Читаем A Fúria dos Reis полностью

Rangendo os dentes, agarrou as cortinas da cama e as puxou. Estas soltaram-se do dossel e caíram, metade sobre as esteiras e metade sobre ele. Mesmo aquele pequeno esforço o deixou tonto. O quarto rodopiou ao seu redor, todo ele paredes nuas e sombras escuras, com uma única janela estreita. Viu uma arca que lhe pertencia, uma pilha desarrumada de suas roupas, e sua armadura desgastada. Este não é o meu quarto, compreendeu. Nem sequer é a Torre da Mão. Alguém o mudara. Seu grito de raiva soou como um gemido abafado. Mudaram-me para cá para morrer, pensou enquanto desistia da luta e voltava a fechar os olhos. O quarto estava úmido e frio, e ele ardia.

Sonhou com um lugar melhor, uma pequena e aconchegante casa perto do mar do poente. As paredes eram tortas e rachadas e o chão era feito de terra batida, mas ali sentia-se sempre quente, mesmo quando deixavam o fogo da lareira extinguir-se. Ela costumava caçoar de mim por causa disso, recordou. Eu nunca me lembrava de alimentar o fogo, isso sempre tinha sido tarefa de um criado. “Não temos criados”, lembrava-me ela, e eu dizia: “Tem a mim, eu sou seu criado”, e ela dizia: “Um criado preguiçoso. O que fazem com os criados preguiçosos em Rochedo Casterly, senhor?”, e eu lhe dizia: “Beijam-nos”. Isso sempre a fazia rir. “Não fazem nada disso. Aposto que os espancam”, ela dizia, mas eu insistia: “Não, beijam-nos, exatamente assim”, e mostrava-lhe como. “Beijam seus dedos primeiro, um a um, e beijam seus pulsos, sim, e na parte de dentro dos cotovelos. Depois beijam suas orelhas engraçadas, todos os nossos criados têm orelhas engraçadas. Pare de rir! E beijam suas bochechas e beijam seus narizes com o altinho que eles têm, aí, assim, assim mesmo, e beijam suas lindas testas e os cabelos e os lábios, e as… mmmm… bocas… assim…”.

Passavam horas beijando-se, e dias inteiros sem fazer mais nada do que ficar refestelados na cama, escutando as ondas, e tocando-se. O corpo dela era para ele uma maravilha, e ela parecia encontrar prazer no dele. E às vezes cantava para ele. Amei uma donzela linda como o verão, com luz do sol nos cabelos.

– Amo você, Tyrion – sussurrava antes de irem dormir, à noite. – Amo seus lábios. Amo sua voz, e as palavras que me diz, e o modo gentil como me trata. Amo seu rosto.

Meu rosto?

– Sim. Sim. Amo as suas mãos, e a maneira como me toca. O seu pau, amo seu pau, amo senti-lo dentro de mim.

– Ele também a ama, senhora.

– Adoro dizer seu nome. Tyrion Lannister. Combina com o meu. O Lannister não, a outra parte. Tyrion e Tysha. Tysha e Tyrion. Tyrion. Senhor Tyrion…

Mentiras, pensou, tudo fingido, tudo por ouro, ela era uma puta, a puta de Jaime, o presente de Jaime, a minha senhora de mentira. O rosto dela pareceu se desvanecer, dissolvendo-se por trás de um véu de lágrimas, mas mesmo depois de ter sumido, ainda conseguia ouvir o tênue e longínquo som de sua voz, chamando seu nome.

– … Senhor, consegue me ouvir? Senhor? Tyrion? Senhor? Senhor?

Através de uma névoa de sono de papoula, viu um rosto liso e cor-de-rosa inclinado sobre ele. Encontrava-se de volta ao quarto úmido com os reposteiros de cama rasgados, e o rosto não estava certo, não era o dela, era redondo demais, rodeado por uma barba castanha.

– Sente sede, senhor? Tenho o seu leite, o seu bom leite. Não deve lutar, não, não tente se mover, precisa de seu descanso – tinha o funil de cobre numa mão úmida e cor-de-rosa e um frasco na outra.

Quando o homem se inclinou para mais perto, os dedos de Tyrion enfiaram-se sob a sua corrente de muitos metais, agarraram-na, e puxaram. O meistre deixou o frasco cair, derramando leite de papoula por toda a manta. Tyrion torceu até ver os elos enterrarem-se na pele do gordo pescoço do homem.

Mais. Não – coaxou, com uma voz tão rouca que nem teve certeza de ter falado. Mas parecia que sim, pois o meistre respondeu com uma voz estrangulada.

– Largue-me, por favor, senhor… precisa do seu leite, a dor… a corrente, não, largue, não…

O rosto cor-de-rosa estava começando a ficar roxo quando Tyrion largou o homem. O meistre recuou, sugando ar. Sua garganta enrubescida ostentava profundas estrias brancas nos locais que os elos tinham pressionado. Os olhos dele também estavam brancos. Tyrion levou uma mão até o rosto e fez um gesto de rasgar sobre a máscara endurecida. E outra vez. E outra.

– O senhor… quer as ataduras tiradas, é isso? – o meistre disse por fim. – Mas eu não devo… isso seria… seria muito insensato, senhor. Ainda não está curado, a rainha ficaria…

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