A rapariga introduz os meus dados no computador enquanto eu tamborilo com os dedos no balcão. Durante a espera, não posso deixar de sentir um formigueiro na nuca. Como se alguém me estivesse a observar. Outra vez.
Viro-me para trás. A montra da agência de aluguer de veículos é toda de janelas fixas, do chão ao teto, pelo que facilmente alguém poderia estar a olhar para o interior. Quase espero ver um homem de rosto colado ao vidro, a olhar-me fixamente. Mas não está lá ninguém.
Involuntariamente, estremeço. Segundo a Sra. Randall, Xavier Marin está na prisão. Sem fiança, disse-me – despejou-o. Por que tenho então, ainda, a sensação que alguém me observa? E não é a primeira vez. Já me senti assim pelo menos meia dúzia de vezes desde que Xavier foi preso.
A verdade é que não sei quem me tem andado a observar durante todo este tempo. E se for realmente Douglas Garrick quem me tem andado a seguir pela cidade? Não faz propriamente sentido, pois já sentia esses olhos atrás de mim antes de começar a trabalhar para ele. Mas não posso descartar a possibilidade. Foi ele que eu vi quando estava na esplanada daquele restaurante.
E se Douglas souber exatamente o que andamos a fazer? Se estiver lá fora, à espreitai
– Então, tenho o seu carro – diz a rapariga. – É o
– Não – respondo, impaciente. – Fiz uma reserva para um
– Não sei o que lhe dizer. Aqui diz
– É inacreditável. Fiz uma reserva e nem sequer têm o que eu reservei?
A rapariga encolhe os ombros, impotente. E nem é a primeira vez que isto me acontece. De que adianta fazer uma reserva se não cedem simplesmente o que reservámos?
– Não quero um carro vermelho – digo rigidamente. – E se for um
Abana a cabeça.
– Estamos com poucos ligeiros. Posso alugar-lhe um Honda CR-V cinzento.
Demoro um momento a ponderar se um SUV sobressairia mais do que um ligeiro vermelho. Finalmente, aceito o Hyundai vermelho. Para dizer a verdade, só quero sair daqui. O objetivo desta viagem é tirar Wendy da cidade, mas não creio que fosse assim tão mau sair eu também.
27
Será uma viagem de sensivelmente cinco horas até ao nosso destino, considerando o trânsito. Ou, pelo menos, é isso que o meu GPS diz.
O nosso plano é procurar um motel barato à beira da estrada quando chegarmos perto de Albany. Deixarei lá a Wendy para passar a noite e a Fiona irá buscá-la na manhã seguinte. Trará roupa que chegue para um par de semanas e dinheiro suficiente para durar vários meses. Douglas jamais a encontrará.
Estaciono o meu dolorosamente conspícuo
Enquanto espero no carro que a Wendy se materialize, uma mensagem de texto de Douglas chega ao meu telemóvel:
Passa lá por casa esta noite?
Douglas pediu-me para limpar o apartamento na sua ausência. Aceitei fazê-lo, por isso não me admira que continue a monitorizar e confirmar o meu horário das limpezas, mesmo estando fora da cidade. Faz-me sentir um pouco inquieta, tendo em conta que vai regressar a casa para descobrir que a mulher desapareceu. Mas, no interesse de tentar fingir que as coisas estão o mais normais possível, respondo-lhe:
Lá estarei.
É claro que não estarei. Estarei a transportar a mulher dele para um lugar seguro.
Apesar da minha irritação com a confusão na agência de aluguer de veículos e da longa viagem que tenho pela frente, tenho de sorrir para comigo. Wendy vai finalmente deixar Douglas. Era isto que eu costumava achar tão gratificante. E foi por isto que decidi formar-me em serviço social. O que eu quero é passar a minha vida a ajudar pessoas assim.
Pelo retrovisor, vejo a Wendy descer a rua com duas malas de viagem. Tem o cabelo apanhado atrás num simples rabo de cavalo, traz uns óculos escuros empoleirados no nariz e veste uma confortável camisola com capuz e umas calças de ganga azuis.
Saio do carro para a ajudar a guardar as malas na bagageira. Está absolutamente radiante.
– Tinha-me esquecido de como as calças de ganga são confortáveis – comenta.
– Não usa calças de ganga?
– O Douglas odeia. – Torce o nariz. – Por isso é que não levo mais nada a não ser calças de ganga!
Rio-me enquanto ponho as suas malas na bagageira. Entramos no carro, ligo o GPS e fazemo-nos à estrada. Há já um par de anos que não me sentava a um volante, e sabe bem voltar a conduzir. Claro que conduzir na cidade é super stressante, mas em breve entrarei na autoestrada e aí a viagem será tranquila – pelo menos até chegarmos ao trânsito da hora de ponta.