– Que malandro de faces rosadas. O que é que você gostaria de ter, Jack?
O menino pensou um momento e disse:
– Queria um xelim.
– Você não gostaria mais de outra coisa?
– Gostaria mais de dois xelins – respondeu o prodígio, depois de pensar um pouco.
– Então, aqui está. Pegue! Que bela criança, sra. Smith.
– Deus o abençoe, meu senhor, ele é muito travesso, me dá muito trabalho, principalmente quando o meu marido fica fora por alguns dias.
– O sr. Smith não está? – disse Holmes, desapontado... – Lamento, porque queria muito falar com ele.
– Saiu desde ontem de manhã e, para lhe dizer a verdade, estou começando a ficar preocupada. Mas se é por causa de algum bote, talvez eu possa resolver.
– Desejava alugar a lancha a vapor.
– Ora veja, meu senhor, foi justamente na lancha a vapor que ele saiu. É isso o que me deixa intrigada, porque sei que o carvão que levaram não podia dar para ir a Woolwich e voltar. Se ele tivesse ido na barca, eu não ficaria preocupada, porque muitas vezes ele tem ido a trabalho até Gravesend, e se houvesse muito o que fazer, ficaria por lá. Mas para que serve uma lancha a vapor sem carvão?
– Pode ter comprado carvão por aí, em qualquer cais.
– Poderia, mas não costuma fazer isso. Ele reclama muito dos preços que cobram... Além disso, não gosto daquele homem de perna-de-pau, de cara feia e fala estrangeira. O que é que ele anda querendo sempre por aqui?
– Um homem de perna-de-pau? – disse Holmes um tanto surpreso.
– Sim, senhor, um sujeito moreno, com cara de macaco, que procurou o meu marido várias vezes. Foi ele que apareceu ontem à noite. Mas não é só isso: o meu marido sabia que ele vinha, porque já tinha a lancha preparada. Digo-lhe tudo, meu senhor, porque estou preocupada com essas coisas.
– Mas, minha cara sra. Smith – disse Holmes, dando de ombros – está se assustando à toa. Como a senhora
pode dizer que foi o homem da perna-de-pau que veio ontem à noite? Como pode ter tanta certeza?
– Pela voz, senhor. Eu o reconheci pela voz grossa e tenebrosa. Bateu na janela – mais ou menos às três horas – e disse: “Salta, camarada, é hora de render a guarda.” O meu velho acordou o Jim, que é o meu filho mais velho, e foram os dois sem me dizer nada. Eu ouvia perfeitamente a perna-de-pau batendo nas pedras.
– E o homem estava só?
– Não sei. Mas não ouvi mais ninguém.
– Pois sinto muito, porque eu queria a lancha. Tenho ouvido muitos elogios a respeito dela. Deixeme lembrar o nome...
– A
– Não é uma lancha velha, verde, muito larga, com uma lista amarela?
– Claro que não. É a mais elegante que anda pelo rio. Está pintada de novo, é preta, com duas listas vermelhas.
– Obrigado. Espero que tenha logo notícias do sr. Smith. Eu vou descer o rio e se vir a
– Não, senhor. Preta com uma faixa branca.
– Ah, é verdade, os lados é que são pretos. Bom dia, sra. Smith. Ali está um barqueiro com uma canoa, Watson. Vamos tomá-la para atravessar o rio.
Quando nos sentamos no banco da canoa, Holmes disse:
– O melhor sistema com este tipo de gente é não mostrar que a informação é importante para você. Se eles desconfiam que tem importância, fecham-se como uma ostra e não há jeito de tirar-lhes mais nada. Se ficar ouvindo a contragosto, como aconteceu, dirão tudo o que quisermos saber.
– O nosso itinerário agora parece claro – eu disse.
– O que é que faria, então?
– Tomaria uma lancha e iria pelo rio atrás da
– Meu amigo, isto seria uma empreitada colossal. Ela pode ter ido parar em qualquer cais em um dos lados do rio, daqui até Greenwich. Depois da ponte há um verdadeiro labirinto de desembarcadouros. Levaria dias e dias até descobri-los, se tentássemos sozinhos.
– Chame a polícia, então.
– Não quero. Eu só chamarei Athelney Jones no último momento. Ele não é má pessoa e não gostaria de fazer nada que possa prejudicá-lo profissionalmente. Mas quero resolver o caso por minha conta, agora que já fomos tão longe.
– Poderíamos ao menos pedir informações aos guardas dos cais.
– Seria pior, bem pior. Nossos homens ficariam sabendo que estavam sendo perseguidos de perto e podiam sair do país. É o que estão procurando fazer, mas enquanto pensarem que estão seguros, não terão pressa. A energia de Jones será útil para divulgar informações para a imprensa. Assim, os fugitivos pensarão que a polícia está na pista errada.
– Então, o que vamos fazer? – perguntei quando desembarcamos perto da penitenciária de Millbank.
– Pegar este cabriolé, ir para casa tomar nosso
Fomos ao correio de Great Peter Street, e Holmes mandou o seu telegrama.
– Para quem pensa que era? – perguntou quando retomamos nosso trajeto.
– Não tenho a menor idéia.
– Você se lembra do grupo da força policial de Baker Street que utilizei no caso Jefferson Hope?