Agarro na tarte e dou uma dentada. É celestial. Só este bocado deve ter provavelmente umas quinhentas calorias, se tivesse de adivinhar. Não admira que o Douglas tenha uma papada. E não quer saber, porque não é mulher e, além disso, é incrivelmente rico.
– Agora – diz. – Há além uma peça chamada Calças. Quer arriscar um palpite sobre o que vamos ver?
Sorri-me, prendendo-me o olhar, apesar de o meu vestido exibir uma quantidade impressionante de decote. Quando vim aqui com a intenção de seduzir Douglas Garrick, não imaginava este homem.
Isto vai ser muito mais fácil do que eu esperava.
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Passo 2: Dar o Nó com o Homem Podre de Rico
Três anos antes
O Douglas pode ser absolutamente desesperante.
Está a atormentar-me. Finge ser um tipo simpático – e até terra a terra, tendo em conta o seu trabalho e fortuna pessoal mas é sádico. Não há outra explicação para o porquê de se comportar desta maneira.
– O que pensas tu que estás a fazer? – atiro-lhe.
Tem ao menos a graça de parecer embaraçado. Como devia! Já é suficientemente mau o homem sentar-se na nossa sala de estar em cuecas – cuecas! mas supostamente devíamos chegar daqui a
O meu coração não aguenta esta loucura.
– Deu-me fome – diz. Pousa a faca na bancada da cozinha, manchando a superfície de mármore com a pasta castanho-escura.
– Douglas – respondo, com uma paciência cada vez mais escassa. – É suposto sairmos daqui a dez minutos. Nem sequer estás
– Sair para onde?
Está a atormentar-me. Está a fazer isto de propósito. Não posso imaginar que este comportamento não seja intencionai – ninguém pode ser assim tão despistado.
– Para casa da Leland! A festa é esta noite!
– Oh, certo – gemendo, esfrega as têmporas. – Cristo, temos de ir? Odiamos a
Está certo em todos os aspetos, mas isso não quer dizer que possamos faltar a esta festa. Vai lá estar toda a gente. E quero que me vejam a usar o meu novo vestido
– Temos de ir – respondo entredentes. – Não quero ouvir nem mais uma palavra sobre o assunto. Tens de te vestir. Já.
– Mas, Wendy – Douglas agarra-me no braço e puxa-me para si. O seu hálito cheira a avelã. –, vá lá, a festa vai ser uma seca enorme. Vamos antes... sei lá, ver um filme, só os dois? Como costumávamos fazer quando começámos a sair? O novo filme dos Vingadores, talvez?
Algo que não percebi sobre o Douglas até o conhecer foi que é um cromo sem solução. Nem tenta disfarçar. Tudo o que quer é ver filmes de super-heróis e vegetar no sofá com o portátil empoleirado nas pernas, a comer Nutella do frasco. A única razão para ter chegado a diretor-executivo da Coinstock é ser um génio louco que inventou uma tecnologia que acabou por ser usada em todos os bancos do país.
– Vamos a esta festa – digo-lhe, pelo que parece ser a centésima vez. O homem nunca me dá ouvidos, juro. –Agora, vai-te vestir. Mexe-te.
– Está bem, está bem.
Inclina-se numa tentativa de me dar um beijo com Nutella, mas eu tenho um Prada vestido, por isso dou um passo atrás e ergo as mãos para o manter afastado.
– Podes beijar-me depois de mudares de roupa – digo-lhe.
O Douglas volta a guardar o frasco no armário e sai pesadamente da cozinha para a nossa impossivelmente pequena sala de estar. Este apartamento é todo ele uma desgraça. Só temos três quartos, e um deles é o escritório do Douglas, pelo que é como se tivéssemos apenas dois. Assim que nos casarmos, vamos fazer uma melhoria substancial, e também comprar a minha casa de sonho nos subúrbios. Bem, na verdade, é a casa de sonho do Douglas, porque o meu sonho não é certamente viver nos subúrbios.
Sorrio sempre que penso na casa onde vamos viver um dia. Em pequena, o meu pai trabalhava na manutenção e a minha mãe mal ganhava o salário mínimo a trabalhar num infantário. Tínhamos uma casa minúscula, onde eu partilhava o quarto com a minha irmã mais nova, que, até aos oito anos, costumava fazer chichi na cama. Estudei o suficiente na escola para conseguir uma bolsa de estudos para um pretensioso colégio privado, onde todos os outros miúdos gozavam comigo por não me vestir tão bem como eles.