Agora lembrava-se. A ponte de barcos, Sor Mandon Moore, uma mão, uma espada que vinha contra seu rosto. Se eu não tivesse recuado, aquele golpe teria arrancado o topo da minha cabeça. Jaime sempre dissera que Sor Mandon era o mais perigoso dos homens da Guarda Real, porque seus olhos mortos e vazios não davam nenhuma pista de suas intenções. Nunca devia ter confiado em nenhum deles. Sabia que Sor Meryn e Sor Boros pertenciam à irmã, e mais tarde Sor Osmund, mas permitira-se acreditar que os outros não tinham sido completamente perdidos pela honra. Cersei deve lhe ter pago para se assegurar de que eu nunca voltaria da batalha. Por que outro motivo teria feito aquilo? Nunca fiz a Sor Mandon nenhum mal, que eu saiba. Tyrion tocou o rosto, puxando a carne esponjosa com dedos grossos e desastrados. Outro presente de minha querida irmã.
O meistre estava em pé ao lado da cama, como um ganso prestes a levantar voo.
– Senhor, aí, aí ficará provavelmente uma cicatriz.
– Provavelmente? – sua fungadela de riso transformou-se numa crispação de dor. Haveria uma cicatriz, com toda certeza. E também não era provável que seu nariz voltasse a crescer em tempo algum. Não que seu rosto alguma vez tivesse sido digno de ser olhado. – Ensine-me... a não... brincar com... machados – sentiu o sorriso apertado. – Onde... estamos? Que... que lugar? – doía-lhe falar, mas Tyrion tinha estado demasiado tempo em silêncio.
– Ah, está na Fortaleza de Maegor, senhor. Um aposento acima do Salão de Baile da Rainha. Sua Graça queria tê-lo por perto, para que pudesse vigiá-lo pessoalmente.
Aposto que sim.
– Leve-me de volta – ordenou Tyrion. – Minha cama. Meus aposentos – onde terei os meus homens à minha volta, e também meu meistre, se conseguir encontrar algum em quem possa confiar.
– Os seus… senhor, isso não será possível. A Mão do Rei instalou-se em seus antigos aposentos.
– Eu... Sou... Mão do Rei – estava ficando exausto do esforço para falar, e confuso pelo que estava ouvindo.
Meistre Ballabar pareceu desolado.
– Não, senhor, eu… você foi ferido, esteve perto da morte. O senhor seu pai assume agora esses deveres. Lorde Tywin, ele…
– Aqui?
– Desde a noite da batalha. Lorde Tywin salvou-nos a todos. O povo diz que foi o fantasma do Rei Renly, mas homens mais sensatos sabem quem foi. Foi seu pai e Lorde Tyrell, com o Cavaleiro das Flores e Lorde Mindinho. Avançaram através das cinzas e apanharam o usurpador Stannis pela retaguarda. Foi uma grande vitória, e agora Lorde Tywin instalou-se na Torre da Mão a fim de ajudar Sua Graça a colocar o reino nos eixos, graças aos deuses.
– Graças aos deuses – Tyrion repetiu em voz surda. O maldito do pai e o maldito do Mindinho e o fantasma de Renly? – Quero… – o que eu quero? Não podia dizer ao rosado Ballabar para ir lhe buscar Shae. Quem podia mandar buscar, em quem podia confiar? Varys? Bronn? Sor Jacelyn? Meu escudeiro, concluiu. – Pod Payne – era Pod quem estava na ponte de barcos, o rapaz salvou minha vida.
– O garoto? O garoto estranho?
– Garoto estranho. Podrick. Payne. Vá. Traga-o.
– Às suas ordens, senhor – Meistre Ballabar inclinou a cabeça e apressou-se a sair. Tyrion conseguia sentir as forças desaparecendo enquanto esperava. Perguntou a si mesmo quanto tempo teria passado ali, dormindo. Cersei gostaria de me ver dormindo para sempre, mas não serei assim tão prestativo.
Podrick Payne entrou no quarto tão tímido como um rato.
– Senhor? – arrastou-se para perto da cama. Como é possível que um garoto tão ousado em batalha se mostre tão assustado num quarto de doente?, perguntou-se Tyrion. – Pretendia ficar com o senhor, mas o meistre mandou-me embora.
– Mande-o embora. Escute-me. Falar é difícil. Preciso de vinho dos sonhos. Vinho dos sonhos, não leite da papoula. Vá até Frenken. Frenken, não Ballabar. Observe-o fazendo o vinho. Traga-o aqui – Pod lançou um olhar furtivo ao rosto de Tyrion, e no mesmo instante desviou os olhos. Bem, não posso culpá-lo por isso. – Quero – prosseguiu Tyrion – os meus. Guardas. Bronn. Onde está Bronn?
– Fizeram dele um cavaleiro.
Até franzir a testa doía.
– Procure-o. Traga-o aqui.
– Às suas ordens Senhor. Bronn.
Tyrion pegou no pulso do rapaz:
– Sor Mandon?
Podrick estremeceu:
– Eu n-não queria m-m-m-m…