Rangendo os dentes, agarrou as cortinas da cama e as puxou. Estas soltaram-se do dossel e caíram, metade sobre as esteiras e metade sobre ele. Mesmo aquele pequeno esforço o deixou tonto. O quarto rodopiou ao seu redor, todo ele paredes nuas e sombras escuras, com uma única janela estreita. Viu uma arca que lhe pertencia, uma pilha desarrumada de suas roupas, e sua armadura desgastada.
Sonhou com um lugar melhor, uma pequena e aconchegante casa perto do mar do poente. As paredes eram tortas e rachadas e o chão era feito de terra batida, mas ali sentia-se sempre quente, mesmo quando deixavam o fogo da lareira extinguir-se.
Passavam horas beijando-se, e dias inteiros sem fazer mais nada do que ficar refestelados na cama, escutando as ondas, e tocando-se. O corpo dela era para ele uma maravilha, e ela parecia encontrar prazer no dele. E às vezes cantava para ele.
– Amo você, Tyrion – sussurrava antes de irem dormir, à noite. – Amo seus lábios. Amo sua voz, e as palavras que me diz, e o modo gentil como me trata. Amo seu rosto.
–
– Sim. Sim. Amo as suas mãos, e a maneira como me toca. O seu pau, amo seu pau, amo senti-lo dentro de mim.
– Ele também a ama, senhora.
– Adoro dizer seu nome. Tyrion Lannister. Combina com o meu. O Lannister não, a outra parte. Tyrion e Tysha. Tysha e Tyrion. Tyrion. Senhor Tyrion…
– … Senhor, consegue me ouvir? Senhor? Tyrion? Senhor? Senhor?
Através de uma névoa de sono de papoula, viu um rosto liso e cor-de-rosa inclinado sobre ele. Encontrava-se de volta ao quarto úmido com os reposteiros de cama rasgados, e o rosto não estava certo, não era o dela, era redondo demais, rodeado por uma barba castanha.
– Sente sede, senhor? Tenho o seu leite, o seu bom leite. Não deve lutar, não, não tente se mover, precisa de seu descanso – tinha o funil de cobre numa mão úmida e cor-de-rosa e um frasco na outra.
Quando o homem se inclinou para mais perto, os dedos de Tyrion enfiaram-se sob a sua corrente de muitos metais, agarraram-na, e puxaram. O meistre deixou o frasco cair, derramando leite de papoula por toda a manta. Tyrion torceu até ver os elos enterrarem-se na pele do gordo pescoço do homem.
–
– Largue-me, por favor, senhor… precisa do seu leite, a dor… a corrente, não, largue, não…
O rosto cor-de-rosa estava começando a ficar roxo quando Tyrion largou o homem. O meistre recuou, sugando ar. Sua garganta enrubescida ostentava profundas estrias brancas nos locais que os elos tinham pressionado. Os olhos dele também estavam brancos. Tyrion levou uma mão até o rosto e fez um gesto de rasgar sobre a máscara endurecida. E outra vez. E outra.
– O senhor… quer as ataduras tiradas, é isso? – o meistre disse por fim. – Mas eu não devo… isso seria… seria muito insensato, senhor. Ainda não está curado, a rainha ficaria…