O lorde e o meistre saíram do quarto sem sequer lhe dar uma olhada por cima do ombro. Depois de saírem, Arya pegou a carta e a levou para a lareira, mexendo as toras com um atiçador, para voltar a despertar as chamas. Observou o pergaminho torcer-se, enegrecer e incendiar-se.
Passou as horas seguintes cuidando dos aposentos do senhor. Varreu para fora as antigas esteiras e espalhou pelo chão novas e bem cheirosas, acendeu um novo fogo na lareira, trocou os lençóis e amaciou o colchão de penas, esvaziou os penicos pelo alçapão da latrina e esfregou-os, levou uma braçada de roupa suja às lavadeiras e trouxe da cozinha uma tigela de peras frescas de Outono. Quando acabou de limpar o quarto de dormir, desceu meio lance de escadas para fazer o mesmo com o grande aposento privado, uma frugal sala cheia de correntes de ar, tão grande quanto os salões de muitos dos castelos menores. As velas estavam reduzidas a tocos, então Arya as substituiu. Sob as janelas havia uma enorme mesa de carvalho onde o senhor escrevia suas cartas. Arrumou os livros, e ordenou as penas, tintas e cera para os selos.
Uma grande e esfarrapada pele de ovelha estava atirada sobre os papéis. Arya tinha começado a enrolá-la quando as cores chamaram sua atenção: o azul de lagos e rios, os pontos vermelhos onde se encontravam castelos e cidades, o verde dos bosques. Em vez de enrolá-la, abriu-a. AS TERRAS DO TRIDENTE, dizia a ornamentada inscrição por baixo do mapa. O desenho mostrava tudo, desde o Gargalo à Torrente da Água Negra.
A tarde ainda ia curta quando terminou, e Arya dirigiu-se ao bosque sagrado. Seus deveres eram mais leves como copeira de Lorde Bolton do que tinham sido com Weese ou até com Olho Vermelho, embora exigissem que se vestisse como um pajem e lavasse mais do que gostaria. Os caçadores ainda levariam horas para retornar, então, tinha um pouco de tempo para seu trabalho com a Agulha.
Golpeou folhas de bétula até que a ponta lascada do pau de vassoura quebrado ficou verde e pegajosa.
– Sor Gregor – murmurava. – Dunsen, Polliver, Raff, o Querido – rodopiou, saltou e se equilibrou nas pontas dos pés, precipitando-se para cá e para lá, fazendo voar pinhas. – Cócegas – proferiu de uma vez –, Cão de Caça – disse da vez seguinte. – Sor Ilyn, Sor Meryn, Rainha Cersei – o tronco de um carvalho ergueu-se na sua frente, e ela atirou-lhe estocadas, atingindo-o com a ponta, rosnando: – Joffrey, Joffrey, Joffrey – tinha os braços e as pernas salpicados pela luz do sol e pelas sombras das folhas. Uma película de suor cobria sua pele quando finalmente fez uma pausa. O calcanhar do pé direito estava ensanguentado onde o esfolara, por isso apoiou-se num pé só em frente à árvore-coração e ergueu a espada numa saudação. –
Enquanto Arya atravessava o pátio até a casa de banhos, viu um corvo que descia aos círculos para a colônia, e perguntou-se de onde ele tinha vindo e que mensagem transportava.