E então caíra.
Bran não se lembrava de ter caído, mas diziam que sim, então supunha que fosse verdade. Quase morrera. Quando viu as gárgulas desgastadas pelas intempéries no topo da Primeira Fortaleza, onde tudo tinha acontecido, sentiu um estranho aperto na barriga. E agora não podia escalar, nem caminhar, nem correr, nem lutar com uma espada, e os sonhos de cavalaria que sonhara tinham se azedado na sua cabeça.
Verão tinha uivado no dia em que Bran caiu, e durante muito tempo depois, enquanto ele jazia inconsciente na cama; Robb tinha lhe contado antes de partir para a guerra. Verão velou por ele, e Cão Felpudo e Vento Cinzento tinham se juntado na dor. E na noite em que o corvo ensanguentado trouxe a notícia da morte do pai, os lobos também souberam. Bran estava no torreão do meistre com Rickon, conversando sobre os filhos da floresta, quando Verão e Cão Felpudo abafaram a voz de Luwin com seus uivos.
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O barulho trouxe um guarda à sua porta, Hayhead, com seu quisto no nariz. Espreitou para dentro, viu Bran uivando na janela e disse:
– O que é isso, meu príncipe?
Bran sentia-se estranho quando o chamavam de príncipe, embora ele
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Hayhead contraiu o cenho.
– Pare já com isso.
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O guarda retirou-se. Quando voltou, trazia consigo Meistre Luwin, todo de cinza, com a corrente apertada em volta do pescoço.
– Bran, aqueles animais já fazem barulho suficiente sem a sua ajuda – atravessou a sala e pôs a mão na testa do rapaz. – Está ficando tarde, devia estar dormindo.
– Estou falando com os lobos – Bran afastou a mão.
– Devo mandar que Hayhead leve você para a cama?
– Consigo ir para a cama sozinho – Mikken tinha pregado uma fileira de barras de ferro na parede, para que Bran fosse capaz de se deslocar pelo quarto apoiando-se nos braços. Era lento e duro, e fazia seus ombros doer, mas detestava ser transportado. – Seja como for, não tenho de dormir se não quiser.
– Todos os homens têm de dormir, Bran. Até os príncipes.
– Quando durmo, me transformo num lobo – Bran afastou o rosto e devolveu o olhar à noite. – Os lobos sonham?
– Todas as criaturas sonham, penso eu, mas não como os homens.
– Os homens mortos sonham? – o menino quis saber, pensando no pai, cujo retrato um pedreiro esculpia, em granito, nas criptas escuras por baixo de Winterfell.
– Alguns dizem que sim, outros que não – respondeu o meistre. – Os próprios mortos não se manifestam sobre o assunto.
– As árvores sonham?
– As árvores? Não…
– Sonham – Bran o corrigiu com uma certeza súbita. – Sonham sonhos de árvore. Eu sonho às vezes com uma árvore. Um represeiro, como aquele que há no bosque sagrado. Ele me chama. Os sonhos de lobo são melhores. Farejo coisas, e às vezes consigo sentir o gosto de sangue.
Meistre Luwin puxou a corrente que incomodava seu pescoço.
– Se ao menos passasse mais tempo com as outras crianças…
– Detesto as outras crianças – Bran retrucou, referindo-se aos Walder. – Exigi que você as mandasse embora.
Luwin mostrou-se severo.