Os meus ombros relaxam. É do serviço que usei para pôr o meu anúncio para os trabalhos de empregada de limpeza.
– Olá, Lisa.
– Menina Calloway – diz-me a Lisa, na sua voz alegre. –Não obtivemos qualquer resposta aos nossos e-mails, por isso esta é a segunda chamada relativamente ao seu cartão de crédito.
– Ao meu cartão de crédito?
– Sim – responde a Lisa. – O seu American Express foi rejeitado.
Abano a cabeça ante a minha própria estupidez.
– Peço imensa desculpa. Cancelei esse cartão. A minha intenção era utilizar o meu MasterCard. Mas já não preciso do anúncio.
– Bem – diz a Lisa. – Quero só certificar-me de que compreende que o anúncio nunca foi publicado, uma vez que nunca recebemos o pagamento.
Paro de andar em plena Primeira Avenida.
– Espere aí – peço. – O meu anúncio para a função de empregada doméstica nunca foi publicado?
– Temo que não, visto que nunca recebemos o pagamento. Como disse, temos estado a tentar contactá-la...
Mas eu não estou a ouvir. Não sei como é possível que o meu anúncio para o lugar de empregada doméstica nunca tenha aparecido
– Tem a certeza? – pergunto subitamente. – Está a dizer que o meu anúncio nunca esteve de todo
– Nem por um dia – confirma a Lisa.
Penso em quando andava à procura de emprego, há um par de meses. A maioria das entrevistas foram com potenciais empregadores a quem tinha contactado através dos seus próprios anúncios. Na verdade, só uma pessoa me contactou de forma espontânea.
Douglas Garrick.
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Tudo o que sei é que vou chegar ao fundo da questão.
Foi Douglas Garrick a ligar para mim. Lembro-me perfeitamente. Atendi o telefone e disse-me que procurava uma empregada doméstica para fazer as limpezas, tratar da roupa, preparar refeições ligeiras e fazer recados ocasionais. Não referiu o anúncio, ou pelo menos não creio que o tenha feito, mas, na altura, parti simplesmente do princípio que era por isso que me estava a ligar. Afinal, não havia outra razão.
Como obteve o meu número, se não foi devido ao anúncio?
Toda a situação me causa um sentimento de mal-estar. Continuo a ter a sensação que alguém me observa, apesar de Xavier estar alegadamente na prisão. E aquele Mazda preto estava estacionado à porta do prédio onde Douglas entrou com a amante. Douglas tinha o meu número, de alguma forma, apesar de o anúncio nunca ter sido publicado.
Sabia quem eu era.
Fico parada na rua, diante de uma pizaria. O irresistível aroma a molho de tomate, gordura e queijo fundido invade-me as narinas, mas só me faz sentir náuseas. Perscruto a rua à minha frente, à procura de algo suspeito.
Não vejo Douglas. Não vejo Xavier.
Mas está alguém à espreita. Alguém me observa. Tenho a certeza absoluta.
Agarro novamente no meu telemóvel. Tem uma mensagem de Douglas a confirmar se vou passar pelo apartamento esta noite para limpar, apesar de ainda lá ter estado há dois dias e de ter a certeza de que a casa ainda está praticamente imaculada. Normalmente, respondo-lhe por mensagem de texto, mas agora olho fixamente para o ecrã. Antes que possa mudar de ideias, marco o número dele para lhe ligar.
Enquanto a ligação é feita e o aparelho começa a chamar, um telemóvel toca mesmo atrás de mim. Cai-me o coração aos pés.
Viro-me, mas o telemóvel que toca parece pertencer a uma adolescente. Atende a chamada e oiço-a gritar «Oh, meu Deus!» para o aparelho ao passar por mim. Caramba, estou assustadiça.
– Estou? Millie?
É a voz de Douglas do outro lado da linha. Não está meio metro atrás de mim. Onde quer que esteja, parece bastante mais tranquilo do que a rua movimentada onde me encontro.
– Oh, olá.
– Tudo bem? Sempre vai lá a casa esta noite para limpar?
– Sim... – praguejo para comigo por não ter preparado uma história antes de ligar. Estava a ser impulsiva. – Estava só a trabalhar no meu currículo e tinha uma pergunta rápida para si.
– Não nos vai deixar, pois não? – Há um toque de humor na sua voz, mas também algo sombrio a pairar sob a superfície. – Espero certamente que não.
– Não, de modo algum. Queria só arranjar algum trabalho extra e perguntava-me como ouviu falar em mim. Por exemplo, como obteve o meu número?
Pensa por um momento.
– Na verdade, foi a Wendy que me deu o seu número.
– A Wendy? A sua mulher?
– Conhece mais alguma Wendy? – pergunta a rir. – Disse-me que uma amiga lhe tinha dado o seu número e que era muito boa.
– Disse que amiga?
– Não. – A sua voz adquire, então, um matiz ligeiramente defensivo. – Já lhe demos informações suficientes. Por favor, não incomode a Wendy com isto.
– É claro que não – aquiesço. – Muito obrigada pela informação. E certamente que irei ao apartamento esta noite.
Irei ao apartamento esta noite. Mas se pensa que não vou perguntar à Wendy por isto, está redondamente enganado.
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