O que mais surpreendeu Dany foi até que ponto não se surpreendeu. Deu por si a recordar Eroeh, a garota lhazarena que um dia tentara proteger, e aquilo que tinha acontecido a ela.
– O que quer de mim, capitão?
– Escravos – disse ele. – Meus porões estão estourando de marfim, âmbar cinza, peles de zebralo e outros produtos de boa qualidade. Quero trocá-los aqui por escravos, para vender em Lys e em Volantis.
– Não temos escravos para vender – disse Dany.
– Minha rainha? – Daario deu um passo adiante. – A margem do rio está cheia de meereeneses, implorando licença para se venderem a este qarteno. São mais do que as moscas.
Dany estava chocada.
– Eles
– Aqueles que vieram são bem-educados e de bom nascimento, querida rainha. Escravos assim são estimados. Nas Cidades Livres serão tutores, escribas, escravos de cama, e até curandeiros e sacerdotes. Dormirão em camas macias, comerão alimentos ricos e viverão em mansões. Aqui perderam tudo e vivem no medo e na miséria.
– Estou vendo. – Talvez não fosse assim tão chocante, se as histórias de Astapor fossem verdadeiras. Dany refletiu por um momento. – Qualquer homem que deseje vender-se
– Em Astapor a cidade ficava com um décimo do preço, toda vez que um escravo trocava de mãos – disse-lhe Missandei.
– Nós faremos o mesmo – decidiu Dany. As guerras eram ganhas com espadas, mas também com ouro. – Um décimo. Em moedas de ouro ou prata, ou em marfim. Meereen não tem necessidade de açafrão, cravo ou peles de zebralo.
– Será conforme ordena, gloriosa rainha – disse Daario. – Meus Corvos de Pedra coletarão o seu dízimo.
Dany sabia que se os Corvos de Pedra supervisionassem a coleta, metade do ouro iria de algum modo se extraviar. Mas os Segundos Filhos eram igualmente maus, e os Imaculados eram tão incorruptíveis como iletrados.
– Terão de ser mantidos registros – disse. – Procurem entre os libertos homens que saibam ler, escrever e fazer somas.
Com os seus assuntos tratados, o capitão do
– Diga a Belwas para trazer os meus cavaleiros – ordenou Dany, antes de ter tempo de mudar de ideia. – Os meus bons cavaleiros.
Belwas, o Forte, bufava por causa da subida quando os conduziu pelas portas, com uma mão carnuda segurando um braço de cada homem. Sor Barristan caminhava com a cabeça bem erguida, mas Sor Jorah fitava o chão de mármore ao se aproximar.
–
Sentira tanta saudade da voz dele, mas tinha de ser severa.
– Cale-se. Eu lhe direi quando falar. – Ficou em pé. – Quando os enviei para os esgotos, parte de mim esperava não voltar a vê-los. Morrer afogado na merda de feitores parecia um fim adequado para mentirosos. Pensei que os deuses fossem cuidar de vocês, mas em vez disso regressaram para mim. Meus galantes cavaleiros de Westeros, um informante e um vira-casaca. Meu irmão teria enforcado a ambos. – Pelo menos teria sido essa a atitude de Viserys. Não sabia o que Rhaegar faria. – Admito que me ajudaram a conquistar esta cidade...
A boca de Sor Jorah comprimiu-se.
– Fomos nós que conquistamos esta cidade. Nós, as ratazanas do esgoto.
– Cale-se – repetiu ela... embora