Talvez eu possa cobrar algo pela informação. E, no futuro, nossa tribo consiga alguns favores, porque vivemos tempos confusos, onde todos dizem que o Gênio dos Cárpatos está morto, chegam a mostrar cenas de sua execução, mas ele pode ressurgir amanhã, tudo não passou de um excelente golpe para ver quem estava do seu lado, e quem estava disposto a traí-lo.
Os músicos vão começar daqui a pouco, melhor falar de negócios.
— Sei onde esta mulher se encontra. E posso levá-la até ela.
O meu tom de conversa agora está mais simpático.
— Entretanto, acho que esta informação vale alguma coisa.
— Eu já estava preparada para isso — responde, estendendo muito mais dinheiro do que eu pensava pedir.
— Isso não dá nem para pagar o táxi até lá.
— Terá uma quantidade igual, quando eu tiver chegado ao meu destino.
E sinto que, pela primeira vez, ela vacila. Parece que tem medo de seguir adiante. Pego logo o dinheiro que depositou no balcão.
— Amanhã eu a levo até Liliana.
As mãos dela tremem. Ela pede outro uísque, mas de repente um homem entra no bar, muda de cor, e vem imediatamente em sua direção; entendo que devem ter se conhecido ontem e hoje já estão conversando como se fossem velhos amigos. Os seus olhos a desejam. Ela está plenamente consciente disso, e provoca ainda mais. O homem pede uma garrafa de vinho, os dois sentam-se em uma mesa, e parece que a história da mãe foi completamente esquecida.
Mas eu quero a outra metade do dinheiro. Quando vou entregar a bebida, pergunto em que hotel está hospedada, e digo que estarei ali às 10 horas da manhã.
Heron Ryan, jornalista
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Logo na primeira taça de vinho, comentou — sem que eu perguntasse nada, claro — que tinha um namorado, policial da Scotland Yard. Claro que era mentira; devia ter lido meus olhos, e já estava procurando me afastar.
Respondi que tinha uma namorada, e fomos para o empate técnico.
Dez minutos depois da música ter começado, ela levantou-se. Tínhamos conversado muito pouco — nada de perguntas sobre minhas pesquisas sobre vampiros, apenas assuntos gerais, impressões sobre a cidade, reclamações sobre as estradas. Mas o que eu vi dali por diante — melhor dizendo, o que todo mundo no restaurante viu — foi uma deusa que se mostrava em toda a sua glória, uma sacerdotisa que evocava anjos e demônios.
Seus olhos estavam fechados, e ela parecia já não ter mais consciência de quem era, de onde estava, do que procurava do mundo; era como se flutuasse invocando o seu passado, revelando seu presente, descobrindo e profetizando o futuro. Misturava erotismo e castidade, pornografia e revelação, adoração de Deus e da natureza ao mesmo tempo.
As pessoas todas pararam de comer, e começaram a olhar o que estava acontecendo. Ela já não seguia a música, eram os músicos que procuravam acompanhar seus passos, e aquele restaurante no subsolo de um antigo edifício na cidade de Sibiu transformou-se em um templo egípcio, onde as adoradoras de Ísis costumavam reunir-se para seus ritos de fertilidade. O odor da carne assada e do vinho mudou para um incenso que nos elevava ao mesmo transe, à mesma experiência de sair do mundo e entrar em uma dimensão desconhecida.
Os instrumentos de corda e de sopro já não tocavam mais, apenas a percussão continuou. Athena dançava como se não estivesse mais ali, o suor pingando do rosto, os pés descalços batendo com força no chão de madeira. Uma mulher levantou-se e, gentilmente, amarrou um lenço em seu pescoço e seus seios, já que sua blusa ameaçava toda hora escorregar do ombro. Mas ela pareceu não notar, estava em outras esferas, experimentava as fronteiras 241
de mundos que quase tocam no nosso, mas que nunca se deixam revelar.
As pessoas no restaurante começaram a bater palmas para acompanhar a música, e Athena dançava com mais velocidade, captando a energia daquelas palmas, girando em torno de si mesma, equilibrando-se no vazio, arrebatando tudo que nós, pobres mortais, devíamos oferecer à divindade suprema.
E, de repente, parou. Todos pararam, inclusive os músicos que tocavam a percussão. Seus olhos ainda continuavam fechados, mas lágrimas rolavam pelo rosto. Levantou os braços para os céus, e gritou:
— Quando eu morrer, enterrem-me de pé, porque vivi de joelhos toda a minha vida!
Ninguém disse nada. Ela abriu os olhos como se despertasse de um sono profundo, e caminhou para a mesa, como se nada tivesse acontecido. A orquestra voltou a tocar, casais ocuparam a pista tentando divertir-se, mas o ambiente do local parecia ter sido transformado por completo; logo as pessoas pagaram suas contas e começaram a sair do restaurante.
— Está tudo bem? — perguntei, quando vi que já estava recuperada do esforço físico.
— Tenho medo. Descobri como chegar onde não queria.
— Quer que a acompanhe?
Ela fez que “não” com a cabeça. Mas perguntou em que hotel eu estava. Dei-lhe o endereço.