Читаем A Fúria dos Reis полностью

Conseguia ver o cometa que pairava sobre o Salão dos Guardas, a Torre do Sino e a Primeira Fortaleza, que ficava mais além, atarracada e redonda, com as gárgulas transformadas em silhuetas negras contra o crepúsculo purpúreo ferido. Bran conhecera cada pedra daqueles edifícios, por dentro e por fora; escalara todos, correndo parede acima com a mesma facilidade com que outros rapazes corriam escada abaixo. Aqueles telhados tinham sido seus esconderijos, e os corvos que viviam no topo da torre em ruínas, seus amigos especiais.

E então caíra.

Bran não se lembrava de ter caído, mas diziam que sim, então supunha que fosse verdade. Quase morrera. Quando viu as gárgulas desgastadas pelas intempéries no topo da Primeira Fortaleza, onde tudo tinha acontecido, sentiu um estranho aperto na barriga. E agora não podia escalar, nem caminhar, nem correr, nem lutar com uma espada, e os sonhos de cavalaria que sonhara tinham se azedado na sua cabeça.

Verão tinha uivado no dia em que Bran caiu, e durante muito tempo depois, enquanto ele jazia inconsciente na cama; Robb tinha lhe contado antes de partir para a guerra. Verão velou por ele, e Cão Felpudo e Vento Cinzento tinham se juntado na dor. E na noite em que o corvo ensanguentado trouxe a notícia da morte do pai, os lobos também souberam. Bran estava no torreão do meistre com Rickon, conversando sobre os filhos da floresta, quando Verão e Cão Felpudo abafaram a voz de Luwin com seus uivos.

Por quem eles estão de luto agora? Teria algum inimigo matado o Rei do Norte, que antes havia sido seu irmão Robb? Teria o irmão bastardo Jon caído da Muralha? Teria a mãe, ou uma das suas irmãs, morrido? Ou teria sido outra coisa, como pareciam pensar o meistre, o septão e a Velha Ama?

Se eu fosse mesmo um lobo gigante, compreenderia a canção, Bran pensou com melancolia. Nos seus sonhos de lobo, conseguia correr pelas vertentes de montanhas, recortadas cobertas de neve, mais altas do que qualquer torre, e erguer-se no cume, sob a lua cheia, com todo o mundo a seus pés, como costumava acontecer.

Uuuuu – gritou Bran experimentalmente. Pôs as mãos em torno da boca e ergueu a cabeça para o cometa. – Uuuuuuuuuuuuuuuu, ahuuuuuuuuuuuuu – uivou. Soava estúpido, agudo, vazio e inseguro, o uivo de um garotinho, não de um lobo. Mas Verão respondeu, com sua profunda voz sobrepondo-se ao timbre fino de Bran, e Cão Felpudo juntou-se ao coro. Bran voltou a soltar um ahuuuu. Uivaram juntos, os últimos da matilha.

O barulho trouxe um guarda à sua porta, Hayhead, com seu quisto no nariz. Espreitou para dentro, viu Bran uivando na janela e disse:

– O que é isso, meu príncipe?

Bran sentia-se estranho quando o chamavam de príncipe, embora ele fosse herdeiro de Robb, e Robb fosse agora Rei do Norte. Virou a cabeça para uivar ao guarda.

Uuuuuuu. Uu-uu-uuuuuuuuuuuu.

Hayhead contraiu o cenho.

– Pare já com isso.

Uuu-uuu-uuuuuu. Uuu-uuu-uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.

O guarda retirou-se. Quando voltou, trazia consigo Meistre Luwin, todo de cinza, com a corrente apertada em volta do pescoço.

– Bran, aqueles animais já fazem barulho suficiente sem a sua ajuda – atravessou a sala e pôs a mão na testa do rapaz. – Está ficando tarde, devia estar dormindo.

– Estou falando com os lobos – Bran afastou a mão.

– Devo mandar que Hayhead leve você para a cama?

– Consigo ir para a cama sozinho – Mikken tinha pregado uma fileira de barras de ferro na parede, para que Bran fosse capaz de se deslocar pelo quarto apoiando-se nos braços. Era lento e duro, e fazia seus ombros doer, mas detestava ser transportado. – Seja como for, não tenho de dormir se não quiser.

– Todos os homens têm de dormir, Bran. Até os príncipes.

– Quando durmo, me transformo num lobo – Bran afastou o rosto e devolveu o olhar à noite. – Os lobos sonham?

– Todas as criaturas sonham, penso eu, mas não como os homens.

– Os homens mortos sonham? – o menino quis saber, pensando no pai, cujo retrato um pedreiro esculpia, em granito, nas criptas escuras por baixo de Winterfell.

– Alguns dizem que sim, outros que não – respondeu o meistre. – Os próprios mortos não se manifestam sobre o assunto.

– As árvores sonham?

– As árvores? Não…

– Sonham – Bran o corrigiu com uma certeza súbita. – Sonham sonhos de árvore. Eu sonho às vezes com uma árvore. Um represeiro, como aquele que há no bosque sagrado. Ele me chama. Os sonhos de lobo são melhores. Farejo coisas, e às vezes consigo sentir o gosto de sangue.

Meistre Luwin puxou a corrente que incomodava seu pescoço.

– Se ao menos passasse mais tempo com as outras crianças…

– Detesto as outras crianças – Bran retrucou, referindo-se aos Walder. – Exigi que você as mandasse embora.

Luwin mostrou-se severo.

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