– Muito bem, Irmão Morris. Eu sentiria muito se fosse obrigado a lhe dar uma lição. Mas enquanto eu permanecer neste posto seremos uma Loja unida na palavra e na ação. E agora, rapazes – continuou, olhando para os demais – vou lhes dizer o seguinte: se acontecesse alguma coisa a Stanger, nós arranjaríamos mais encrenca do que desejamos. Esses editores são muito unidos e todos os jornais do Estado pediriam a ação da polícia e até de tropas. Mas acho que vocês podem lhe fazer uma advertência bem dura. Você pode cuidar disso, Irmão Baldwin?
– Claro! – disse o jovem com veemência.
– Quantos vai querer levar?
– Uns seis, e dois pra ficarem de guarda na porta. Vou levar você, Gower; e você, Mansel; você, Scanlan e os dois Willabys.
– Eu prometi ao novato que ele iria – disse o presidente.
Ted Baldwin olhou para McMurdo com uma expressão de quem não esquecera nem perdoara o outro.
– Muito bem, ele pode vir, se quiser – disse ele, de má vontade. – É o bastante. Quanto mais cedo formos, melhor.
A reunião se dissolveu com gritos e gargalhadas e cantorias de homens bêbados. O bar ainda estava lotado de gente à toa e alguns dos irmãos permaneceram ali. O pequeno grupo escolhido para o serviço foi para rua e se subdividiu em pequenos grupos de dois ou três para não chamar atenção. Estava uma noite especialmente fria, e a lua em quarto crescente brilhava no céu estrelado. Os homens pararam e se reuniram num pátio em frente a um edifício alto. As palavras Vermissa Herald estavam ali em letras douradas entre as janelas excessivamente iluminadas. Lá de dentro vinha o ruído da máquina impressora.
– Você aí – disse Baldwin a McMurdo. – Você fica aqui embaixo, na porta, e cuide para que o caminho esteja livre pra nós. Arthur Willaby pode ficar com você. Os outros vêm comigo. Não fiquem com medo, rapazes, pois temos uma porção de testemunhas de que estamos no bar neste exato momento.
Era quase meia-noite e a rua estava deserta, com exceção de um ou outro que ainda perambulava por ali a caminho de casa. O grupo cruzou a rua e, empurrando a porta da redação do jornal, Baldwin e seus homens entraram no prédio e subiram a escada que ficava em frente. McMurdo e o outro permaneceram embaixo. Da sala que ficava logo no andar de cima veio um grito, depois um pedido de socorro e depois o ruído de passos e de cadeiras caindo. Pouco depois um homem de cabelos grisalhos saiu correndo do prédio. Foi agarrado antes que pudesse continuar seu caminho e seus óculos caíram bem nos pés de McMurdo. Ouviu-se a seguir um soco e um gemido. Ele estava no chão e recebeu uma série de socos quando todos caíram em cima dele. Ele se contorcia e seus membros longos e finos se agitavam com os golpes que recebia. Finalmente pararam de bater nele, mas Baldwin, com seu rosto cruel exibindo um sorriso diabólico, golpeava a cabeça do homem, que tentava inutilmente defender-se com os braços. Seus cabelos brancos estavam molhados com manchas de sangue. Baldwin ainda estava debruçado sobre sua vítima, acertando um soco perverso onde quer que visse uma parte exposta, quando McMurdo correu e o puxou.
– Você vai matar o homem – disse ele. – Pare com isso!
Baldwin olhou para ele com espanto.
– Vá pro diabo! – ele gritou. – Quem é você pra se meter? Você que é novo na Loja? Vá embora! – Ele ergueu seu bastão, mas McMurdo puxou a pistola do bolso.
– Vá embora você! – ele gritou. – Eu estouro seus miolos se você tocar em mim. Quanto à Loja, a ordem do chefe não era para matar. E você, o que está fazendo? Está matando o homem.
– Ele tem razão – disse um dos homens.
– É melhor vocês todos sumirem daqui! As janelas estão todas acesas e daqui a pouco toda a cidade estará aqui.
Realmente havia um vozerio pela rua e um grupo de linotipistas e jornalistas estava se juntando na entrada do prédio e querendo entrar em ação. Deixando o corpo inerte e machucado do editor na escada, os criminosos correram e fugiram rapidamente pela rua. Quando chegaram ao sindicato, alguns deles se misturaram aos fregueses do saloon de McGinty, sussurrando para o chefe, em meio ao movimento, que o serviço tinha sido executado a contento. Outros, e entre eles McMurdo, entraram por ruas transversais e assim, por caminhos mais longos, foram para suas casas.
O Vale do Medo
Quando McMurdo acordou na manhã seguinte, tinha um bom motivo para se lembrar de sua iniciação na Loja. Sua cabeça doía em conseqüência da bebida, e seu braço, no lugar em que fora marcado com ferro quente, estava ardendo e inchado. Tendo sua própria fonte de renda, ele não era muito assíduo ao trabalho, de modo que tomou seu café-da-manhã bem tarde e ficou em casa o resto da manhã, escrevendo uma longa carta para um amigo. Depois leu o Daily Herald. Numa coluna, incluída na última hora, ele leu:
Violência na Redação do Herald. O editor ficou gravemente ferido.
Contava em resumo o que acontecera na noite anterior, mas ele estava mais a par dos fatos do que o redator. A notícia terminava da seguinte maneira: