– Pegue a porcaria da espada e vá embora, antes que eu mude de ideia. Há uma égua baia nos estábulos, tão feia quanto você, mas um pouco mais bem treinada. Vá em perseguição do Pernas-de-Aço, vá em busca de Sansa, ou vá para casa, para a sua ilha de safiras, não me interessa. Não quero olhar mais para você.
– Jaime...
–
Teimosamente, ela insistiu.
– Joffrey era seu...
– Meu rei. Deixe as coisas assim.
– Diz que Sansa o matou. Por que protegê-la?
– Fiz reis e desfi-los. Sansa Stark é minha última oportunidade de honra. – Jaime deu um ligeiro sorriso. – Além disso, os regicidas deviam se juntar. Nunca mais vai embora?
A grande mão de Brienne fechou-se com força em volta da Cumpridora de Promessas.
– Vou. E encontrarei a garota e a manterei a salvo. Pela senhora mãe dela. E por você. – Fez uma reverência rígida, virou-se e saiu.
Jaime ficou sentado à mesa, sozinho, enquanto as sombras iam enchendo a sala. Quando o ocaso começou a se instalar, acendeu uma vela e abriu o Livro Branco em sua página. Encontrou pena e tinta numa gaveta. Por baixo da última linha escrita por Sor Barristan, escreveu numa letra desajeitada que poderia ter sido elogiada numa criança de seis anos que estivesse aprendendo as primeiras letras com o meistre:
Quando terminou, ainda restava encher mais de três quartos de sua página, entre o leão de ouro no escudo carmesim ao topo e o escudo branco e vazio no fundo. Sor Gerold Hightower tinha começado a sua história e Sor Barristan Selmy continuara-a, mas o resto teria de ser escrito pelo próprio Jaime Lannister. Dali em diante, poderia escrever o que quer que decidisse escrever.
O que quer que decidisse...
JON
O vento soprava forte do leste, tão forte que a pesada gaiola balançava sempre que uma rajada a apanhava em seus dentes. Uivava ao longo da Muralha, tremendo pelo gelo, fazendo o manto de Jon esvoaçar de encontro às barras. O céu era um cinza de ardósia, o sol, nada mais do que uma tênue mancha brilhante por trás das nuvens. Para além do campo de morte, via a cintilação de mil fogueiras ardendo, mas suas luzes pareciam pequenas e impotentes contra tamanha escuridão e frio.
Os homens diziam que as crianças bastardas nasciam da luxúria e da mentira; a sua natureza era libertina e traiçoeira. Antes, Jon pretendia provar que isso era um erro, mostrar ao senhor seu pai que podia ser um filho tão bom e leal quanto Robb.