– Há dois motivos. Os bravos defensores de Astapor não passam de palha, isso é verdade. Nomes antigos e bolsas gordas que se vestem com açoites ghiscari para fingir que ainda dominam um vasto império. Todos eles são oficiais de elevada patente. Nos dias de festa travam guerras de mentira nas arenas, para demonstrar como são brilhantes comandantes, mas são os eunucos que morrem. Da mesma forma, qualquer inimigo que quisesse saquear Astapor teria de saber que defrontaria Imaculados. Os senhores de escravos colocariam a guarnição inteira a serviço da defesa da cidade. Os dothraki não atacam Imaculados desde que deixaram as tranças aos portões de Qohor.
– E o segundo motivo?
– Quem atacaria Astapor? – perguntou Sor Jorah. – Meereen e Yunkai são rivais mas não inimigos, a Perdição destruiu Valíria, o povo do interior, para oriente, é todo ghiscari, e para lá dos montes fica Lhazar. Os Homens-Ovelhas, como os seus dothraki os chamam, são um povo notavelmente avesso à guerra.
– Sim – concordou ela –, mas a
– Levá-los para
–
Dany afastou-o, e disse:
– Viserys teria comprado todos os Imaculados que tivesse dinheiro para isso. Mas você certa vez disse que eu era como Rhaegar...
– Lembro-me disso, Daenerys.
–
– Não havia honra maior do que receber o grau de cavaleiro das mãos do Príncipe de Pedra do Dragão.
– Então diga-me: quando ele tocava um homem no ombro com a espada, o que dizia? “Vá e mate os fracos”? Ou “Vá e defenda-os”? No Tridente, esses homens corajosos de que Viserys falou e que morreram sob os nossos estandartes do dragão... deram a vida porque
– Minha rainha – disse lentamente o forte homem –, tudo que diz é verdade. Mas Rhaegar perdeu no Tridente. Perdeu a batalha, perdeu a guerra, perdeu o reino e perdeu a vida. Seu sangue escorreu rio abaixo com os rubis de sua placa de peito, e Robert, o Usurpador, cavalgou por cima de seu cadáver para roubar o Trono de Ferro. Rhaegar lutou valentemente, Rhaegar lutou com nobreza, lutou com honra. E Rhaegar
BRAN
Nenhuma estrada atravessava os retorcidos vales de montanha que agora percorriam. Entre os picos cinzentos de pedra havia calmos lagos azuis, longos, profundos e estreitos, e as infinitas sombras verdes de florestas de pinheiros. O castanho-avermelhado e o dourado das folhas de outono tornaram-se menos comuns quando abandonaram a mata de lobos para subir as velhas colinas de sílex, e desapareceram quando as colinas se transformaram em montanhas. Gigantescas árvores sentinela cinza-esverdeadas erguiam-se agora por cima deles, ombreando com abetos e pinheiros-marciais numa profusão sem fim. Por baixo, a vegetação rasteira era pouco densa, e o chão da floresta estava atapetado de agulhas verde-escuras.
Quando se perdiam, como aconteceu uma ou duas vezes, bastava-lhes esperar por uma noite fria e límpida em que as nuvens não se intrometessem e olhar para o céu em busca do Dragão de Gelo. A estrela azul no olho do dragão indicava o caminho para o norte, segundo Osha tinha lhe dito um dia. Pensar em Osha fazia Bran se perguntar sobre onde ela estaria. Imaginava-a a salvo em Porto Branco, com Rickon e Cão-Felpudo, comendo enguias, peixe e torta quente de caranguejo com o gordo Lorde Manderly. Ou talvez se aquecessem na Última Lareira, diante das fogueiras do Grande-Jon. Mas a vida de Bran transformara-se em dias infinitos e gelados nas costas de Hodor, subindo e descendo em seu cesto as vertentes de montanhas.