Naquela noite, ficou deitada na sua manta fina no chão duro, fitando o grande cometa vermelho. Era magnífico e assustador ao mesmo tempo. “A Espada Vermelha”, assim Touro o chamara; dizia que parecia uma espada, com a lâmina ainda incandescente da forja. Quando Arya o olhava de soslaio, da maneira certa, também conseguia ver a espada, mas não era uma espada nova, era Gelo, a espada longa do pai, toda feita de aço valiriano ondulado, e o vermelho era o sangue de Lorde Eddard na lâmina depois de Sor Ilyn, o Magistrado do Rei, ter cortado sua cabeça. Yoren a obrigara a afastar o olhar quando aquilo aconteceu, mas ela acreditava que o aspecto do cometa devia ser como o que a espada deve ter tomado depois.
Quando por fim adormeceu, sonhou com seu lar. A estrada do rei serpenteava ao longo de Winterfell a caminho da Muralha, e Yoren havia prometido que a deixaria lá sem que ninguém ficasse sabendo nada sobre quem era. Ansiava por voltar a ver a mãe, e Robb, Bran e Rickon… mas era em Jon Snow que mais pensava. Desejava que de algum modo pudessem chegar à Muralha
Sansa
O dia do nome do Rei Joffrey amanheceu claro e ventoso, com a longa cauda do grande cometa visível por entre nuvens altas e rápidas. Sansa a observava da janela de sua torre quando Sor Arys Oakheart chegou para escoltá-la até o campo de torneios.
– O que você acha que significa? – ela lhe perguntou.
– Glória para o seu prometido – Sor Arys respondeu de imediato. – Veja como flameja pelo céu hoje, no dia do nome de Sua Graça, como se os próprios deuses tivessem içado um estandarte em sua honra. O povo o chamou Cometa do Rei Joffrey.
Sem dúvida era isso que diziam a Joffrey, mas Sansa não tinha tanta certeza de que fosse verdade.
– Ouvi criados chamarem de Cauda do Dragão.
– Rei Joffrey ocupa o lugar que antigamente foi de Aegon, o Dragão, no castelo construído por seu filho – disse Sor Arys. – É ele o herdeiro do dragão… E o carmim é a cor da Casa Lannister, outro sinal. Este cometa foi enviado para anunciar a ascensão de Joffrey ao trono, não tenho qualquer dúvida. Significa que triunfaremos sobre os seus inimigos.
Sansa fechou as venezianas e deu as costas à janela bruscamente.
– Está adorável hoje, minha senhora – Sor Arys a elogiou.
– Obrigada, sor.
Sabendo que Joffrey exigiria que ela comparecesse ao torneio organizado em sua honra, Sansa tinha tomado especial cuidado com seu rosto e suas roupas. Usava um vestido de seda lilás e uma rede de selenitas para o cabelo, presente de Joffrey. O vestido tinha mangas compridas para esconder os hematomas que trazia nos braços. Estes também presentes de Joffrey. Quando lhe disseram que Robb tinha sido proclamado Rei no Norte, sua ira havia sido terrível, e mandara Sor Boros bater nela.
– Vamos? – Sor Arys ofereceu o braço, e Sansa deixou que a levasse dos seus aposentos. Se tinha de ter um membro da Guarda Real seguindo seus passos, preferia que fosse ele. Sor Boros tinha um temperamento irritável, Sor Meryn era frio, e os estranhos olhos mortos de Sor Mandon deixavam-na pouco à vontade, enquanto Sor Preston a tratava como uma criança estúpida. Arys Oakheart era cortês e falava com ela cordialmente. Uma vez até questionou quando Joffrey lhe ordenara que batesse nela. Acabou batendo, mas não com tanta força como Sor Meryn ou Sor Boros teriam feito, e pelo menos discutira. Os outros obedeciam sem questionar… Exceto Cão de Caça, mas Joff nunca pedia a ele para puni-la. Para isso usava os outros cinco.
Sor Arys tinha cabelo castanho-claro e um rosto que não era desagradável de contemplar. Hoje, estava um tanto elegante, com o manto de seda branca preso ao ombro por uma folha dourada, e um grande carvalho bordado no peito da sua túnica em brilhante fio de ouro.
– Quem acha que conquistará as honras do dia? – Sansa perguntou, enquanto desciam os degraus de braços dados.
– Eu – Sor Arys respondeu, sorrindo. – Mas temo que o triunfo não tenha sabor. Esta será uma competição pequena e pobre. Não mais de duas vintenas entrarão na arena, incluindo escudeiros e cavaleiros livres. Pouca honra se conquista derrubando garotinhos inexperientes.