Читаем A Fúria dos Reis полностью

No bosque sagrado, encontrou a espada de cabo de vassoura onde a deixara e levou-a para junto da árvore-coração. Então, ajoelhou-se. Folhas vermelhas restolharam. Olhos vermelhos espreitaram seu íntimo. Os olhos dos deuses.

– Digam-me o que fazer, deuses – rezou.

Por um longo momento não se ouviu nenhum som além do vento, da água e do ranger de folhas e galhos. E então, de muito, muito longe, para lá do bosque sagrado e das torres assombradas e das imensas muralhas de pedra de Harrenhal, de algum lugar no mundo, veio o longo uivo solitário de um lobo. A pele de Arya arrepiou-se, e por um instante sentiu-se tonta. Então, muito tenuamente, pareceu que ouvia a voz do pai.

– Quando as neves caem e os ventos brancos sopram, o lobo solitário morre, mas a matilha sobrevive – ele disse.

– Mas não há matilha – ela sussurrou ao represeiro. Bran e Rickon estavam mortos, os Lannister tinham Sansa, Jon tinha ido para a Muralha. – Já nem sequer sou eu, sou Nan.

– Você é Arya de Winterfell, filha do Norte. Disse-me que podia ser forte. Tem o sangue do lobo.

– O sangue do lobo – Arya agora lembrava-se. – Serei tão forte como Robb, foi o que disse que seria – inspirou profundamente, depois ergueu o cabo de vassoura com ambas as mãos e abaixou-o contra o joelho. Quebrou-se com um sonoro crac e ela atirou os pedaços fora. Sou um lobo gigante, e acabaram-se os dentes de madeira.

Naquela noite ficou na cama estreita sobre a palha, que lhe dava comichão, escutando as vozes dos vivos e dos mortos que sussurravam e discutiam enquanto esperava que a lua nascesse. Já não confiava em outras vozes. Conseguia ouvir o som de sua respiração, e também os lobos, agora uma grande matilha. Estão mais perto do que aquele que ouvi no bosque sagrado, pensou. Estão chamando por mim.

Por fim, saiu de debaixo da manta, enfiou-se numa túnica e desceu as escadas, devagar e descalça. Roose Bolton era um homem cauteloso, e a entrada da Pira do Rei era guardada dia e noite, por isso teve de se esgueirar por uma estreita janela da cave. O pátio encontrava-se silencioso, e o grande castelo estava perdido em sonhos assombrados. Por cima, o vento entoava hinos fúnebres na Torre dos Lamentos.

Na forja encontrou os fogos apagados e as portas fechadas e trancadas. Entrou por uma janela, como já havia feito uma vez. Gendry dividia um colchão com outros dois aprendizes de ferreiro. Ficou acocorada no sótão durante bastante tempo até que os olhos se ajustassem à escuridão o suficiente para ter certeza de que ele era o da ponta. Então pôs uma mão em sua boca e o beliscou. Os olhos dele se abriram. Não podia ter estado profundamente adormecido.

Por favor – sussurrou. Tirou a mão de sua boca e apontou.

Por um momento não lhe pareceu que ele tivesse entendido, mas depois Gendry saiu de debaixo das mantas. Nu, atravessou a sala em silêncio, enfiou-se numa larga túnica de tecido grosseiro e desceu do sótão atrás dela. Os outros rapazes não se moveram.

– O que você quer agora? – Gendry perguntou numa voz baixa e zangada.

– Uma espada.

– O Polegar Preto mantém todas as lâminas trancadas, já lhe disse mais de cem vezes. É para o Senhor Sanguessuga?

– Para mim. Quebre o cadeado com o martelo.

– Se fizer isso, quebram-me a mão – ele resmungou. – Ou pior.

– Não se fugir comigo.

– Se fugir, eles vão apanhá-la e matá-la.

– Com você farão pior. Lorde Bolton vai dar Harrenhal aos Saltimbancos Sangrentos, foi ele que me disse.

Gendry afastou os cabelos dos olhos.

– E então?

Ela o olhou nos olhos, destemida.

– E então que, quando Vargo Hoat for o senhor, vai cortar os pés de todos os criados para evitar que fujam. Dos ferreiros também.

– Isso é só uma história – ele disse em tom de escárnio.

– Não, é verdade, ouvi Lorde Vargo dizê-lo – Arya mentiu. – Vai cortar um pé de todo mundo. O esquerdo. Vá às cozinhas e acorde Torta Quente, ele fará o que você disser. Vamos precisar de pão, bolinhos de aveia ou qualquer coisa dessas. Arranje as espadas, eu cuido dos cavalos. Encontramo-nos perto da porta falsa na muralha oriental, atrás da Torre dos Fantasmas. Nunca ninguém lá vai.

– Conheço esse portão. Está guardado, como todos os outros.

– E daí? Não se esquece das espadas?

– Não disse que ia.

– Não. Mas se for, não se esquece das espadas?

Ele franziu o cenho:

– Não – respondeu, por fim –, acho que não vou me esquecer.

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