Ainda que me mate, não poderei ver o Russell por algum tempo. Não posso dar ao Douglas qualquer oportunidade de provar a minha infidelidade.
– Oh, não te preocupes. Já tenho fotografias, vídeos... é só escolher.
Arquejo.
– Contrataste um detetive para me espiar?
Fulmina-me com um olhar venenoso.
– Tudo o que tive de fazer foi instalar algumas câmaras ocultas no nosso próprio apartamento. Subtil, não?
Raios. Nunca devíamos ter sido tão descuidados. Se eu soubesse...
– Talvez possas recuperar o teu antigo emprego – observa o Douglas, pensativo. – Qual era mesmo? Não costumavas trabalhar num balcão da Macytf Parece divertido.
Odeio este homem. Senti muitas emoções por ele ao longo dos últimos três anos, mas nunca senti este tipo de ódio por ninguém na minha vida. Sim, não fui inteiramente honesta, mas deixar-me na penúria? É verdadeiramente um sádico.
– Não me divorcio de ti, então – digo. – Não assino os papéis. Não me tirarás da tua vida.
– Tudo bem – responde, com uma calma exasperante. –Mas não vais recuperar os teus cartões de crédito. E todas as contas bancárias estão em meu nome. Vou cortar-te o acesso.
Não sabia que o Douglas tinha isto em si. Mas suponho que não se chega a diretor-executivo de uma empresa tão grande sem se ter um par de tomates.
– Podes continuar no apartamento – acrescenta. – Por enquanto. Mas, daqui a uns meses, vou pô-lo no mercado. Assim, podes decidir o que queres fazer.
Dito isto, dá meia-volta e encaminha-se para fora da sala de estar. A sua gravata ainda está caída no sofá, e parte de mim sente-se tentada a agarrar nela, enrolar-lha à volta do pescoço e espremer-lhe a vida.
Não o faço, claro, mas é uma ideia incrivelmente apelativa.
Pois, se o Douglas se divorciar de mim com provas do meu adultério, não recebo nada. Mas, se morrer, segundo o seu testamento, fico com tudo.
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Passo 6: Descobrir como Transformar o Seu Marido num Homem que Merece Morrer
Quatro meses antes
– O Douglas anda a ameaçar pôr o apartamento no mercado em breve – digo ao Russell. – Não sei o que fazer.
Estamos deitados juntos na gigantesca cama kingsize do quarto principal. Sentia pânico de cá voltar após ter sabido das câmaras que o Douglas tinha instalado, por isso contratei um especialista para as encontrar e desmantelar. Não ficar neste apartamento não era uma opção –afinal, é tão meu como do Douglas. Fui eu que escolhi esta cama, embora possa provavelmente contar pelos dedos das mãos o número de vezes que o Douglas dormiu nela. Nunca gostou deste apartamento. O Russell, por outro lado, está completamente apaixonado por ele. Aprecia-o tanto como eu.
Mas, ainda que recebesse os dez milhões de dólares, não poderia ficar aqui. E, sem esse dinheiro, é um sonho ridículo.
– Não o fará. – O Russell passa os dedos pela minha barriga nua. – Se vender o apartamento, terão de viver juntos. E ele não quer isso.
Dá-me vontade de deitar as mãos à cabeça.
– Sabe-se lá o que ele quer! Está só a tentar castigar-me. – Toda a minha mentira sobre tentar engravidar levou-o claramente para lá dos limites. Quer que sofra pelos meus pecados. – Mas o que posso eu fazer?
– Podias divorciar-te dele na mesma – sugere. – E ficar comigo. Eu deixo a Marybeth.
– Mas ficaremos na miséria!
– Não ficaremos, não. – Parece ofendido com essa sugestão. – Tenho a minha loja. E tu também podias arranjar algo. Não ficaremos na penúria.
Às vezes, sinto que eu e o Russell fomos feitos um para o outro, mas outras vezes diz coisas assim.
Por agora, vou esperando. Quando o Douglas e eu nos divorciarmos, acabou-se – não tenho direito algum ao seu dinheiro. Por isso, todos os dias torço para que, ao descer a rua, seja atropelado por um autocarro. Acontece constantemente na cidade. Por que não pode acontecer ao meu marido, por uma vez?
– Se ao menos morresse – digo. – Seria de esperar, com a quantidade de comida gordurosa que consome, que já tivesse caído fulminado por um ataque cardíaco.
– Só tem quarenta e dois anos.
– Há muitos homens a morrer de ataque cardíaco na casa dos quarenta – saliento. – O Douglas até toma medicamentos para o coração. Podia acontecer.
– Esperar que o Douglas tenha um ataque cardíaco não é um plano sólido para o futuro.
O Russell não parece gostar de fantasiar com a morte do Douglas da mesma forma que eu. Mas isso é só porque não o conhece como eu.
– Tem de haver uma saída para esta situação do acordo pré-nupcial – comento. – O Douglas está a ser um sacana sádico e tem de pagar pela maneira como me tem vindo a tratar. Devia haver algum modo de castigar os maridos que tratam as mulheres desta forma. Cortar-me o dinheiro e ameaçar tirar-me a minha casa... Isso é basicamente, tipo, abuso.
Ao dizer as palavras, algo aflora ao fundo do meu pensamento. Uma história que a minha amiga Audrey me contou há séculos. Sobre uma empregada doméstica que defende as mulheres que são maltratadas pelos maridos.