– Olha aquela espada que o Cabeça de Caroço tem – disse Lommy uma manhã, enquanto abriam seu penoso caminho por entre pomares e campos de trigo. Tinha sido aprendiz de tintureiro antes de ser apanhado roubando, e seus braços eram salpicados de verde até o cotovelo. Quando ria, zurrava como os burros que montavam. – Onde é que um rato de esgoto como o Cabeça de Caroço arranjou uma espada?
Arya mordeu o lábio, carrancuda. Podia ver as costas do manto negro desbotado de Yoren à frente das carroças, mas estava decidida a não ir implorar por sua ajuda.
– Talvez seja um escudeirozinho – sugeriu Torta Quente. Sua mãe tinha sido padeira até morrer, e ele tinha passado dias inteiros empurrando o carrinho de mão pelas ruas, gritando “
– Escudeiro, nada, olha pra ele. Aposto que aquilo nem é uma espada de verdade. Aposto que é uma espada de brincar feita de latão.
Arya detestava que zombassem de Agulha.
– É aço forjado em castelo, seu estúpido – exclamou, virando-se na sela para encará-los. – E é melhor que cale a boca.
Os órfãos vaiaram.
– Onde arranjou uma arma dessas, Cara de Caroço? – quis saber Torta Quente.
– É
– Não roubei
– Se roubou a espada, podíamos pegá-la dele – Torta Quente sugeriu. – De qualquer maneira, não é dele. Eu não me importava de ter uma dessas na mão.
Lommy o incitou.
– Vai lá, duvido que pegue.
Torta Quente enfiou os calcanhares no burro, aproximando-se.
– Ei, Cabeça de Caroço, me dá essa espada – seu cabelo era cor de palha e a cara gorda, queimada pelo sol, descamava. – Você não sabe usá-la.
– Olha pra ele – zurrou Lommy Mãos-Verdes. – Aposto que vai começar a chorar. Quer chorar, Cabeça de Caroço?
Arya tinha chorado durante o sono na noite anterior, sonhando com o pai. Ao amanhecer, acordou de olhos vermelhos e secos, e não teria conseguido derramar nem mais uma lágrima, nem que sua vida dependesse disso.
– Vai molhar as calças – sugeriu Torta Quente.
– Deixem-no em paz – disse o rapaz com o cabelo preto crespo, que cavalgava atrás. Lommy lhe dera o apelido de Touro, por causa do elmo com cornos que tinha e que polia o tempo todo, mas nunca usava. Lommy não se atrevia a caçoar do Touro. Era mais velho, e grande para a idade, com um peito largo e braços de aspecto forte.
– É melhor dar a espada ao Torta Quente, Arry – Lommy disse. – O Torta Quente a quer muito. Matou um rapaz a chutes. Aposto que vai fazer o mesmo com você.
– Atirei-o ao chão e chutei suas bolas, e continuei a chutá-lo até estar morto – vangloriou-se Torta Quente. – Estraçalhei o cara a pontapés. Ficou com as bolas estouradas, sangrando, e o pinto preto. É melhor me dar a espada.
Arya puxou a espada de treino do cinto.
– Pode ficar com esta – ela respondeu, sem querer lutar.
– Isso é só um pau qualquer.
O rapaz se aproximou e tentou alcançar o cabo da Agulha.
Arya fez o pau assobiar ao bater com a madeira nas ancas do burro dele. O animal soltou um zurro e deu um salto, arqueando o dorso e atirando Torta Quente no chão. Arya fez seu próprio burro dar meia-volta e espetou o pau na barriga do rapaz quando tentava se levantar, obrigando-o a se sentar de novo com um grunhido. Então, bateu na sua cara, e o nariz dele estalou como um galho quando se quebra. Sangue escorreu de suas narinas. Quando Torta Quente começou a gemer, Arya virou-se para Lommy Mãos-Verdes, que continuava montado no burro, de boca aberta:
– Também quer provar um pouco da espada? – ela gritou, mas ele não queria. Ergueu as mãos tingidas de verde na frente da cara e guinchou que ela se afastasse.
Touro gritou:
– Atrás de você!