– Ele vendeu a senhora em troca da promessa de dez mil dragões. Seu desaparecimento irá fazê-los suspeitar de seu papel na morte de Joffrey. Os homens de manto dourado irão à caça, e o eunuco fará tinir a sua bolsa. Dontos... bem, ouviu-o. Vendeu-a por ouro e, quando o bebesse, teria voltado a vendê-la. Um saco de dragões compra o silêncio de um homem durante algum tempo, mas um dardo bem colocado compra-o para sempre. – Deu um sorriso triste. – Tudo que ele fez foi às minhas ordens. Não me atrevi a travar abertamente amizade com você. Quando me contaram como Dontos salvou sua vida no torneio de Joff, soube que ele seria o instrumento perfeito.
Sansa sentiu-se enjoada.
– Ele disse que era o meu Florian.
– Por acaso lembra-se do que lhe disse naquele dia em que seu pai se sentou no Trono de Ferro?
O momento voltou-lhe à memória com grande clareza.
– Disse-me que a vida não era uma canção. Que um dia eu aprenderia isso para minha tristeza. – Sentiu lágrimas nos olhos, mas não saberia dizer se chorava por Sor Dontos Hollard, por Joff, por Tyrion ou por si mesma. – É
– Quase todos. Menos eu e você, claro. – Sorriu. –
– A nota... era você?
– Tinha de ser o bosque sagrado. Nenhum outro local da Fortaleza Vermelha está a salvo dos passarinhos do eunuco... ou ratazaninhas, como eu os chamo. No bosque sagrado há árvores em vez de paredes. Céu no lugar de tetos. Raízes, terra e pedras em vez de assoalhos. As ratazanas não têm por onde correr. As ratazanas precisam se esconder, para que os homens não espetem espadas nelas. – Lorde Petyr pegou-a pelo braço. – Permita que lhe mostre a sua cabine. Teve um dia longo e penoso, eu sei. Deve estar cansada.
O barquinho já não era mais do que um turbilhão de fumaça e fogo atrás deles, quase perdido na imensidão do mar da alvorada. Não havia volta; seu único caminho era em frente.
– Muito cansada – admitiu.
Enquanto a levava para baixo, ele disse:
– Fale-me do banquete. A rainha dedicou-se tanto. Os cantores, os malabaristas, o urso dançarino... o pequeno senhor seu esposo gostou de meus anões combatentes?
– Seus?
– Tive de mandar buscá-los em Bravos e de escondê-los num bordel até o casamento. A despesa só foi excedida pelo incômodo. É surpreendentemente difícil esconder um anão, e Joffrey... pode levar um rei até a água, mas com Joffrey era preciso espalhá-la por todo lado antes que ele entendesse que a podia beber. Quando lhe falei de minha pequena surpresa, Sua Graça disse: “Por que eu iria querer uns anões feios no meu banquete? Detesto anões.” Tive de me aproximar e sussurrar: “Mas não tanto quanto o seu tio os detestará”.
O convés balançou sob os pés de Sansa, e ela sentiu como se o próprio mundo tivesse se tornado instável.
– Eles pensam que Tyrion envenenou Joffrey. Sor Dontos disse que o prenderam.
Mindinho sorriu.
– A viuvez cairá bem em você, Sansa.
A ideia agitou sua barriga. Podia nunca mais ser obrigada a dividir uma cama com Tyrion.
A cabine era baixa e apertada, mas tinham colocado um colchão de penas no estreito beliche a fim de deixá-lo mais confortável, e grossas peles foram empilhadas por cima.
– É pequeno, eu sei, mas não deverá ficar muito desconfortável. – Mindinho indicou uma arca de cedro sob a vigia. – Achará roupa lavada lá dentro. Vestidos, roupa de baixo, meias quentes, um manto. Temo que sejam de lã e linho. Vestuário indigno de uma donzela tão bela, mas servirá para mantê-la seca e limpa até que possamos lhe arranjar algo melhor.
– Senhor, eu... eu não compreendo... Joffrey deu-lhe Harrenhal, fez de você Senhor Supremo do Tridente... por quê...
– Por que haveria de querê-lo morto? – Mindinho encolheu os ombros. – Não tive nenhum motivo. Além disso, estou a mil léguas de distância, no Vale. Mantenha sempre seus inimigos confusos. Se nunca estiverem seguros de quem é ou do que quer, não podem saber o que é provável que faça em seguida. Às vezes, a melhor maneira de confundi-los é fazer coisas que não têm nenhum propósito, ou até que parecem prejudicar você. Lembre-se disso, Sansa, quando começar a jogar o jogo.
– Que... que jogo?