Agarro no cartão com as pontas do indicador e do polegar, relutante em tocar-lhe após ter estado na bolsa mistério da Marybeth.
– Sim. Talvez.
– Bem... – sorri-me alegremente. – Foi bom vê-la, Wendy.
Começa a dirigir-se ao porteiro, mas, antes que o possa fazer, chamo o seu nome.
– Marybeth?
Ela vira-se, o mesmo sorriso simpático plasmado nas feições.
– Sim?
– Preferia que me tratasse por senhora Garrick – digo-lhe. – Não somos amigas, afinal. Sou a mulher do seu chefe.
A Marybeth esforça-se por manter o sorriso nos lábios.
– Com certeza. Peço imensa desculpa, senhora Garrick. Pergunto-me se estarei a ser má. Mas não casei com um dos homens mais ricos da cidade para ser tratada por Wendy pela sua rececionista.
53
Só para provar que não sou a mulher mais horrível no planeta, decido comprar uma ou duas peças de mobiliário ao Russell Simonds. Bem podemos atirar-lhes um pouco do nosso dinheiro. E, se forem realmente demasiado foleiras para ter em casa – como suspeito que serão posso sempre doá-las.
Não é de admirar que a loja de mobiliário seja compacta. Esperava sofás rígidos e quadrados, mas, ao entrar, deparo ao invés com uma bonita cómoda. Paro por um instante a admirar a deslumbrante cómoda de carvalho, que foi cuidadosamente areada e tingida, encontrando-se guarnecida por um belo espelho ornamentado. Passo o dedo por uma das três gavetas entalhadas, cada uma com uma pequena fechadura.
É exatamente o que procurava. Preciso disto para a minha casa.
– É uma bela peça, não é?
Viro a cabeça para identificar o proprietário da voz rica e profunda atrás de mim. Por uma fração de segundo, quase julgo estar a olhar para o meu marido. Mas não, este homem não é, decididamente, o Douglas Garrick. Tem mais ou menos a mesma altura, uma constituição similar – ou a constituição que o Douglas poderia ter se fosse ao ginásio de vez em quando – e o seu cabelo é sensivelmente da mesma cor, embora impecavelmente aparado. Apesar de trabalhar numa loja de mobiliário, veste uma imaculada camisa branca com uma gravata habilmente apertada. Este homem parece aquele em que eu esperava transformar o Douglas quando o conheci naquela exposição de arte moderna. É o Douglas 2.0, enquanto o meu marido mal chega a ser a versão beta.
– É uma peça antiga – diz-me mas restaurei-a pessoalmente.
– Fez um trabalho incrível – murmuro. – Adoro-a.
Ele sorri-me e os meus joelhos tremem ligeiramente.
– Ora, isso não é maneira de regatear.
– Não tenho o menor interesse em regatear – respondo. – Quando quero algo, faço o que for preciso para o obter.
Surge-lhe um lampejo de diversão no olhar ante o meu comentário.
– Sou o Russell. – Estende-me a mão e, ao tomá-la, sinto um delicioso formigueiro subir-me pelo braço. – Esta é a minha loja, e adoraria vender-lhe esta cómoda hoje. Aposto que ficaria lindamente no seu apartamento.
Russell Simonds. Deve ser o marido da Marybeth. De alguma forma, esperava um homem barrigudo e com uma grande calva no topo do cabelo grisalho. Não este homem.
– Sou a Wendy Garrick – digo-lhe. – A sua mulher, a Marybeth, trabalha para o meu marido. Foi ela quem sugeriu que viesse cá.
O sorriso divertido demora-se nos seus lábios.
– Ainda bem que o fez.
Acabo por comprar cerca de metade da loja antes de terminar. De cada vez que o Russell me fala noutra peça restaurada de mobiliário antigo, tenho simplesmente de a ter. E então, quando lhe estou a entregar o meu cartão de crédito com o limite chocantemente elevado, puxa de um cartão de visita, impecavelmente branco e limpo, e rabisca nove dígitos na parte de trás.
– Qualquer problema com a mobília – diz-me –, é só avisar.
Guardo o cartão na minha bolsa.
– Assim farei.
E enquanto o Russell regista as minhas compras, não posso deixar de pensar que há mais uma coisa na loja que gostaria de levar comigo para casa. E quando eu quero algo, faço o que for preciso para o obter.
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Passo 5: Tentar Encontrar a Felicidade Noutro Lugar
Seis meses antes
É possível que me esteja a apaixonar.
Tentei apaixonar-me pelo Douglas. Tentei mesmo. Pensei que me afeiçoaria a ele. Que mudaria – tal como eu mudei ao subir a pulso. O Douglas não faz ideia de quão espantoso poderia ser se se desse ao trabalho de cuidar de si mesmo, fazer uma pequena cirurgia plástica ou arranjar aquele dente torto. (Por amor de Deus, que multimilionário anda por aí de dentes imperfeitos? Pensará que estamos em
Mas o Douglas não tem qualquer interesse em nenhuma dessas coisas. Não tem o menor interesse em ser o homem que eu quero que seja. Só quer ser
Já o Russell, por outro lado...