Ficha Técnica
Copyright © George R. R. Martin
Todos os direitos reservados.
Versão brasileira © 2011, Texto Editores Ltda.
Título original: A Clash of Kings
Diretor editorial: Pascoal Soto
Editora: Mariana Rolier
Produção editorial: Sonnini Ruiz
Preparação de texto: André Albert e Suria Scapin
Revisão: Bel Ribeiro, Margô Negro e Vivian Miwa Matsushita
Diagramação: Ricardo Nakamiti
Adaptação de capa: Osmane Garcia Filho
Ilustração da capa: Marc Simonetti © Éditions J’ailu
Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP-Brasil)
Ficha catalográfica elaborada por Oficina Miríade, RJ, Brasil.
M381 Martin, George R. R., 1948-
A fúria dos reis / George R. R. Martin ; tradução: Jorge Candeias. − São Paulo : Leya, 2011.
656 p. : il. – (As crônicas de gelo e fogo ; 2)
Tradução de: A clash of kings.
ISBN 9788580442793
1. Literatura americana. 2. Ficção fantástica americana I. Título. II. Série
11-0087 CDD-813
Todos os direitos desta edição reservados à
texto editores ltda.
[Uma editora do grupo Leya]
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Prólogo
A cauda do cometa espraiava-se pela madrugada, um corte vermelho que sangrava por cima dos penhascos da Pedra do Dragão como uma ferida num céu cor-de-rosa e púrpura.
O meistre estava em pé, na varanda varrida pelo vento, do lado de fora dos seus aposentos. Era ali que chegavam os corvos, depois de longos voos. Os excrementos das aves salpicavam as gárgulas, que se erguiam a uma altura de três metros e meio, de ambos os lados; um mastim do inferno e uma serpe,1 dois dos mil exemplares que se empoleiravam nas muralhas da antiga fortaleza. Quando chegara à Pedra do Dragão, o exército de grotescas esculturas de pedra costumava deixá-lo incomodado, mas, com a passagem dos anos, foi se acostumando. Agora, pensava nelas como em velhas amigas. Os três observaram juntos o céu, tomados por pressentimentos.
O meistre não acreditava em presságios. E, no entanto… Apesar de ser tão velho, Cressen nunca vira um cometa com metade do brilho daquele, nem daquela cor, aquela cor terrível, do sangue, da chama e dos crepúsculos. Perguntou a si mesmo se suas gárgulas já teriam visto algo parecido. Já estavam ali muito tempo antes de ele chegar, e ainda lá permaneceriam muito depois de ele partir. Se línguas de pedra falassem…
E no entanto… No entanto… Agora, o cometa brilhava até durante o dia, enquanto o vapor cinza-claro se erguia da cratera quente do Monte Dragão, atrás do castelo. E na manhã anterior, um corvo branco tinha trazido notícias da própria Cidadela, há muito esperadas, mas não menos temíveis por isso, notícias do fim do verão. Tudo presságios. Demasiados para ser negados.
– Meistre Cressen, temos visitantes – Pylos falou suavemente, como se estivesse relutante em perturbar as meditações solenes de Cressen. Se soubesse dos disparates que lhe enchiam a cabeça, teria gritado. – A princesa deseja ver o corvo branco.
Sempre correto, Pylos a chamava agora
– O bobo veio junto.
O velho virou as costas à alvorada, mantendo uma mão pousada sobre a serpe a fim de se equilibrar.
– Ajude-me a chegar até a cadeira e mande-os entrar.
Tomando seu braço, Pylos o levou para dentro. Na juventude, Cressen caminhara com vigor, mas agora não estava longe do octogésimo dia do seu nome, e tinha as pernas frágeis e instáveis. Há dois anos um tombo lhe causara fratura de um lado da bacia, da qual nunca chegou a ficar curado totalmente. No ano anterior, quando tinha adoecido, a Cidadela enviara Pylos de Vilavelha, apenas dias antes de Lorde Stannis ter fechado a ilha… para ajudá-lo nas suas tarefas, tinham dito, mas Cressen sabia a verdade. Pylos viera para substituí-lo quando morresse. Não se importava. Alguém teria de ocupar seu lugar, e em menos tempo do que teria gostado…
Deixou que o homem mais novo o acomodasse atrás dos seus livros e papéis.
– Vá buscá-la. É feio deixar uma senhora esperando.
O meistre acenou, um frágil gesto de pressa de um homem que já não era capaz de se apressar. Tinha a pele enrugada e manchada, tão fina como papel, de modo que se podia ver a teia de veias e a forma dos ossos por baixo. E agora tremiam, aquelas suas mãos que tempos atrás tinham sido tão seguras e hábeis…