Читаем A Tormenta de Espadas полностью

Quando a gaiola parou com um solavanco, Jon saltou para o chão e sacudiu o cabo de Garralonga para que a lâmina bastarda ficasse solta dentro da bainha. O portão estava a alguns metros para a sua esquerda, ainda bloqueado pelos restos estilhaçados da tartaruga, com a carcaça de um mamute apodrecendo lá dentro. Havia também outros cadáveres, espalhados entre barris quebrados, piche endurecido e manchas de mato queimado, tudo sob a sombra da Muralha. Jon não tinha qualquer desejo de se demorar ali. Pôs-se a caminhar na direção do acampamento dos selvagens, passando pelo corpo de um gigante cuja cabeça havia sido esmagada por uma pedra. Um corvo estava arrancando pedaços de cérebro do crânio estilhaçado do gigante. Olhou para cima quando ele passou. “Snow”, gritou para ele. “Snow, snow.” Então abriu as asas e partiu voando.

Assim que começou a avançar, um cavaleiro solitário emergiu do acampamento dos selvagens e veio em sua direção. Perguntou a si mesmo se Mance viria parlamentar na terra de ninguém. Isso podia tornar as coisas mais fáceis, se bem que nada as tornará fáceis. Mas quando a distância entre ambos diminuiu, Jon viu que o homem era baixo e largo, com anéis de ouro cintilando em braços grossos e uma barba branca que se espalhava por seu peito maciço.

Ha! – trovejou Tormund quando se encontraram. – Jon Snow, o corvo. Tive receio de não o ver mais.

– Não sabia que tinha receio de alguma coisa, Tormund.

Aquilo fez o selvagem sorrir.

– Bem dito, moço. Tô vendo que seu manto é negro. O Mance não vai gostar disso. Se veio mudar de lado outra vez, é melhor subir de volta a sua Muralha ali.

– Enviaram-me para tratar com o Rei-para-lá-da-Muralha.

– Tratar? – Tormund riu. – Mas que palavra. Ha! Mance quer conversar, isso lá é verdade. Mas não sei lá muito bem se quer conversar com você.

– Foi a mim que enviaram.

– Tô vendo isso. Então é melhor vir daí. Quer montar?

– Posso ir a pé.

– Deu-nos boa luta aqui. – Tormund virou o garrano para o acampamento dos selvagens. – Você e seus irmãos. Tenho de admitir. Duzentos mortos e uma dúzia de gigantes. O próprio Mag entrou naquele seu portão e não saiu mais.

– Ele morreu pela espada de um homem valente chamado Donal Noye.

– Ah sim? Era algum grande senhor, esse Donal Noye? Um de seus cavaleiros brilhantes com roupas de baixo em aço?

– Um ferreiro. Só tinha um braço.

– Um ferreiro maneta matou Mag, o Poderoso? Ha! Essa deve ter sido uma luta digna de ser vista. O Mance vai fazer dela uma canção, você vai ver. – Tormund desprendeu um odre da sela e tirou a rolha dele. – Isso vai nos aquecer um pouco. A Donal Noye e a Mag, o Poderoso. – Bebeu um trago e passou o odre para Jon.

– A Donal Noye e a Mag, o Poderoso. – O odre estava cheio de hidromel, mas um hidromel tão potente que encheu os olhos de Jon de água e mandou gavinhas de fogo serpenteando por todo o seu peito. Depois da cela de gelo e da fria descida na gaiola, o calor era bem-vindo.

Tormund recuperou o odre e emborcou mais um trago e depois limpou a boca.

– O Magnar de Thenn jurou à gente que ia ter o portão escancarado, pra que tudo que tivéssemos de fazer fosse passear por ele cantando. Que ia botar a Muralha inteira abaixo.

– Botou abaixo parte dela – disse Jon. – Em cima da própria cabeça.

– Ha! – disse Tormund. – Bem, nunca vi grande utilidade no Styr. Quando um homem não tem nem barba, nem cabelo, nem orelhas, não se pode pegar bem nele quando se luta. – Mantinha o cavalo a passo lento, para que Jon pudesse ir coxeando a seu lado. – O que é que houve com essa perna?

– Uma flecha. Uma das de Ygritte, acho eu.

– Isso é que é mulher. Um dia tá beijando você, no outro o enche de flechas.

– Está morta.

– Ah, é? – Tormund sacudiu tristemente a cabeça. – Uma pena. Se eu fosse dez anos mais novo, tinha raptado-a pra mim. Aqueles cabelos que ela tinha... Bem, as fogueiras mais quentes são as que ardem mais depressa. – Ergueu o odre de hidromel. – A Ygritte, beijada pelo fogo! – bebeu um longo trago.

– A Ygritte, beijada pelo fogo – repetiu Jon quando Tormund lhe entregou o odre. Bebeu um trago ainda mais longo.

– Foi você que a matou?

– Foi um irmão meu. – Jon nunca soube qual, e esperava nunca saber.

– Malditos corvos. – O tom de Tormund era duro, mas estranhamente gentil. – Aquele Lança-Longa roubou-me a filha. Munda, a minha maçãzinha de outono. Raptou-a bem da minha tenda, com os quatro irmãos dela por lá. Toregg passou o tempo todo dormindo, o grande palhaço, e Torwynd... bem, Torwynd, o Manso, isso diz tudo que é preciso dizer, não diz? Mas os mais novos deram luta ao moço.

– E Munda?

– Ela é do meu sangue – disse Tormund com orgulho. – Rasgou o lábio dele e arrancou-lhe metade de uma orelha com uma dentada, e ouvi dizer que ele tem tantos arranhões nas costas que não consegue pôr um manto. Mas gosta bastante dele. E por que não haveria de gostar? Ele não luta com lança, sabe? E nunca lutou. De onde acha que veio aquele nome dele então? Ha!

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