– Nem poderia fazê-lo, Senhora Sansa – respondeu Sor Loras, mas todo o calor tinha desaparecido de sua voz. Nem voltou a tomar seu braço.
Subiram a escada em espiral num profundo silêncio.
Lorde Mace Tyrell e sua comitiva tinham sido alojados atrás do septo real, na longa fortaleza com telhado de ardósia, que era chamada de Arcada das Donzelas desde que o Rei Baelor, o Abençoado, confinara ali as irmãs, para que a visão delas não o tentasse a ter pensamentos carnais. Junto às suas portas altas e esculpidas encontravam-se dois guardas com meio elmo dourado e manto verde debruado de cetim dourado, com a rosa dourada de Jardim de Cima cosida no peito. Ambos tinham mais de dois metros e dez de altura e eram largos de ombros e estreitos de cintura, magnificamente musculosos. Quando Sansa se aproximou o suficiente para ver seus rostos, não foi capaz de distingui-los um do outro. Possuíam os mesmos maxilares fortes, os mesmos profundos olhos azuis, os mesmos densos bigodes ruivos.
– Quem são eles? – perguntou a Sor Loras, momentaneamente esquecida do embaraço.
– A guarda pessoal de minha avó – disse-lhe ele. – A mãe deles os chamou de Erryk e Arryk. Minha avó não consegue distingui-los, por isso os chama de Esquerdo e Direito.
Esquerdo e Direito abriram as portas, e a própria Margaery Tyrell surgiu e desceu saltitante o pequeno lance de escadas, ao encontro dos recém-chegados.
– Senhora Sansa – gritou –, estou tão contente por ter vindo. Seja bem-vinda.
Sansa ajoelhou aos pés de sua futura rainha.
– A senhora me concede uma grande honra, Vossa Graça.
– Por que não me chama de Margaery? Por favor, levante-se. Loras, ajude a Senhora Sansa a ficar em pé. Posso chamá-la de Sansa?
– Se lhe agradar.
Sor Loras fez o que lhe foi pedido. Margaery mandou-o embora com um beijo fraternal e pegou a mão de Sansa.
– Venha, minha avó a espera, e ela não é a mais paciente das senhoras.
O fogo crepitava na lareira, e esteiras com um cheiro doce tinham sido espalhadas pelo chão. Uma dúzia de mulheres estava sentada em volta da longa mesa de montar.
Sansa só reconheceu a alta e digna esposa de Lorde Tyrell, a Senhora Alerie, cuja longa trança prateada se encontrava presa com anéis incrustados de joias. Margaery fez as outras apresentações. Havia três primas Tyrell, Megga, Alla e Elinor, todas com idades próximas à de Sansa. A roliça Senhora Janna era irmã de Lorde Tyrell, e era casada com um dos Fossoway da maçã verde; a graciosa Senhora Leonette, de olhos brilhantes, era também uma Fossoway, casada com Sor Garlan. A Septã Nysterica possuía um rosto modesto e marcado por varíola, mas parecia alegre. A pálida e elegante Senhora Graceford esperava criança, e a Senhora Bulwer
Após todas as outras, Margaery trouxe-a junto de uma mulher encarquilhada, de cabelos brancos, que mais parecia uma boneca, sentada à cabeceira da mesa.
– Tenho a honra de lhe apresentar a minha avó, a Senhora Olenna, viúva do falecido Luthor Tyrell, Senhor de Jardim de Cima, cuja memória é um conforto para todos nós.
A idosa cheirava a água de rosas.
– Beije-me, filha – disse a Senhora Olenna, puxando o pulso de Sansa com uma mão suave e manchada. – É tanta gentileza sua vir jantar comigo e com meu tolo bando de galinhas.
Obedientemente, Sansa beijou a velha no rosto.
– A gentileza foi sua, por me convidar, senhora.
– Conheci seu avô, Lorde Rickard, embora mal.
– Ele morreu antes de eu nascer.
– Sei disso, filha. Dizem que seu avô Tully também está morrendo. Lorde Hoster, certamente lhe disseram, não? Um velho, embora não tão velho como eu. Seja como for, no fim a noite cai para todos nós, e cedo demais para alguns. Deve saber disso melhor do que a maioria das pessoas, pobre criança. Teve a sua cota de luto, eu sei. Lamentamos as suas perdas.
Sansa olhou de relance para Margaery.
– Entristeceu-me saber da morte de Lorde Renly, Vossa Graça. Ele era muito galante.
– É bondade sua dizer isso – respondeu Margaery.
A avó bufou.