As criaturas tinham sido coisas lentas e desajeitadas, mas o Outro era ligeiro como neve no vento. Esquivou-se do machado de Paul, com a armadura ondulando, e sua espada de cristal torceu-se, girou e deslizou entre os anéis de ferro da cota de malha de Paul, através de couro e lã, de osso e carne. Saiu por suas costas com um
Quando abriu os olhos, a armadura do Outro escorria por suas pernas em riachos, enquanto o sangue azul-claro silvava e fumegava em volta do punhal negro de vidro de dragão que trazia espetado na garganta. Estendeu duas mãos brancas como osso para arrancar a arma, mas onde os dedos tocavam a obsidiana
Sam rolou sobre o flanco, com olhos esbugalhados enquanto, o Outro minguava e se liquefazia, dissolvendo-se. Em vinte segundos, sua carne tinha desaparecido, afastando-se em redemoinhos de névoa branca. Por baixo, havia ossos parecidos com vidro leitoso, brancos e brilhantes, e também eles se derretiam. Por fim, só o punhal de vidro de dragão ficou, embrulhado em vapor, como se estivesse vivo e transpirando. Grenn dobrou-se para apanhá-lo, e atirou-o imediatamente no chão.
– Mãe, como está
– Obsidiana. – Sam ajoelhou-se com dificuldade. – Chamam de vidro de dragão. Vidro de
Grenn ajudou Sam a ficar em pé, verificou se Paul Pequeno tinha pulso e fechou seus olhos, e depois voltou a pegar o punhal. Daquela vez conseguiu segurá-lo.
– Fique com ele – disse Sam. – Não é covarde como eu.
– Tão covarde que matou um Outro. – Grenn apontou com a faca. – Olhe para lá, entre as árvores. Luz cor-de-rosa. A alvorada, Sam. A alvorada. Aquilo deve ser o leste. Se seguirmos naquela direção, alcançaremos o Mormont.
– Se você diz. – Sam deu um chute numa árvore com o pé esquerdo, para desprender toda a neve. Depois com o direito. – Eu tento. – Fazendo uma careta, deu um passo. – Tento de verdade. – E depois outro.
TYRION
A corrente de mãos de Lorde Tywin projetava uma cintilação dourada sobre o profundo tom bordô de sua túnica de veludo. Os Senhores Tyrell, Redwyne e Rowan reuniram-se à sua volta quando ele entrou. Cumprimentou-os um por um, deu uma palavrinha em voz baixa a Varys, beijou o anel do Alto Septão e a face de Cersei, apertou a mão do Grande Meistre Pycelle e sentou-se no lugar do rei, à cabeceira da longa mesa, entre a filha e o irmão.
Tyrion tinha se apoderado do antigo lugar de Pycelle, ao fundo da mesa, tendo-lhe acrescentado almofadas para poder estender o olhar ao longo de toda a mesa. Desalojado, Pycelle se mudara para junto de Cersei, sentando-se quase tão longe do anão quanto podia sem reclamar a cadeira do rei. O Grande Meistre era um esqueleto trôpego, apoiando-se pesadamente numa bengala retorcida e tremendo ao caminhar, com um punhado de cabelos brancos brotando de seu longo pescoço enrugado onde outrora tivera a sua luxuriante barba branca. Tyrion fitou-o sem remorso.
Os outros tiveram de disputar os lugares: Lorde Mace Tyrell, um homem pesado e robusto, com cabelos castanhos encaracolados e uma barba em forma de folha bem salpicada de branco; Paxter Redwyne, da Árvore, de ombros estreitos e magro, com a cabeça calva rodeada de tufos de cabelo cor de laranja; Mathis Rowan, Senhor de Bosquedouro, escanhoado, entroncado e transpirando; o Alto Septão, um homem frágil, com uma barbicha fina e branca.