Quando a libertou, seus longos cabelos ruivos caíram em cascata pelas costas e sobre os ombros. A rede de prata tecida pendia de seus dedos, com o fino metal a brilhar suavemente, e as pedras negras ao luar.
Um súbito terror preencheu-a. O coração martelou contra suas costelas, e por um instante prendeu a respiração.
Sor Dontos tinha dito que a rede para cabelos era mágica, que a levaria para casa. Disse que ela devia usá-la naquela noite, no banquete de casamento de Joffrey. O fio de prata estendia-se, apertado, sobre os nós de seus dedos. Esfregou com o polegar o buraco onde a pedra estivera. Tentou parar, mas os dedos não lhe pertenciam. O polegar era atraído para o buraco, como a língua é atraída para um dente em falta.
Ouviu um tênue restolhar de folhas, e enfiou a rede de prata bem fundo no bolso do manto.
– Quem está aí? – gritou. – Quem é? – O bosque sagrado encontrava-se escuro e sombrio, e os sinos carregavam Joff para a sepultura.
– Eu. – Ele saiu cambaleando de debaixo das árvores, caindo de bêbado. Pegou no seu braço para se equilibrar. – Doce Jonquil, eu vim. O seu Florian veio, não tenha medo.
Sansa afastou-se do toque dele.
– Disse que eu devia usar a rede para cabelos. A rede de prata com... que tipo de pedras são estas?
– Ametistas. Ametistas negras de Asshai, senhora.
– Elas não são ametistas coisa nenhuma. São?
– Ametistas negras – jurou ele. – Havia magia nelas.
– Havia
– Mais baixo, senhora, mais baixo. Assassinato não. Ele engasgou-se com a torta de pombo. – Dontos gargalhou. – Oh, torta saborosa, tão saborosa. Prata e pedras, é tudo que era, prata, pedras e magia.
Os sinos repicavam e o vento fazia um ruído igual ao que
– Envenenou-o. Foi isso. Tirou uma pedra dos meus cabelos...
– Chiu, será a nossa morte. Eu não fiz nada. Venha, temos de ir, eles vão nos procurar. O seu esposo foi preso.
– Tyrion? – disse ela, chocada.
– A senhora tem outro esposo? O Duende, o tio anão, ela pensa que foi ele quem matou o rei. – Dontos agarrou a mão dela e puxou-a. – Por aqui, temos de ir, depressa, não tenha medo.
Sansa seguiu-o sem resistir. “Nunca consegui tolerar os choros das mulheres”, Joff havia dito uma vez, mas a mãe dele era a única mulher que chorava agora. Nas histórias da Velha Ama os gramequins fabricavam coisas mágicas que eram capazes de fazer com que um desejo se tornasse realidade.
– Tyrion envenenou-o? – sabia que o seu esposo anão odiava o sobrinho. Poderia realmente tê-lo matado?
– Silêncio agora, doçura – disse Dontos. – Fora do bosque sagrado, não podemos fazer um som. Puxe o capuz e esconda o rosto. – Sansa assentiu e fez o que ele dizia.