– Quebre-o, senhora – ordenou. Quando ela o fez, uma dúzia de pintinhos amarelos fugiram e desataram a correr em todas as direções. –
Quando os criados trouxeram um caldo de alho-poró e cogumelos, o Abetouro começou a fazer malabarismos e a Senhora Olenna inclinou-se para a frente e apoiou os cotovelos na mesa.
– Conhece o meu filho, Sansa? Lorde Peixe-Balão de Jardim de Cima?
– É um grande senhor – respondeu polidamente Sansa.
– É um grande idiota – disse a Rainha dos Espinhos. – O pai também era um idiota. Meu esposo, o falecido Lorde Luthor. Oh, amei-o bastante, não me entenda mal. Era um homem gentil, e não lhe faltava habilidade no quarto, mas não deixava de ser pavorosamente idiota. Conseguiu cair com o cavalo de uma falésia enquanto caçava com falcão. Dizem que olhava para o céu, sem prestar nenhuma atenção para onde o cavalo o levava.
“E agora o idiota do meu filho está fazendo o mesmo, só que está montando um leão em vez de um palafrém. Eu preveni-o de que é fácil montar um leão, mas não é tão fácil desmontá-lo; porém, ele só responde com risinhos. Se algum dia tiver um filho, Sansa, bata nele com frequência, para que aprenda a lhe dar ouvidos. Eu só tive um rapaz e quase não bati nele, é por isso que agora ele presta mais atenção ao Abetouro do que a mim. Um leão não é um gato de colo, eu lhe disse, e ele me vem com um ‘vá-lá-mãe’. Há muito mais ‘vá-lás’ neste reino do que devia existir, se quer saber. Todos esses reis fariam bastante melhor se depusessem as espadas e escutassem as mães.”
Sansa percebeu que estava de novo com a boca aberta. Encheu-a com uma colher de caldo enquanto a Senhora Alerie e as outras mulheres riam do espetáculo que Abetouro dava, fazendo laranjas saltarem com sua cabeça, seus cotovelos e seu grande traseiro.
– Quero que me conte a verdade sobre esse real rapaz – disse abruptamente a Senhora Olenna. – Esse Joffrey.
Os dedos de Sansa apertaram-se em volta da colher.
– Eu… eu… eu…
– Você, sim. Quem melhor o conheceria? O moço parece bastante régio, admito. Um pouco cheio de si, mas isso deve vir do sangue Lannister. No entanto, ouvimos algumas histórias perturbadoras. Há alguma verdade nelas? Aquele rapaz maltratou-a?
Sansa lançou um olhar nervoso à sua volta. O Abetouro enfiou uma laranja inteira na boca, mastigou-a e engoliu-a, deu um tapa no rosto e assoou sementes pelo nariz. As mulheres riram. Criados iam e vinham, e a Arcada das Donzelas ecoava com o ruído das colheres e dos pratos. Um dos pintos voltou a saltar para cima da mesa e atravessou correndo o caldo da Senhora Graceford. Ninguém parecia estar prestando a mínima atenção nelas, mesmo assim Sansa sentia-se assustada.
A Senhora Olenna estava ficando impaciente.
– Por que está olhando para o Abetouro de boca aberta? Fiz uma pergunta, espero uma resposta. Os Lannister roubaram a sua língua, filha?
Sor Dontos prevenira-a para só falar à vontade no bosque sagrado.
– Joff... o Rei Joffrey, ele... Sua Graça é muito justo e bonito, e... e bravo como um leão.
– Sim, todos os Lannister são leões, e quando um Tyrell solta gases cheira mesmo a rosas – exclamou a idosa. – Mas quão bondoso ele é? Quão inteligente? Tem um bom coração, uma mão gentil? É cavalheiresco como um rei deve ser? Irá estimar Margaery e tratá-la com ternura, proteger sua honra como protegeria a própria?
– Sim – mentiu Sansa. – Ele é muito... muito bonito.
– Já disse isso. Sabe, filha, há quem diga que você é tão tola quanto o Abetouro, e eu começo a acreditar.
– O queijo será servido depois dos bolos, senhora.
– O queijo será servido quando eu quiser que ele seja servido, e quero-o servido já. – A velha voltou a se virar para Sansa. – Está assustada, filha? Não precisa, aqui somos só mulheres. Conte-me a verdade, nenhum mal acontecerá a você.
– Meu pai sempre disse a verdade. – Sansa falava em voz baixa, ainda assim era difícil forçar as palavras a sair.
– Lorde Eddard, sim, ele tinha essa reputação, mas mesmo assim o chamaram de traidor e cortaram sua cabeça. – Os olhos da velha a atravessaram, afiados e brilhantes como pontas de espadas.