E levaram o garoto.
– Se as histórias forem verdadeiras, esse não é o primeiro gigante cuja cabeça acabou nas muralhas de Winterfell.
– São só histórias – disse ela, e abandonou-o ali.
De volta ao seu quarto, Sansa despiu o manto e as botas úmidas e sentou-se junto da lareira. Não duvidava de que seria obrigada a responder pelo ataque de Lorde Robert.
Sansa teria acolhido de bom grado o banimento. Os Portões da Lua eram muito maiores do que o Ninho da Águia, e também mais animados. Lorde Nestor Royce parecia rude e severo, mas a filha Myranda governava o castelo em seu nome, e todos eram unânimes em dizer que era brincalhona. Até a suposta bastardia de Sansa poderia não contar muito contra si lá embaixo. Uma das filhas ilegítimas do Rei Robert estava a serviço de Lorde Nestor, e dizia-se que ela e a Senhora Myranda eram grandes amigas, tão próximas quanto irmãs.
Foi ao fim da tarde que a Senhora Lysa mandou chamá-la. Sansa tinha passado o dia todo reunindo coragem, mas assim que Marillion surgiu à sua porta, todas as suas dúvidas regressaram.
– A Senhora Lysa requer a sua presença no Alto Salão. – Os olhos do cantor despiam-na enquanto falava, mas Sansa já tinha se habituado a isso.
Marillion era bonito, não havia como negar; jovial e esguio, com pele lisa, cabelos cor de areia, um sorriso encantador. Mas tornara-se bastante odiado no Vale, por todos exceto a tia e o pequeno Lorde Robert. Pelo que diziam as conversas dos criados, Sansa não era a primeira donzela a sofrer o seu assédio, e as outras não tinham tido Lothor Brune para defendê-las. Mas a Senhora Lysa não queria ouvir queixas contra ele. Desde que tinha chegado ao Ninho da Águia, o cantor tornou-se seu favorito. Cantava até que Lorde Robert adormecesse todas as noites, e torcia o nariz aos pretendentes da Senhora Lysa com versos que caçoavam de seus pontos fracos. A tia fez chover sobre ele ouro e presentes; roupas caras, um bracelete de ouro, um cinto incrustado de pedras de lua, um bom cavalo. Até lhe dera o falcão preferido do falecido marido. Tudo aquilo servia para tornar Marillion impecavelmente cortês na presença da Senhora Lysa, e impecavelmente arrogante longe dela.
– Obrigada – disse-lhe rigidamente Sansa. – Eu conheço o caminho.
Ele não quis ir embora.
– A senhora disse-me para levá-la.
– Agora é um guarda? – Mindinho tinha demitido o capitão da guarda do Ninho da Águia e colocado Sor Lothor Brune em seu lugar.
– Precisa de guarda? – disse Marillion com ligeireza. – Devia saber que ando compondo uma nova canção. Uma canção tão doce e triste que derreterá até o seu coração gelado. Pretendo chamá-la de “A rosa da beira da estrada”. É sobre uma garota ilegítima tão bela que enfeitiçava todos os homens que pusessem os olhos nela.
Dois guardas com manto azul-celeste flanqueavam as portas de madeira esculpida do Alto Salão, de lanças na mão.