– Vossa Graça – disse –, cativa ou não, se pensa que pode simplesmente
–
– Não – disse Jon, rápido demais. Era de Winterfell que o rei estava falando, e Winterfell não era algo que se pudesse recusar com ligeireza. – Isto é... tudo isso surgiu muito de repente, Vossa Graça. Posso suplicar-lhe algum tempo para pensar?
– Como quiser. Mas pense depressa. Não sou um homem paciente, como os seus irmãos negros estão prestes a descobrir. – Stannis apoiou uma mão magra e descarnada no ombro de Jon. – Não diga nada sobre o que falamos aqui hoje. A ninguém. Mas quando regressar, necessitará apenas dobrar o joelho, depositar a sua espada aos meus pés e colocar-se ao meu serviço, e voltará a se erguer como Jon Stark, o Senhor de Winterfell.
TYRION
Quando ouviu ruídos através da espessa porta de madeira de sua cela, Tyrion Lannister preparou-se para morrer.
Perguntou a si mesmo se o matariam ali no escuro ou se o arrastariam pela cidade para que Sor Ilyn Payne pudesse cortar-lhe a cabeça. Após a farsa que tinha sido o seu julgamento, sua querida irmã e seu dedicado pai podiam preferir ver-se livres dele discretamente, em vez de se arriscarem a uma execução pública.
Quando as chaves tilintaram e a porta da cela se abriu, rangendo, Tyrion encostou-se à umidade da parede, desejando ter uma arma.
Luz de archote caiu sobre seu rosto. Protegeu os olhos com uma mão.
– Ora, tem medo de um anão? Trate disso, seu filho de uma puta bexiguenta. – Sua voz tinha se tornado roufenha com a falta de uso.
– Isso é maneira de falar da senhora nossa mãe? – o homem avançou, com uma tocha na mão esquerda. – Isto ainda é mais pavoroso do que a minha cela em Correrrio, embora não tão úmido.
Por um momento, Tyrion não conseguiu respirar.
– Você?
– Bem, a maior parte de mim. – Jaime estava magro e tinha os cabelos cortados curtos. – Deixei uma mão em Harrenhal. Trazer os Bravos Companheiros do outro lado do mar estreito não foi uma das melhores ideias do pai. – Ergueu o braço e Tyrion viu o coto.
Uma gargalhada histérica saltou de seus lábios.
– Oh, deuses – disse. – Jaime, desculpe, mas... pela bondade dos deuses, olhe para nós dois. Maneta e Narigueta, os rapazes Lannister.
– Houve dias em que a minha mão cheirava tão mal que desejei não ter nariz. – Jaime baixou a tocha, para que a luz banhasse o rosto do irmão. – Uma cicatriz impressionante.
Tyrion afastou-se do clarão.
– Obrigaram-me a travar uma batalha sem o meu irmão mais velho para me proteger.
– Ouvi dizer que quase queimou a cidade.
– Uma mentira imunda. Só queimei o rio. – Abruptamente, Tyrion lembrou-se de onde estava e por quê. – Está aqui para me matar?
– Isso já é ingratidão. Talvez devesse deixá-lo aqui apodrecendo, se vai ser assim tão descortês.
– Apodrecer não é o destino que Cersei tem em mente para mim.
– Bem, não, para falar a verdade. Deverá ser decapitado amanhã de manhã, no antigo terreiro de torneios.
Tyrion voltou a gargalhar.
– Haverá comida? Vai ter de me ajudar com as últimas palavras, meus miolos têm andado aos círculos, como uma ratazana numa despensa.
– Não vai precisar de últimas palavras. Estou salvando você. – A voz de Jaime estava estranhamente solene.
– Quem disse que eu precisava ser salvo?
– Sabe, quase tinha me esquecido do homenzinho irritante que você é. Agora que me lembrou disso, acho que vou deixar que Cersei corte sua cabeça afinal.
– Ah, não vai, não. – Bamboleou-se para fora da cela. – É dia ou noite lá em cima? Perdi toda a noção do tempo.