– Ficaria honrado, Vossa Graça – disse Selmy com calma dignidade. – Sou capaz de assar maçãs e cozinhar carne tão bem quanto qualquer homem, e já assei muitos patos em fogueiras de acampamentos. Espero que goste deles gordurosos, com a pele tostada e os ossos cheios de sangue.
Aquilo fez Dany sorrir.
– Teria de estar louca para comer comida como essa. Ben Plumm, venha entregar a Sor Barristan a sua espada.
Mas o Barba-Branca recusou-se a aceitá-la.
– Atirei a minha espada aos pés de Joffrey e desde então não toquei em nenhuma outra. Só das mãos de minha rainha voltarei a aceitar uma espada.
– Como quiser. – Dany tirou a espada do Ben Mulato e ofereceu-a com o cabo para a frente. O velho pegou-a com reverência. – Agora ajoelhe-se – disse-lhe ela – e juramente-a ao meu serviço.
Ele ajoelhou-se e pousou a lâmina diante de Dany enquanto proferia as palavras. Ela quase não as ouviu.
– E agora você, sor. Diga-me a verdade.
O pescoço do grande homem estava vermelho; se de ira ou de vergonha, Dany não sabia.
– Tentei dizer-lhe a verdade meia centena de vezes. Disse-lhe que Arstan era mais do que parecia ser. Preveni a senhora de que Xaro e Pyat Pree não eram de confiança. Preveni-a...
– Preveniu-me contra todos, menos contra você. – A insolência dele enfureceu-a.
– Não sou
–
– Durante algum tempo. – Ele disse de má vontade. – Parei.
– Quando? Quando foi que parou?
– Enviei um relatório de Qarth, mas...
– De
– Isso era para protegê-la – insistiu ele. – Para mantê-la longe deles. Eu sabia que cobras eles eram...
– Cobras? E o que é você, sor? – ocorreu-lhe algo indizível. – Contou-lhes que eu esperava o filho de Drogo...
–
– Que nem pense em negá-lo, sor – disse em tom penetrante Sor Barristan. – Eu estava presente quando o eunuco contou isso ao conselho, e Robert decretou que Sua Graça e o seu filho tinham de morrer. Você foi a fonte, sor. Até se falou que poderia realizar o ato em troca de perdão.
– Mentira. – O rosto de Sor Jorah tornou-se sombrio. – Eu nunca... Daenerys, fui eu quem
– Sim. E como foi que soube que o vinho estava envenenado?
– Eu... eu apenas suspeitava... a caravana tinha trazido uma carta de Varys, prevenindo-me de que haveria atentados. Ele a queria vigiada, é certo, mas não machucada. – Ajoelhou-se. – Se não lhes tivesse dito nada, alguém o teria feito.
– O que eu sei é que me traiu. – Tocou a barriga, onde o filho Rhaego perecera. – O que sei é que um envenenador tentou matar o meu filho graças a você. É isso o que eu
– Não... não. – Ele sacudiu a cabeça. – Eu nunca quis... perdoe-me. Tem de me perdoar.
–
– Perdoou o velho...
– Ele mentiu para mim a respeito do nome. Você vendeu os meus segredos aos homens que mataram meu pai e roubaram o trono de meu irmão.
– Protegi-a. Lutei por você. Matei por você.
– Entrei nos esgotos como se fosse uma ratazana. Por você.
– Daenerys – disse ele –, eu amei-a.
E aí estava.