Sozinha, deslizou pela sombra da Torre dos Fantasmas. Caminhou depressa, para se manter à frente de seu medo, e foi como se Syrio Forel caminhasse a seu lado, e também Yoren, Jaqen H’ghar e Jon Snow. Não tinha levado a espada que Gendry lhe trouxera, ainda não. Para aquilo o punhal seria melhor. Era bom e afiado. Aquela pequena porta era o menor dos portões de Harrenhal, uma porta estreita de robusto carvalho, cravejada de tachões de ferro e colocada num ângulo da muralha por baixo de uma torre defensiva. Só um homem estava destacado para guardá-la, mas sabia que também haveria sentinelas na torre, e outras por perto, patrulhando as muralhas. Acontecesse o que acontecesse, tinha de ser silenciosa como uma sombra.
Não fez nenhum esforço para se esconder; em vez disso, aproximou-se do guarda abertamente, como se tivesse sido o próprio Lorde Bolton a enviá-la. O homem a viu chegando, curioso sobre o que poderia trazer um pajem ali naquela hora escura. Quando se aproximou, viu que era um nortenho, muito alto e magro, aconchegado num esfarrapado manto de peles. Isso era ruim. Podia ter sido capaz de enganar um Frey ou um dos Bravos Companheiros, mas os homens do Forte do Pavor tinham servido Roose Bolton a vida inteira e conheciam-no melhor do que ela.
Quando chegou até ele, puxou o manto para trás de modo que ele pudesse ver o homem esfolado em seu peito.
– Lorde Bolton mandou-me aqui.
– A essa hora? Para quê?
Conseguia ver o brilho do aço sob as peles, e não sabia se era suficientemente forte para enfiar a ponta do punhal através da cota de malha.
– Disse-me para dar a todos os seus guardas uma moeda de prata, pelos seus bons serviços – as palavras pareceram sair de parte alguma.
– Prata, você diz? – não acreditava nela, mas
Os dedos de Arya enterraram-se na túnica e saíram agarrando a moeda que Jaqen lhe dera. No escuro, o ferro podia passar por prata sem brilho. Estendeu a mão… e deixou a moeda cair de seus dedos.
Amaldiçoando-a em voz baixa, o homem pôs-se de joelhos para procurar a moeda na terra, tateando, e ali estava seu pescoço, bem à frente dela. Arya puxou o punhal e passou-o por sua garganta, suavemente como a seda do verão. O sangue cobriu suas mãos num jorro quente, e ele tentou gritar, mas também tinha sangue na boca.
–
Quando ele parou de se mexer, pegou a moeda. Fora das muralhas de Harrenhal, um lobo soltou um longo e sonoro uivo. Ela ergueu a tranca, colocou-a de lado, e abriu a pesada porta de carvalho. Quando Torta Quente e Gendry chegaram com os cavalos, a chuva estava caindo com força.
–
– O que você achava que eu ia fazer? – tinha os dedos pegajosos de sangue, e o cheiro estava deixando a égua espantadiça.
Sansa
A sala do trono era um mar de joias, peles e tecidos brilhantes. Senhores e senhoras enchiam o fundo da sala e aglomeravam-se por baixo das grandes janelas, empurrando-se como vendedores de peixe numa doca.
Aqueles que habitavam a corte de Joffrey tinham procurado superar uns aos outros naquele dia. Jalabhar Xho estava coberto de penas; uma plumagem tão fantástica e extravagante que parecia prestes a levantar voo. A coroa de cristal do Alto Septão disparava arcos-íris pelo ar a cada movimento de sua cabeça. À mesa do conselho, a Rainha Cersei cintilava num vestido de fios de ouro, com cortes de veludo bordô, enquanto, ao seu lado, Varys se agitava e sorria afetadamente dentro de brocado lilás. O Rapaz Lua e Sor Dontos usavam novos trajes multicolores, limpos como uma manhã de primavera. Até a Senhora Tanda e as filhas pareciam bonitas em vestidos de seda que combinavam turquesa e penas, e Lorde Gyles tossia para dentro de um quadrado de seda escarlate debruado de renda dourada. Rei Joffrey sentava-se acima de todos eles, entre as lâminas e farpas do Trono de Ferro. Vestia samito carmim, com o manto negro incrustado de rubis, e, na cabeça, trazia sua pesada coroa de ouro.