– Então são loucos. Segundo as últimas notícias que ouvi, o Rei Stannis estava às portas da cidade. Dizem que tem cem mil homens e uma espada mágica.
As mãos de Jaime fecharam-se em volta da corrente que lhe prendia os pulsos, e torceu-a, retesando-a, desejando ter forças para quebrá-la em duas.
– Se fosse vocês, ficaria bem longe da estrada do rei – prosseguiu o homem. – É pior do que ruim, segundo dizem. Tanto lobos como leões, e bandos de homens sem bandeira que atacam qualquer um que consigam apanhar.
– Ralé – declarou Sor Cleos com desprezo. – Gente assim nunca se atreveria a causar problemas a homens armados.
– Com a sua licença, sor, mas estou vendo um homem armado, viajando com uma mulher e um prisioneiro acorrentado.
Brienne lançou ao cozinheiro um olhar duro.
– Pretendo seguir o Tridente até o mar – disse a garota ao anfitrião. – Arranjaremos montarias em Lagoa da Donzela e seguiremos via Valdocaso e Rosby. Isso deve nos manter bem longe do pior da batalha.
O anfitrião balançou a cabeça.
– Nunca chegará à Lagoa da Donzela por rio. A menos de cinquenta quilômetros daqui, alguns barcos foram queimados e afundaram, e o canal se assoreou em volta deles. Ali há um ninho de fora da lei que ataca qualquer um que tente passar, e existem outros como mesmo perfil mais para baixo, em volta das Pedras Saltitantes e da Ilha do Veado Vermelho. E o senhor do relâmpago também foi visto por essa região. Atravessa o rio onde bem quer, passando para cá e para lá, sempre em movimento.
– E quem é esse senhor do relâmpago? – quis saber Sor Cleos Frey.
– É Lorde Beric, com a sua licença, sor. Dão-lhe esse nome porque ataca repentinamente, como um relâmpago vindo de um céu sem nuvens. Dizem que não pode morrer.
– Thoros de Myr ainda o acompanha?
– Sim. O feiticeiro vermelho. Ouvi dizer que tem estranhos poderes.
– Longe de mim questionar – disse –, mas talvez o Tridente não seja a nossa rota mais segura.
– Eu diria que é verdade – concordou o cozinheiro. – Mesmo se passarem da Ilha do Veado Vermelho sem encontrar Lorde Beric e o feiticeiro vermelho, ainda terão à sua frente o vau rubi. Da última vez que ouvi notícias, eram os lobos do Lorde Sanguessuga que defendiam o vau, mas isso foi já há algum tempo. A essa altura podem ter voltado a ser os leões, ou Lorde Beric, ou seja lá quem for.
– Ou ninguém – sugeriu Brienne.
– Se a senhora quer apostar a pele nisso, eu não a impedirei... mas se fosse vocês, deixaria este rio aqui, cortaria caminho por terra. Se permanecerem longe das estradas principais e se abrigarem debaixo das árvores à noite, meio que escondidos... bem, ainda não quereria ir com vocês, mas talvez tenham uma pequena chance.
A grande garota estava com uma expressão de dúvida.
– Precisaríamos de cavalos.
– Aqui há cavalos – ressaltou Jaime. – Ouvi um nos estábulos.
– Sim, há cavalos – disse o estalajadeiro que não era estalajadeiro. – E logo três, por acaso, mas não estão à venda.
Jaime não conseguiu evitar uma gargalhada.
– Claro que não. Mas vai nos mostrá-los mesmo assim.
Brienne franziu a testa, mas o homem que não era estalajadeiro enfrentou seu olhar sem piscar, e um momento depois, relutantemente, ela disse:
– Mostre-me – e todos se ergueram da mesa.
Os estábulos não eram limpos havia muito tempo, julgando pelo cheiro que exalavam. Centenas de gordas moscas pretas esvoaçavam por entre a palha, zumbindo de cocheira em cocheira e passeando sobre os montículos de esterco de cavalo que se espalhavam por todo lado, mas só se viam três cavalos. Eram um trio improvável: um pesado cavalo de tração castanho, um castrado branco, muito velho, cego de um olho, e o palafrém de um cavaleiro, sarapintado de cinza e vivaz.
– Não estão à venda por nenhum preço – anunciou seu alegado dono.
– Como arranjou estes cavalos? – quis saber Brienne.