Читаем A Tormenta de Espadas полностью

Encostou-se a um parapeito baixo de tijolo a fim de olhar para baixo, para a cidade. Meereen também dormia. Perdida em sonhos sobre dias melhores, talvez. A noite cobria as ruas como uma manta negra, escondendo os cadáveres e as ratazanas cinzentas que saíam dos esgotos para se banquetearem com eles, os enxames de moscas que picavam. Tochas distantes cintilavam, vermelhas e amarelas, no local onde as sentinelas faziam suas rondas, e aqui e ali viu o tênue clarão de lanternas oscilando ao longo de uma viela. Talvez uma delas fosse Sor Jorah, levando lentamente o cavalo pela arreata na direção do portão. Adeus, velho urso. Adeus, traidor.

Ela era Daenerys Filha da Tormenta, a Não Queimada, khaleesi e rainha, Mãe de Dragões, matadora de feiticeiros, quebradora de correntes, e não havia ninguém neste mundo em quem pudesse confiar.

– Vossa Graça? – Missandei estava a seu lado, enrolada num roupão, com sandálias de lã nos pés. – Acordei e vi que tinha saído. Dormiu bem? Para onde está olhando?

– Para a minha cidade – disse Dany. – Estava à procura de uma casa com uma porta vermelha, mas à noite todas as portas são negras.

– Uma porta vermelha? – Missandei estava confusa. – Que casa é essa?

– Não é casa nenhuma. Não importa. – Dany pegou na mão da garota mais nova. – Nunca minta para mim, Missandei. Nunca me traia.

– Nunca o farei – prometeu Missandei. – Veja, a alvorada chega.

O céu tinha se tornado azul-cobalto do horizonte ao zênite, e por trás da linha de colinas baixas, a leste, via-se um clarão, de ouro pálido e cor de ostra. Dany ficou vendo o sol subir ao céu, de mãos dadas com Missandei. Todos os tijolos cinza se tornaram vermelhos, amarelos, azuis, verdes e laranja. As areias escarlate das arenas de luta transformaram-se em chagas sangrando perante seus olhos. Em outro local, a cúpula dourada do Templo das Graças refulgia brilhantemente, e estrelas de bronze tremeluziam ao longo das muralhas nos locais onde a luz do sol nascente tocava os espigões dos capacetes dos Imaculados. No terraço, um punhado de moscas agitou-se indolentemente. Uma ave pôs-se a gorjear no caquizeiro, logo seguida por mais duas. Dany inclinou a cabeça para escutar sua canção, mas não demorou muito até que os ruídos da cidade que acordava a submergissem.

Os ruídos da minha cidade.

Naquela manhã convocou seus capitães e comandantes para o jardim, em vez de descer à sala de audiências.

– Aegon, o Conquistador, trouxe fogo e sangue a Westeros, mas depois deu-lhe paz, prosperidade e justiça. Mas tudo que eu trouxe à Baía dos Escravos foi morte e ruína. Fui mais khal do que rainha, esmagando e saqueando, e depois seguindo viagem.

– Não há nada por que valha a pena ficar – disse Ben Mulato Plumm.

– Vossa Graça, os senhores de escravos fizeram a perdição cair sobre si mesmos – disse Daario Naharis.

– Trouxe também a liberdade – fez notar Missandei.

– Liberdade para passar fome? – perguntou Dany em tom cortante. – Liberdade para morrer? Serei eu um dragão ou uma harpia? – Serei louca? Terei a mácula?

– Um dragão – disse Sor Barristan num tom que não admitia dúvida. – Meereen não é Westeros, Vossa Graça.

– Mas como serei eu capaz de governar sete reinos, se não conseguir governar uma única cidade? – ele não tinha resposta para aquela pergunta. Dany deu as costas a eles para voltar a olhar a cidade. – Meus filhos precisam de tempo para curar as feridas e aprender. Meus dragões precisam de tempo para crescer e testar as suas asas. E eu preciso das mesmas coisas. Não permitirei que esta cidade siga o caminho de Astapor. Não permitirei que a harpia de Yunkai volte a acorrentar aqueles que eu libertei. – Virou-se novamente para olhar o rosto deles. – Não me porei em marcha.

– Então o que fará, khaleesi? – perguntou Rakharo.

– Ficarei – disse ela. – Governarei. E serei uma rainha.

JAIME

O rei estava sentado à cabeceira da mesa, com uma pilha de almofadas debaixo do traseiro, assinando cada documento que lhe era apresentado.

– Só mais alguns, Vossa Graça – garantiu-lhe Sor Kevan Lannister. – Este é um decreto de confisco contra Lorde Edmure Tully, despojando-o de Correrrio e de todas as suas terras e rendimentos, por rebelião contra o seu legítimo rei. Este é um decreto semelhante, contra o tio, Sor Brynden Tully, o Peixe Negro. – Tommen assinou-os um após o outro, mergulhando cuidadosamente a pena na tinta e escrevendo o seu nome numa letra grande e infantil.

Jaime observava do fundo da mesa, pensando em todos aqueles senhores que aspiravam a um lugar no pequeno conselho do rei. Podem ficar com a porcaria do meu. Se aquilo era o poder, por que teria sabor de tédio? Não se sentia particularmente poderoso vendo Tommen mergulhar de novo a pena no tinteiro. Sentia-se entediado.

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