– E quem lhe dirá tal coisa? – Roose Bolton sorriu. – É ótimo ter tantos irmãos valentes nestes tempos conturbados. Refletirei sobre tudo o que disseram.
Seu sorriso era uma despedida. Os Frey fizeram suas cortesias e saíram, arrastando os pés, deixando apenas Qyburn, Walton Pernas-d’Aço e Arya. Lorde Bolton a chamou.
– Já sangrei o suficiente. Nan, pode remover as sanguessugas.
– Imediatamente, senhor – era melhor nunca obrigar Roose Bolton a pedir duas vezes. Arya queria lhe perguntar o que Sor Hosteen quisera dizer a respeito de Winterfell, mas não se atrevia.
– Há uma carta da senhora sua esposa – Qyburn tirou um rolo de pergaminho da manga. Embora usasse vestes de meistre, não havia corrente em volta de seu pescoço; segredava-se que a teria perdido por envolver-se com necromancia.
– Pode lê-la – Bolton respondeu.
A Senhora Walda escrevia das Gêmeas quase todos os dias, mas as cartas eram sempre iguais: “Rezo por você de manhã, à tarde e à noite, meu querido senhor... e conto os dias até que volte a dividir a minha cama. Regresse para mim em breve, e darei muitos filhos legítimos para tomar o lugar de seu querido Domeric e governar o Forte do Pavor depois do senhor”. Arya imaginava um bebê cor-de-rosa e rechonchudo num berço, coberto de sanguessugas rosadas e rechonchudas.
Levou a Lorde Bolton um pano úmido para limpar seu corpo mole e sem pelos.
– Enviarei uma carta – disse ele ao homem que antes fora meistre.
– À Senhora Walda?
– A Sor Helman Tallhart.
Um mensageiro de Sor Helman chegara havia dois dias. Os homens de Tallhart tinham tomado o castelo dos Darry, aceitando a rendição de sua guarnição Lannister após um breve cerco.
– Diga-lhe para passar a espada nos cativos e as tochas no castelo, por ordem do rei. Depois deverá juntar forças com Robett Glover e avançar para leste em direção a Valdocaso. As terras lá são ricas, e quase não foram tocadas pela guerra. É tempo de saborearem um pouco dela. Glover perdeu um castelo, e Tallhart, um filho. Que levem a sua vingança até Valdocaso.
– Prepararei a mensagem para o seu selo, senhor.
Arya ficou contente por ouvir dizer que o castelo dos Darry seria incendiado. Foi para lá que a tinham levado quando a apanharam após sua luta com Joffrey, e foi lá que a rainha obrigara o pai a matar o lobo de Sansa.
– Hoje irei à caça – anunciou Roose Bolton enquanto Qyburn o ajudava a vestir um justilho acolchoado.
– Será seguro, senhor? – Qyburn perguntou. – Há apenas três dias, os homens do Septão Utt foram atacados por lobos. Entraram bem no acampamento, a menos de cinco metros da fogueira, e mataram dois cavalos.
– São lobos que pretendo caçar. Quase não consigo dormir à noite com os uivos – Bolton afivelou o cinto, ajustando a posição da espada e do punhal. – Dizem que antigamente os lobos gigantes vagueavam pelo norte em grandes matilhas de cem ou mais animais, e não temiam nem homens nem mamutes, mas isso foi há muito tempo e em outras terras. É estranho ver os lobos comuns do sul tão ousados.
– Tempos terríveis geram coisas terríveis, senhor.
Bolton mostrou os dentes em algo que poderia ter sido um sorriso.
– Serão estes tempos tão terríveis assim, meistre?
– O verão acabou, e há quatro reis no reino.
– Um rei pode ser terrível, mas quatro? – encolheu os ombros. – Nan, meu manto de peles – Arya trouxe-lhe. – Meus aposentos estarão limpos e arrumados quando voltar – disse a ela enquanto o prendia. – E trate da carta da Senhora Walda.
– Será como diz, senhor.