– Wendy. – Acercando-se de mim, agarra a minha mão. Por um momento, permito-o, sabendo que a irei retirar daqui a poucos segundos. – Não quero desistir de nós. És a minha mulher. E, embora estejamos a ter algumas dificuldades nessa área, quero que sejas a mãe dos meus filhos.
Percebo que é neste momento que tenho de lhe confessar tudo. Tenho de arrancar o penso rápido ou então jamais me livrarei deste homem. E, ao fim de todo este tempo, merece a verdade.
– A realidade – digo – é que não posso ter filhos.
É ele, no fim de contas, o primeiro a retirar a mão.
– 0 que? De que estás a falar?
– Há muitos anos, tive uma infeção que destruiu as minhas trompas de Falópio – conto-lhe. Aconteceu quando tinha vinte e dois anos. Sentia dores horríveis na zona pélvica, e os médicos explicaram-me mais tarde que a infeção era assintomática até que alastrou para as minhas trompas. As dores eram tão fortes que fui submetida a uma intervenção laparoscópica para limpar parte do tecido cicatricial, e foi então que me informaram que jamais seria capaz de conceber um filho de forma natural. Há uma pequena hipótese de poder engravidar por meio das tecnologias reprodutivas, mas até isso é extremamente improvável devido à extensa cicatrização.
Na altura, foi devastador ouvi-lo, e amaldiçoei a minha sorte. Apesar de ter crescido pobre, ainda sonhava encher a minha casa de filhos um dia, tal como os meus pais tinham feito. Chorei durante vinte e quatro horas consecutivas ao saber da notícia.
Com o passar dos anos, porém, descobri que era uma bênção. Vi tantas das minhas amigas amarradas aos filhos, e como a prole de uma pessoa lhe pode secar as contas bancárias. Dei-me conta que era uma sorte não ter filhos. Na realidade, aquela infeção foi a melhor coisa que alguma vez me aconteceu.
O Douglas abana a cabeça.
– Não compreendo. Estás a dizer que, durante todo este tempo, sabias que jamais poderias engravidar?
– Isso mesmo.
Deixa-se cair no sofá confortável, com uma expressão vidrada nos olhos.
– Andamos a tentar há anos. Nunca disseste sequer uma palavra. Não posso acreditar que me mentiste dessa maneira.
Perturbei-o, mas é melhor assim. Como disse, o penso rápido precisava de ser arrancado.
– Sabia que não era o que querias ouvir.
Ergue os olhos para mim, ligeiramente húmidos.
– Bem, e quanto à adoção? Ou...
Oh, Senhor, a última coisa que eu quero é cuidar dos fedelhos de outra pessoa.
– Eu não quero filhos, Douglas. Nunca quis. O que quero é sair deste casamento.
– Mas... – Treme-lhe o maxilar inferior. Ainda tem aquela papada. Em todo o nosso casamento, não fiz quaisquer avanços no sentido de o ajudar a livrar-se dela. Acreditava que era uma obra em curso, mas nunca fiz verdadeiros progressos. – Eu amo-te, Wendy. Não me amas?
-Já não – respondo. É mais amável do que dizer-lhe que nunca o amei. – Já não quero estar contigo. Não te respeito e queremos coisas diferentes. É melhor seguirmos caminhos separados.
Quando tiver os meus dez milhões de dólares, não terei de me voltar a preocupar que cancele o meu estúpido cartão de crédito. Serei independente. O Russell pode deixar a mulher e poderemos fazer o que quisermos.
– Tudo bem. – Com esforço, o Douglas levanta-se. –Queres sair deste casamento? Assim seja. Mas não vais receber nem um cêntimo do meu dinheiro.
Infelizmente, não depende dele. Quer castigar-me, mas conheço os meus direitos.
– O acordo pré-nupcial dá-me dez milhões de dólares. Não pedirei mais do que isso.
– Certo. – A expressão vidrada desapareceu dos seus olhos castanhos, que se tornaram agora incisivos e se focam no meu rosto como um laser. – Recebes dez milhões de dólares se nos divorciarmos. Mas o acordo pré-nupcial diz que, se eu tiver provas de que me traíste, não recebes nada.
Lembro-me do grosso documento que o Joe me entregou antes do casamento. Tinha ponderado levá-lo a um advogado, mas podia ver, preto no branco, que dizia que eu recebia dez milhões em caso de divórcio. Não queria desperdiçar milhares de dólares que não tinha a contratar um advogado.
– Terei todo o gosto em mostrar-te a cláusula onde diz isso. – Um sorriso dança-lhe nos lábios. – Está logo na página cento e setenta e oito. Não sei como te escapou.
Cerro os punhos.
– O Joe enganou-me. Estava sempre tão decidido a fazer-te desconfiar de mim.
– Não, o acordo pré-nupcial foi ideia minha. Tal como a cláusula da infidelidade. – O Douglas desaperta o botão de cima do seu colarinho. – Disse-lhe para agir como se fosse ideia dele para que não te zangasses comigo. Queria que confiasses em mim. Apesar de eu não confiar em ti.
Com fúria crescente, olho para o meu marido.
– Não podes simplesmente pôr lá coisas sem me dizeres. Isso é... é enganar-me.
Arqueia as sobrancelhas.
– Oh, como quando te abstiveste de me contar que jamais poderias engravidar, queres tu dizer?
Sinto um aperto no peito. Torna-se um pouco difícil respirar. O Douglas estava sempre a falar em como o ar é muito melhor aqui, mas eu não o noto.
– Tudo bem. Mas boa sorte a provar que eu te fui infiel.