente Arya –, pode haver fantasmas.
– Sabe quanto tempo passou desde que eu bebi uma taça de vinho? – Sandor saltou da sela. – Além do mais, temos de ficar sabendo quem controla o vau rubi. Fique com os cavalos se quiser, por mim tô cagando.
– E se o reconhecerem? – Sandor já não se incomodava em esconder o rosto. Já não parecia se importar com quem o reconhecesse. – Podem querer prendê-lo.
– Que experimentem. – Soltou a espada na bainha e empurrou a porta.
Arya nunca teria melhor oportunidade de fugir. Podia se afastar, montada na Covarde, e levar também o Estranho. Mordeu o lábio. Então levou os cavalos para os estábulos e entrou atrás dele.
– Procurando o seu irmão, Sandor? – a mão de Polliver estivera enfiada no corpete da moça que tinha no colo, mas agora a havia tirado para fora.
– Procurando uma taça de vinho. Estalajadeiro, um jarro de tinto. – Clegane atirou um punhado de moedas de cobre para o chão.
– Não quero problemas, sor – disse o estalajadeiro.
– Então não me chame de
– Este é o cachorro perdido de que Sor Gregor falou? – perguntou ao Cócegas. – Aquele que fez xixi nas esteiras e fugiu?
Cócegas apoiou uma mão no braço do rapaz, num aviso, e sacudiu vivamente a cabeça. Arya compreendeu aquilo com bastante clareza.
Mas o escudeiro não, ou então não se importou.
– Sor disse que o seu irmão cachorro enfiou o rabo entre as pernas quando a batalha esquentou demais em Porto Real. Disse que fugiu ganindo. – Dirigiu ao Cão de Caça um estúpido sorriso de zombaria.
Clegane estudou o rapaz e não disse palavra. Polliver tirou rudemente a moça de cima de si e pôs-se em pé.
– O moço tá bêbado – disse. O homem de armas era quase tão alto quanto o Cão de Caça, embora não fosse tão musculoso. Uma barba arredondada cobria-lhe o queixo e as maxilas, espessa, negra e bem cortada, mas a cabeça estava mais calva do que coberta. – Ele não aguenta o vinho, é só isso.
– Então não devia beber.
– O cachorro não assusta... – começou o rapaz, mas o Cócegas torceu casualmente sua orelha entre o indicador e o polegar. As palavras transformaram-se num guincho de dor.
O estalajadeiro retornou apressadamente, trazendo duas taças de pedra e um jarro numa bandeja de peltre. Sandor levou o jarro à boca. Arya via os músculos do pescoço dele trabalhando enquanto engolia. Quando bateu com ele na mesa, metade do vinho tinha desaparecido.
– Agora já pode servir. E é melhor que apanhe aqueles cobres, que são as únicas moedas que deve ver hoje.
– Nós pagaremos quando acabarmos de beber – disse Polliver.