– Tudo bem, minha cara –, eu disse, estendendo gentilmente minhas mãos para ela, mas ela as segurou por uns segundos e suas mãos estavam queimando como se ela estivesse com febre.
Olhei-a nos olhos e vi tudo. Ela não precisava falar, nem eu. Fiquei sério na mesma hora e retirei minhas mãos. Então ela ficou em silêncio ao meu lado por um instante e depois, colocando a mão no meu ombro, disse: "Fique calmo, Jim", e saiu da sala com um riso de escárnio.
Bem, a partir daquela ocasião Sarah me odiou de todo o coração – e ela é uma mulher que sabe odiar também. Fui um tolo por ter deixado que ela continuasse conosco – um completo idiota – mas nunca disse uma palavra sequer a Mary, já que eu sabia que isso iria magoá-la. As coisas continuaram como antes, mas depois de algum tempo percebi uma certa mudança em Mary. Ela sempre fora confiante e inocente, mas tornou-se esquisita e desconfiada, querendo saber onde eu estivera e o que fizera, quem me mandava cartas, o que eu tinha nos bolsos, e centenas de coisinhas bobas. A cada dia ela ficava mais estranha, mais irritável, e brigávamos por qualquer coisa. Fiquei intrigado com tudo isso. Sarah me evitava então, mas ela e Mary eram inseparáveis. Agora entendo que ela estava conspirando malevolamente e envenenando minha mulher contra mim, mas eu era tão cego que não percebi isso naquela época. Então quebrei minha promessa e comecei a beber de novo, mas eu acho que não teria recomeçado se Mary tivesse continuado a ser a mesma. Agora ela tinha motivo para ficar desgostosa comigo e a distância entre nós começou a ficar cada vez maior. E então esse Alec Fairbairn apareceu, e as coisas ficaram ainda piores. Foi para ver Sarah que ele começou a aparecer em minha casa, mas logo depois para nos ver, já que ele era um homem insinuante e fazia amigos com facilidade. Era um sujeito agradável, impetuoso, elegante e esperto, que já estivera em meio mundo e sabia contar coisas que já vira. Era uma companhia agradável, não nego, e maravilhosamente educado para ser um marinheiro, de modo que eu acho que muitas vezes ele viajou mais como passageiro do que como tripulante. Durante um mês ele ia todos os dias à minha casa e eu nunca suspeitei que pudesse surgir alguma maldade de suas maneiras suaves e educadas. Então, finalmente alguma coisa despertou minha suspeita, e daquele dia em diante minha paz acabou para sempre. Foi uma coisinha à-toa. Voltei repentinamente para casa e, quando entrei pela porta, notei um brilho de boas-vindas no rosto de minha mulher. Mas quando ela viu que era eu, o brilho sumiu e ela se afastou, com o desapontamento estampado no rosto. Foi o suficiente para mim. Não podiam ser de ninguém além de Alec Fairbairn os passos que ela confundiu com os meus. Se eu o visse naquele momento, tê-lo-ia matado, porque fico completamente louco quando perco a calma. Mary viu o brilho diabólico em meus olhos e correu na minha direção, colocando as mãos nos meus braços:
– Não, Jim, não! –, suplicou.
– Onde está Sarah? –, perguntei.
– Na cozinha.
– Sarah! –, gritei quando entrei na cozinha – não quero nunca mais que Fairbairn apareça aqui.
– Por que não? –, ela perguntou.
– Porque eu estou dando uma ordem.
– Oh, se meus amigos não servem para esta casa, então eu também não sirvo.
– Pode fazer o que quiser, mas se Fairbairn aparecer de novo por aqui, vou mandar para você uma orelha dele como lembrança.
Ela ficou amedrontada com meu olhar, eu acho, porque não disse uma palavra, e foi-se embora na mesma noite.