– Viveu longo tempo no mundo, Barba-Branca. Agora que já os viu, o que diz?
– Digo que
– Por quê? – perguntou ela. – Fale livremente. – Dany julgava saber o que ele diria, mas queria que a menina escrava o escutasse, para que Kraznys mo Nakloz ouvisse depois.
– Minha rainha – disse Arstan –, não há escravos nos Sete Reinos há milhares de anos. Tanto os velhos deuses como os novos consideram a escravidão uma abominação. Maligna. Se desembarcar em Westeros à frente de um exército de escravos, muitos bons homens irão se opor a você por nenhum outro motivo além desse. Causará grande dano à sua causa e à honra de sua Casa.
– E, no entanto, preciso ter algum exército – disse Dany. – O rapaz Joffrey não me dará o Trono de Ferro se eu pedir educadamente.
– Quando chegar o dia de içar os estandartes, metade de Westeros estará com a senhora – prometeu Barba-Branca. – Seu irmão Rhaegar ainda é lembrado com grande amor.
– E meu pai? – perguntou Dany.
O velho hesitou antes de dizer:
– O Rei Aerys também é recordado. Deu ao reino muitos anos de paz. Vossa Graça não tem necessidade de escravos. O Magíster Illyrio pode mantê-la a salvo enquanto seus dragões crescem e pode mandar enviados secretos para o outro lado do mar estreito em seu nome, para sondar os grandes senhores a respeito de sua causa.
– Esses mesmos grandes senhores que abandonaram o meu pai em favor do Regicida e se curvaram a Robert, o Usurpador?
– Mesmo aqueles que dobraram os joelhos podem ansiar no seu íntimo pelo retorno dos dragões.
–
O negociante de escravos encolheu os ombros.
– Diga-lhe para refletir depressa. Há muitos outros compradores. Não há mais de três dias mostrei estes mesmos Imaculados a um rei corsário que espera comprar todos eles.
– O corsário só queria cem, excelência – Dany ouviu a pequena escrava dizer.
Ele cutucou-a com a ponta do chicote.
– Os corsários são todos mentirosos. Ele vai comprar todos. Diga-lhe isso, garota.
Dany sabia que levaria mais de cem, se chegasse a levar algum.
– Lembre ao Bom Mestre quem eu sou. Lembre-lhe de que sou Daenerys Nascida na Tormenta, Mãe de Dragões, a Não Queimada, legítima rainha dos Sete Reinos de Westeros. Meu sangue é o sangue de Aegon, o Conquistador, e da antiga Valíria antes dele.
Mas suas palavras não tocaram o rotundo e perfumado negociante de escravos, mesmo depois de transmitidas em sua feia língua.
– A antiga Ghis dominava um império quando os valirianos ainda andavam fodendo ovelhas – rosnou para a pobre pequena escriba – e nós somos os filhos da harpia. – Encolheu os ombros. – Tagarelar com mulheres é um desperdício. No leste ou no oeste são todas iguais, são incapazes de decidir até terem sido paparicadas, aduladas e empanturradas de docinhos. Bom, se é esse o meu destino, que seja. Diga à rameira que se quiser um guia para a nossa bela cidade, Kraznys mo Nakloz está a seu serviço... e também pode lhe prestar outros serviços, se for mais mulher do que parece.
– O Bom Mestre Kraznys terá todo o gosto em mostrar-lhe Astapor enquanto a senhora reflete, Vossa Graça – disse a tradutora.
– Dou-lhe geleia de miolos de cão, um belo e rico guisado de polvo vermelho e feto de cão para comer. – Passou a língua pelos lábios.
– Ele diz que aqui é possível provar muitos pratos deliciosos.
– Diga-lhe como as pirâmides são bonitas à noite – rosnou o negociante de escravos. – Diga-lhe que lamberei mel dos peitos dela, ou deixarei que lamba mel dos meus, se preferir.
– Astapor é muito bela ao pôr do sol, Vossa Graça – disse a pequena escrava. – Os Bons Mestres acendem lanternas de seda em todos os terraços, para que todas as pirâmides brilhem com luzes coloridas. Barcaças do prazer percorrem o Verme, cheias de música suave e acostando nas pequenas ilhas para oferecer comida, vinho e outras delícias.
– Pergunte se ela quer ver as nossas arenas de luta – acrescentou Kraznys. – A Arena de Douquor tem um bom espetáculo marcado para esta noite. Um urso e três garotinhos. Um menino será besuntado de mel, outro de sangue e outro de peixe podre, e ela pode apostar qual deles o urso comerá primeiro.
– Tenho meu próprio urso na
– Está vendo – disse Kraznys quando as palavras de Dany foram traduzidas. – Não é a mulher que decide, é este homem para quem corre. Como sempre!