– Quando acabar de beber, vai fazer cócegas no estalajadeiro para saber onde ele guarda o ouro. Como faz sempre.
O estalajadeiro lembrou-se de repente de algo que tinha na cozinha. Os homens da terra também estavam saindo, e as garotas já tinham desaparecido. O único som que se ouvia na sala comum era o tênue crepitar do fogo na lareira.
– Se anda à procura do Sor, vem tarde demais – disse Polliver. – Ele esteve em Harrenhal, mas já não está. A rainha mandou buscá-lo. – Arya viu que o homem trazia três lâminas à cintura; uma espada longa na anca esquerda e na direita um punhal e uma lâmina mais esguia, longa demais para ser uma adaga e curta demais para ser uma espada. – O Rei Joffrey está morto, sabe? – acrescentou. – Envenenado durante o banquete do próprio casamento.
Arya penetrou um pouco mais na sala.
– Lá se foram os meus bravos irmãos da Guarda Real. – Cão de Caça soltou uma fungada de desprezo. – Quem foi que o matou?
– O Duende, pensam. Ele e a mulherzinha.
– Que mulher?
– Esquecia-me de que tem estado escondido debaixo de uma pedra. A nortenha. A filha de Winterfell. Ouvimos dizer que ela matou o rei com um feitiço e que depois se transformou num lobo com grandes asas de couro, como as de um morcego, e voou por uma janela de torre. Mas deixou o anão para trás e Cersei quer cortar a cabeça dele.
Cão de Caça sentou-se no banco mais próximo da porta. Sua boca torceu-se, mas só do lado queimado.
– Ela devia mergulhá-lo em fogovivo e cozê-lo. Ou fazer-lhe cócegas até a lua ficar negra. – Ergueu a taça de vinho e esvaziou-a de uma só vez.
– Então Gregor tomou Harrenhal? – disse Sandor.
– Não foi preciso tomar muito – disse Polliver. – Os mercenários fugiram assim que souberam que estávamos a caminho, todos menos uns poucos. Um dos cozinheiros abriu uma poterna para a gente entrar, para se vingar de Hoat por lhe ter cortado o pé. – Soltou um risinho. – Ficamos com ele para cozinhar para nós, umas meninas para aquecer nossas camas e passamos todos os outros pela espada.
–
– Bem, o Sor ficou com Hoat como passatempo.
Sandor disse:
– O Peixe Negro ainda está em Correrrio?
– Não por muito tempo – disse Polliver. – Está cercado. O velho Frey vai enforcar Edmure Tully se ele não entregar o castelo. O único local onde se luta a sério é em volta de Corvarbor. Os Blackwood e os Bracken. Os Bracken agora são dos nossos.
Cão de Caça serviu uma taça de vinho a Arya e outra a si mesmo, e bebeu-a enquanto fitava o fogo na lareira.
– O passarinho voou, foi? Bem, ainda bem para ela. Cagou na cabeça do Duende e voou.
– Vão encontrá-la – disse Polliver. – Nem que seja preciso metade do ouro de Rochedo Casterly.
– Uma garota bonita, segundo ouvi dizer – disse o Cócegas. – Doce como o mel. – Estalou os lábios e sorriu.
– E cortês – concordou Cão de Caça. – Uma senhorinha como deve ser. Ao contrário da porcaria da irmã.
– Também a encontraram – disse Polliver. – A irmã. Ouvi dizer que é para o bastardo de Bolton.
Arya bebericou o vinho para que não vissem sua boca. Não compreendia o que Polliver estava dizendo.
– O que é tão engraçado assim? – perguntou Polliver.
Cão de Caça não deu nem um relance a Arya.
– Se quisesse que você soubesse, teria dito. Há navios em Salinas?
– Salinas? Como é que eu vou saber? Os mercadores voltaram para a Lagoa da Donzela, segundo ouvi dizer. Randyll Tarly tomou o castelo e trancou Mooton numa cela de torre. Não ouvi porra nenhuma a respeito de Salinas.
Cócegas inclinou-se para a frente.
– Iria se lançar ao mar sem se despedir de seu irmão? – Arya sentiu arrepios ao ouvi-lo fazer uma pergunta. – Sor ia preferir que voltasse a Harrenhal com a gente, Sandor. Aposto que sim. Ou a Porto Real...
– Que isso se foda. Que ele se foda. Que você se foda.