Arya rodopiou. Torta Quente estava de joelhos, com o punho fechado segurando uma grande pedra irregular. Arya deixou que a atirasse, abaixando a cabeça quando a pedra passou. Depois, saltou para cima dele. Ele levantou uma mão, e Arya bateu nela, e depois na cara, e depois no joelho. Ele tentou agarrá-la, mas ela se afastou, dançando, e deu com a madeira na nuca dele. Ele caiu, se levantou e tropeçou ao ir atrás dela, com a cara vermelha toda manchada de terra e sangue. Arya adotou uma pose de dançarina de água e esperou. Quando ele chegou suficientemente perto, lançou uma estocada, bem no meio das pernas, com tanta força que, se a espada de madeira tivesse uma ponta, teria saído por entre as nádegas dele.
Quando Yoren a puxou para cima, Torta Quente estava estatelado no chão, com os calções marrons e fedidos, chorando, enquanto Arya batia e voltava a bater.
–
Estavam todos olhando para ela, até os três acorrentados e algemados na parte de trás da carroça. O gordo bateu os dentes pontiagudos uns nos outros e
O velho a arrastou até bem longe, num emaranhado de árvores longe da estrada, praguejando e resmungando o tempo inteiro.
– Se eu tivesse um pingo de juízo, tinha deixado você em Porto Real. Está me ouvindo,
Carrancuda, Arya fez o que ele dizia.
– Ali, junto do carvalho. Isso, assim mesmo – Arya abraçou o tronco e comprimiu a cara contra a madeira rugosa. – Agora grita. Grita com força.
– Acha que isso doeu? – ele perguntou. – Experimenta isto.
O pau caiu assobiando. Arya voltou a guinchar, agarrando-se à árvore para não cair.
– Mais uma vez.
Ela se agarrou mais, mordendo o lábio, estremecendo quando ouviu o pau chegando. A pancada fez Arya saltar e uivar.
– Pode ser que agora eu tenha a sua atenção – disse Yoren. – Da próxima vez que levantar o pau contra um dos seus irmãos, levará o dobro do que der, está me ouvindo? Agora, vista-se.
Yoren estava olhando para ela:
– Tá sentindo dor?
– Um pouco.
Ele cuspiu.
– Aquele menino das tortas sentiu mais. Não foi ele que matou seu pai, menina, nem o ladrão do Lommy. Bater neles não vai trazê-lo de volta.
– Eu sei – Arya resmungou, carrancuda.
– Mas tem uma coisa que você não sabe. Aquilo não deveria ter acontecido como aconteceu. Tava pronto para ir embora, com as carroças compradas e carregadas, e chega um homem com um rapaz pra mim, uma bolsa de dinheiro e uma mensagem, não me pergunte de quem. “O Lorde Eddard deve vestir o negro”, ele me disse, “espera, ele vai contigo”. Por que você acha que eu tava lá? Só que alguma coisa deu errado.
–
– Alguém vai matar, mas não será você nem eu – Yoren jogou de volta para ela a espada de madeira. – Tem folhamarga nas carroças – ele disse, enquanto voltavam à estrada. – Mastiga um pouco, vai ser bom para a dor.
De fato foi bom, um pouco, embora o gosto fosse ruim e deixasse seu cuspe parecido com sangue. Mesmo assim, seguiu o resto do dia a pé, e o dia seguinte, e o outro depois
– Sempre que olha para ele, ele se encolhe – Touro disse a Arya enquanto caminhava ao lado do seu burro. Ela não respondeu. Parecia ser mais seguro não falar com ninguém.