Margaery Tyrell chorava nos braços da avó enquanto a velha dizia: “Coragem, coragem”. A maior parte dos músicos tinha fugido, mas o último flautista na galeria soprava uma canção triste. Nos fundos da sala do trono, uma balbúrdia tinha se instalado em volta das portas, e os convidados tropeçavam uns nos outros. Os homens de manto dourado de Sor Addam entraram para restaurar a ordem. Havia convidados que se precipitavam para a noite, alguns choravam, outros tropeçavam e vomitavam, outros estavam brancos de medo. Ocorreu tardiamente a Tyrion que talvez fosse sensato sair também.
Quando ouviu o grito de Cersei, soube que tinha chegado ao fim.
Ela estava sentada numa poça de vinho, embalando o corpo do filho. Tinha o vestido rasgado e manchado, e o rosto branco como cal. Um cão negro e magro aproximou-se dela, farejando o cadáver de Joffrey.
– O rapaz está morto, Cersei – disse Lorde Tywin. Pousou a mão enluvada no ombro da filha enquanto um dos guardas enxotava o cão. – Largue-o. Deixe-o partir. – Ela não ouviu. Foram precisos dois homens da Guarda Real para desprender seus dedos de modo que o corpo do Rei Joffrey Baratheon deslizasse, sem forças e sem vida, para o chão.
O Alto Septão ajoelhou-se ao seu lado.
– Pai no Céu, julgue o nosso bom Rei Joffrey com justeza – entoou, dando início à prece pelos mortos. Margaery Tyrell desatou a soluçar, e Tyrion ouviu a mãe dela, Senhora Alerie, dizer:
– Ele engasgou-se, querida. Engasgou-se com a torta. Não teve nada a ver com você. Ele engasgou-se. Todos vimos.
– Ele não se engasgou. – A voz de Cersei era tão cortante quanto a espada de Sor Ilyn. – Meu filho foi envenenado. – Olhou para os cavaleiros brancos, em pé, impotentes, em volta dela. – Guarda Real, cumpra o seu dever.
– Senhora? – disse Sor Loras Tyrell, sem compreender.
– Prendam o meu irmão – ordenou-lhe. – Foi ele quem fez isto, o anão. Ele e a mulherzinha dele. Eles mataram o meu filho.
SANSA
Longe, do outro lado da cidade, um sino começou a repicar.
Sansa sentiu-se como se estivesse num sonho.
– Joffrey está morto – disse às árvores, para ver se isso a acordaria.
Não estava morto quando ela tinha abandonado a sala do trono. Mas estava de joelhos, arranhando a garganta, rasgando a própria pele enquanto lutava para respirar. A cena havia sido terrível demais para observar, e ela virou-se e fugiu, soluçando. A Senhora Tanda também tinha fugido.
– Tem um bom coração, senhora – disse para Sansa. – Não é qualquer donzela que choraria assim por um homem que a pôs de lado e a casou com um anão.
Encontrou a roupa onde a escondera, na noite da antevéspera. Sem aias que a ajudassem, levou mais tempo do que devia desatando os cordões do vestido. Tinha as mãos estranhamente desajeitadas, embora não estivesse tão assustada como devia estar.
– Os deuses são cruéis por o levarem tão jovem e bonito, em seu próprio banquete de casamento – tinha dito a Senhora Tanda.