Logo em seguida ele sentiu duas coisas duras diante de seus olhos, pressionando-os, dando a impressão de que não poderia andar para a frente sem o perigo de perdê-los. Mesmo assim, teve coragem suficiente para andar, e quando se moveu para a frente, a pressão se desfez. Houve um murmúrio de aprovação.
– Ele é corajoso – disse alguém. – Você consegue suportar dor?
– Tanto quanto os outros – respondeu.
– Teste-o!
Ele mal conseguiu reprimir um grito, pois uma dor lancinante percorreu seu braço. Ele quase desmaiou com o choque repentino que a dor lhe provocou, mas mordeu os lábios e cerrou os punhos para esconder sua agonia.
– Posso agüentar mais ainda – disse.
Dessa vez ele foi aplaudido. Jamais houvera uma primeira impressão na Loja tão boa quanto aquela. Recebeu tapinhas nas costas e o capuz foi retirado da sua cabeça. Ele ficou piscando e sorrindo em meio aos cumprimentos que recebia dos irmãos.
– Só mais uma coisa, Irmão McMurdo – disse McGinty. – Você já fez o juramento de manter segredo e fidelidade, e você sabe que o castigo pela quebra desse juramento é a morte instantânea e inevitável?
– Sei – disse McMurdo.
– E você aceita o comando do chefe atual sob todas as circunstâncias?
– Aceito.
– Então, em nome da Loja 341, Vermissa, eu o cumprimento pelo seu ingresso em nosso mundo de privilégios e debates. Ponha a bebida sobre a mesa, Irmão Scanlan, e vamos beber à saúde do nosso notável irmão.
O casaco de McMurdo lhe foi devolvido, mas antes de vesti-lo, examinou seu braço direito, que ainda doía muito. Ali, na carne do antebraço, havia um círculo com um triângulo dentro, fundo e vermelho, onde o ferrete fora colocado. Um ou dois dos outros membros levantaram suas mangas e lhe mostraram suas próprias marcas da Loja.
– Todos nós passamos por isso – disse um deles. – Mas nem todos de modo tão corajoso quanto você.
– Oh, isso não foi nada! – ele disse. Mas a pele queimava e doía.
Quando as bebidas que se seguiram à cerimônia foram servidas, a reunião prosseguiu para tratar dos assuntos da Loja. McMurdo, acostumado apenas com os feitos prosaicos de Chicago, ouvia atentamente, demonstrando mais surpresa do que pretendia ao ouvir o que relatavam.
– O primeiro assunto da pauta – disse McGinty – é esta carta do chefe da Divisão Windle, de Merton County, Loja 249. Diz ele:
PREZADO SENHOR: Há um serviço a ser executado em Andrew Rae, da empresa Rae e Sturmash, proprietária de minas de carvão perto daqui. O senhor se lembra de que sua Loja nos deve uma retribuição, já que executamos aquele caso dos dois guardas no outono passado. Se o senhor mandar dois homens dos bons, eles serão informados de tudo pelo tesoureiro Higgins, da nossa Loja, cujo endereço o senhor sabe. Ele dirá a eles quando e onde agir. – Atenciosamente,
J. W. Windle, D.M.A.O.F.
– Windle nunca nos recusou auxílio nas ocasiões em que precisamos de um homem ou dois dele emprestados, e não devemos negar-lhe ajuda. – McGinty parou e olhou ao redor da mesa com seus olhos sombrios, maldosos. – Quem se apresenta para o trabalho?
Vários jovens levantaram as mãos. O chefe olhou para eles com um sorriso aprovador.
– Você serve, Tigre Cormac. Se você cuidar disso como fez da última vez, não haverá erro. E você, Wilson.
– Não tenho arma – disse o voluntário, ainda um adolescente.
– É a sua primeira vez, não? Bem, você tem de começar um dia. Será um bom começo para você. Quanto à arma, estará esperando por você, acredite. Se vocês se apresentarem na segunda-feira, dará tempo de sobra. Vocês terão uma bela recepção quando voltarem.
– Desta vez não haverá recompensa? – perguntou Cormac, um jovem grandalhão, de rosto moreno e mal-encarado, cuja ferocidade lhe valera o apelido de Tigre.
– Não se preocupe com a recompensa. Você só fará isso pela honra do serviço. Talvez depois que o serviço for executado apareçam alguns dólares.
– O que esse homem fez? – perguntou o jovem Wilson.
– Na verdade, isso não é da sua conta. Ele foi julgado lá. Não é problema nosso. Tudo que temos a fazer é executar o serviço para eles, do mesmo modo como fariam para nós. Por falar nisso, dois irmãos da Loja de Merton vão chegar na próxima semana para resolver algumas coisas por aqui.
– Quem são eles? – alguém perguntou.
– É mais prudente não perguntar. Se a gente não sabe nada, não pode testemunhar, e não se arranja encrenca. Mas esses são homens que farão um trabalho limpo.
– Já não é sem tempo! – gritou Ted Baldwin. – As pessoas estão ficando incontroláveis por aqui. Na semana passada mesmo três dos nossos homens foram demitidos por Blaker. Ele está devendo há muito tempo, mas vai receber o dele direitinho.
– Receber o quê? – McMurdo perguntou num sussurro ao seu vizinho de mesa.
– Um cartucho de chumbo grosso! – gritou o homem, dando uma gargalhada bem alta. – O que acha dos nossos métodos, irmão?
A alma criminosa de McMurdo parecia já ter absorvido o espírito da sociedade perversa da qual agora era membro.
– Gosto deles – disse. – Aqui é o lugar certo para um cara esperto.