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O único que me havia aceitado, e convencido a tribo de que eu podia tornar a fazer parte daquele mundo. O único com autoridade moral suficiente para evitar que eu fosse expulsa.

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E, infelizmente, o único que não iria jamais conhecer a minha filha. Chorei por ele, enquanto ela permanecia imóvel na minha cama, ela que devia estar acostumada com todo o conforto do mundo. Milhares de perguntas voltaram — quem eram seus pais adotivos, onde vivia, se tinha feito a universidade, se amava alguém, quais os seus planos. Entretanto não tinha sido eu quem correra o mundo atrás dela, mas o contrário; portanto, eu não estava ali para fazer perguntas, e sim para respondê-las.

Ela abriu os olhos. Pensei em tocar seu cabelo, dar-lhe o carinho que havia guardado durante todos estes anos, mas fiquei sem saber sua reação, e achei melhor controlar-me.

— Você veio até aqui para saber o motivo...

— Não. Não quero saber por que uma mãe abandona sua filha; não existe motivo para isso.

Suas palavras cortam meu coração, mas eu não sei como responder.

— Quem sou eu? Que sangue corre em minhas veias?

Ontem, depois que soube que podia encontrá-la, experimentei um estado completo de terror. Por onde começo? Você, como todas as ciganas, deve saber ler o futuro nas cartas, não é verdade?

— Não é verdade. Só fazemos isso com os gaje, os estrangeiros, como meio de ganhar a vida. Jamais lemos cartas, mãos, ou tentamos prever o futuro quando estamos com nossa tribo.

E você...

— ...sou parte da tribo. Mesmo que a mulher que me trouxe ao mundo tenha me enviado para longe.

— Sim.

— Então, o que estou fazendo aqui? Já vi seu rosto, posso voltar para Londres, minhas férias estão no final.

— Quer saber sobre seu pai?

— Não tenho o menor interesse.

E de repente eu entendi em que podia ajudá-la. Foi como se uma voz alheia saísse de minha boca:

— Entenda melhor o sangue que corre nas minhas veias, e no seu coração.

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Era o meu mestre que falava através de mim. Ela voltou a fechar os olhos, e dormiu quase doze horas seguidas.

No dia seguinte eu a conduzi aos arredores de Sibiu, onde tinham feito um museu com casas de toda a região. Pela primeira vez tivera o prazer de preparar seu café-da-manhã.

Estava mais descansada, menos tensa, e me perguntava coisas sobre a cultura cigana, embora jamais procurasse saber sobre mim.

Comentou também um pouco de sua vida; soube que era avó! Não falou do marido nem dos pais adotivos. Disse que vendia terrenos em um lugar muito distante dali, e que em breve deveria retornar ao seu trabalho.

Expliquei que podia ensiná-la a fazer amuletos para prevenir o mal, e não demonstrou nenhum interesse. Mas, quando falei de ervas que curavam, ela pediu que lhe mostrasse como reconhecê-las. No jardim por onde passeávamos procurei passar todo o conhecimento que possuía, embora tivesse certeza que ia esquecer tudo assim que retornasse a sua terra natal — que agora eu já sabia ser Londres.

— Não possuímos a terra: é ela que nos possui. Como antigamente viajávamos sem parar, tudo que nos cercava era nosso: as plantas, a água, as paisagens pelas quais nossas caravanas passavam. Nossas leis eram as leis da natureza: os mais fortes sobrevivem, e nós, os fracos, os eternos exilados, aprendemos a esconder nossa força, para usá-la somente no momento necessário.

“Acreditamos que Deus não fez o universo; Deus é o universo, nós estamos Nele, e ele está em nós. Embora...”

Parei. Mas decidi continuar, porque esta era uma maneira de homenagear meu protetor.

— ... na minha opinião, devíamos chamá-lo de Deusa. De Mãe. Não da mulher que abandona sua filha em um orfanato, mas Daquela que está em nós, e que nos protege quando estamos em perigo. Estará sempre conosco enquanto fizermos nossas tarefas diárias com amor, alegria, entendendo que nada é sofrimento, tudo é uma maneira de louvar a Criação.

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Athena — agora eu já sabia seu nome — desviou o olhar para uma das casas que estavam no jardim.

— O que é aquilo? Uma igreja?

As horas que havia passado ao seu lado tinham me permitido recobrar as forças; perguntei se queria mudar de assunto. Ela refletiu um momento, antes de responder.

— Quero continuar escutando o que tem para me dizer.

Embora, pelo que entendi em tudo que li antes de vir para cá, isso que você me diz não combina com a tradição dos ciganos.

— Foi meu protetor quem me ensinou. Porque sabia coisas que os ciganos não sabem, obrigou a tribo a me aceitar de novo em seu meio. E, à medida que aprendia com ele, ia me dando conta do poder da Mãe — logo eu, que tinha recusado esta bênção.

Agarrei um pequeno arbusto com as mãos.

— Se algum dia o seu filho estiver com febre, coloque-o junto de uma planta jovem, e sacuda suas folhas: a febre será passada para a planta. Caso sinta-se angustiada, faça a mesma coisa.

— Prefiro que continue me contando sobre seu protetor.

— Ele me dizia que no início a Criação era

profundamente solitária. Então gerou alguém com quem conversar.

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