– Eu me ofereci para lutar com ele, se ele acha que eu agi mal – disse McMurdo. – Eu lutarei com as mãos, ou, se isso não lhe agradar, lutarei com ele da maneira que escolher. Agora deixarei que o senhor, conselheiro, julgue, como deve fazer um chefe.
– Qual é o caso?
– Uma jovem. Ela é livre para se decidir.
– É? – gritou Baldwin.
– Entre dois irmãos da Loja eu diria que ela é livre – disse o chefe.
– Oh, essa é a sua decisão?
– Sim, é, Ted Baldwin – disse McGinty, com um olhar duro. – É você que vai disputar isso?
– O senhor vai preterir alguém que esteve a seu lado durante anos em favor de um homem que o senhor nunca viu antes? O senhor não é chefe para sempre, Jack McGinty, e quando chegar a hora de votar...
O conselheiro partiu para cima dele como um tigre. Suas mãos se fecharam em torno do pescoço do outro e ele caiu sobre um dos barris. No seu acesso de fúria ele teria acabado com a vida do outro se McMurdo não tivesse interferido.
– Calma, conselheiro! Pelo amor de Deus, tenha calma! – ele gritou enquanto o puxava para trás.
McGinty afrouxou as mãos e Baldwin, assustado, atordoado e arquejante, com o corpo todo tremendo como alguém que tivesse chegado à fronteira da morte, sentou-se no barril sobre o qual fora jogado.
– Você está querendo isso há muitos dias, Ted Baldwin. Agora você conseguiu! – gritou McGinty, com o peito largo arfando. – Talvez você pense que se eu for derrotado na votação para chefe você pegará o meu lugar. A Loja é que decidirá. Mas enquanto eu for chefe, nenhum homem levantará a voz para mim ou desacatará minhas decisões.
– Não tenho nada contra o senhor – murmurou Baldwin, esfregando a garganta.
– Muito bem, então! – gritou o outro, adotando uma falsa jovialidade. – Todos nós somos bons amigos e está tudo encerrado.
Ele apanhou uma garrafa de champanha na prateleira e começou a torcer a rolha.
– Veja bem – ele continuou, enquanto enchia três copos –, vamos beber em nome da Loja. Depois disso, como vocês sabem, não pode correr sangue entre nós. Agora, então, a mão esquerda na minha garganta. Eu lhe pergunto, Ted Baldwin, qual o problema, senhor?
– As nuvens estão carregadas – respondeu Baldwin.
– Mas o sol brilhará para sempre.
– Juro que sim.
Os homens beberam e a mesma cerimônia foi repetida entre Baldwin e McMurdo.
– Pronto – gritou McGinty, esfregando as mãos. – Este é o fim da desavença. Você se submeterá à disciplina da Loja, se tudo der certo, e por aqui a palmatória é pesada, como bem sabe o Irmão Baldwin, e como você descobrirá logo, Irmão McMurdo, se arranjar alguma confusão.
– Acredite, não pretendo fazer isso – disse McMurdo. Ele estendeu a mão para Baldwin. – Sou rápido para brigar e rápido para perdoar. É o meu sangue quente escocês, segundo dizem. Mas pra mim está tudo terminado, e não guardo rancor. Baldwin teve de pegar a mão estendida, pois os terríveis olhos do chefe estavam sobre ele. Mas seu rosto carrancudo mostrava que as palavras do outro não convenceram.
McGinty bateu nos ombros dos dois.
– Hum! Essas moças! Essas moças! – ele disse. – E pensar que a mesma mulher agrada a dois de meus rapazes. Coisas do diabo. É que a moça vai resolver a questão, porque está fora da jurisdição do chefe, e Deus seja louvado por isso. Já temos muitas encrencas por aqui sem as mulheres. Você tem de se filiar à Loja 341, Irmão McMurdo. Temos nossos próprios meios e métodos, muito diferentes de Chicago. Nossa reunião é sábado à noite, e se você vier, nós o livraremos para sempre do Vale Vermissa.
Loja 341, Vermissa
No dia seguinte àquela noite de tantos acontecimentos excitantes, McMurdo mudou-se da casa de Jacob Shafter e foi se instalar na pensão da viúva MacNamara, na periferia da cidade. Scanlan, seu primeiro conhecimento, feito no trem, teve oportunidade, pouco depois, de mudar-se para Vermissa, e os dois moravam juntos. Não havia nenhum outro hóspede e a dona da hospedaria era uma velha escocesa simpática que deixava os dois à vontade, de forma que tinham liberdade de falar e agir, o que era muito bom para homens que tinham segredos em comum. Shafter ficara menos severo, a ponto de deixar McMurdo fazer as refeições em sua casa quando quisesse, de modo que sua ligação com Ettie não foi interrompida. Pelo contrário, a relação tornou-se mais estreita e íntima à medida que passavam as semanas. McMurdo sentiu-se suficientemente seguro no quarto de sua nova casa para mostrar seus moldes de cunhagem e, sob a condição de manter
segredo, alguns irmãos de Loja eram recebidos lá para vê-los, e cada um deles carregava no bolso alguns exemplares do dinheiro falsificado, certos de que não haveria a menor dificuldade em passá-lo adiante. Por que, dominando arte tão magnífica, McMurdo continuava trabalhando era um completo mistério para seus companheiros, embora deixasse claro a todos que lhe perguntavam sobre isso que, se não tivesse um emprego para manter as aparências, logo a polícia estaria atrás dele.