No dia seguinte, tudo aquilo tinha parecido um sonho. E o que tinha Sor Jorah a ver com o assunto?
Mais perto da baía, a cidade apresentava uma aparência mais agradável. As grandes pirâmides de tijolo margeavam a costa, a maior tinha cento e vinte metros de altura. Todo tipo de árvores, trepadeiras e flores cresciam em seus largos terraços, e os ventos que rodopiavam em volta delas cheiravam a verde e a perfume. Outra harpia gigantesca erguia-se sobre o portão, esta era feita de argila vermelha cozida, e visivelmente se desfazia, não lhe restando mais do que um toco onde antes estivera a cauda de escorpião. A corrente que segurava com as garras de barro era ferro-velho, repleto de ferrugem. Mas, perto da água, estava mais fresco. O bater das ondas contra os pilares corroídos produzia um som curiosamente calmante.
Aggo ajudou Dany a descer da liteira. Belwas, o Forte, estava sentado num alto pilar, comendo um grande pedaço de carne assada.
– Cachorro – disse ele em tom alegre quando viu Dany. – Bom cachorro em Astapor, pequena rainha. Comer? – ofereceu com um sorriso gorduroso.
– É gentil de sua parte, Belwas, mas não. – Dany tinha comido cachorro em outros lugares, em outros tempos, mas naquele momento tudo em que conseguia pensar era nos Imaculados e em seus estúpidos filhotes. Passou rapidamente pelo enorme eunuco e subiu a prancha até o convés do
Sor Jorah Mormont estava à sua espera.
– Vossa Graça – disse, baixando a cabeça. – Os feitores vieram e foram embora. Três, com uma dúzia de escribas e outros tantos escravos para os transportes. Percorreram cada centímetro de nossos porões e tomaram nota de tudo que possuímos. – Acompanhou-a até o fundo. – Quantos homens eles têm à venda?
– Nenhum. – Seria com Mormont que estava zangada, ou com aquela cidade e o seu obstinado calor, seus fedores, suores e tijolos em ruína? – Vendem eunucos, não homens. Eunucos feitos de tijolo, como o resto de Astapor. Devo comprar oito mil eunucos de tijolo com olhos mortos que nunca se movem, que matam bebês de peito por causa de um chapéu com um espigão e estrangulam os próprios cães? Nem sequer têm nomes. Portanto não os chame de
–
– Já ouvi tudo que quero ouvir a respeito do
Mormont tocou a bochecha que ela havia estapeado.
– Se desagradei à minha rainha...
–
– Às ordens de Vossa Graça. Direi ao Capitão Groleo que se prepare para zarpar na maré da noite, rumo a uma pocilga menos vil.
– Não – disse Dany. Groleo observava-os do castelo de proa, e sua tripulação também assistia. Barba-Branca, seus companheiros de sangue, Jhiqui, todos tinham parado o que estavam fazendo ao ouvir a bofetada. – Quero zarpar
Atrás da porta de madeira esculpida da cabine do capitão, seus dragões estavam inquietos. Drogon ergueu a cabeça e soltou um grito, com fumaça clara saindo de suas narinas, e Viserion voou para ela e tentou se empoleirar em seu ombro, como fazia quando era menor.
– Não – disse Dany, tentando afastá-lo com suavidade. – Agora é grande demais para isso, querido. – Mas o dragão enrolou a sua cauda branca e dourada em volta de um braço e enterrou garras negras no tecido de sua manga, agarrando-se bem. Impotente, Dany afundou-se na grande cadeira de couro de Groleo, aos risinhos