De repente, Hodor ficou em pé, quase batendo com a cabeça no teto abobadado.
– HODOR! – gritou, correndo para a porta. Meera abriu-a antes de ele alcançá-la e entrou no refúgio do grupo. – Hodor, hodor – disse o enorme cavalariço, sorrindo.
Meera Reed tinha dezesseis anos, era uma mulher-feita, mas não era mais alta do que o irmão. “Todos os cranogmanos são pequenos”, ela havia dito um dia a Bran, quando lhe perguntara por que não era mais alta. De cabelos castanhos, olhos verdes, e reta como um rapaz, caminhava com uma graça flexível que Bran só podia observar e invejar. Meera usava uma adaga longa e afiada, mas a sua maneira preferida de lutar era com uma esguia lança de três dentes para caçar rãs numa mão e uma rede na outra.
– Quem tem fome? – perguntou ela, erguendo a caça que trazia: duas pequenas trutas prateadas e seis gordas rãs verdes.
– Eu tenho – disse Bran.
– Nesse caso, teremos de lhe dar comida. Me ajuda a limpar a caça, Bran?
Ele assentiu. Era difícil se aborrecer com Meera. Ela era muito mais alegre do que o irmão e parecia sempre saber como fazê-lo sorrir. Nada nunca a assustava ou a fazia se zangar.
Jojen mandou Hodor buscar lenha e fez uma pequena fogueira, enquanto Bran e Meera limpavam os peixes e as rãs. Usaram o elmo de Meera como panela, cortando a caça em pequenos cubos e juntando um pouco de água a ela e algumas cebolas silvestres, que Hodor achara, para fazer um guisado de rãs. Enquanto comia, Bran decidiu que não era tão bom quanto corça, mas também não era ruim.
– Obrigado, Meera – disse. – Minha Senhora.
– Não tem de quê, Vossa Graça.
– De manhã – anunciou Jojen –, é melhor que prossigamos.
Bran viu Meera ficar tensa.
– Teve um sonho verde?
– Não – admitiu o irmão.
– Então por que temos de ir embora? – quis saber a irmã. – A Torre Arruinada é um bom lugar para nós. Não há aldeias por perto, a floresta está cheia de caça, há peixe e rãs nos riachos e lagos... quem é que vai nos encontrar aqui?
– Este não é o lugar em que devemos estar.
– Mas é seguro.
– Parece seguro, eu sei – disse Jojen –, mas por quanto tempo? Houve uma batalha em Winterfell, vimos os mortos. Batalhas significam guerras. Se algum exército nos pegar desprevenidos...
– Podia ser o exército de Robb – disse Bran. – Robb voltará em breve do sul, eu sei que sim. Ele voltará com todos os seus vassalos e botará os homens de ferro para correr.
– Seu meistre não disse nada de Robb quando o encontramos à beira da morte – recordou-lhe Jojen. –
– Já fizemos esse caminho antes – disse a irmã. – Você quer seguir na direção da Muralha e de seu corvo de três olhos. Isso está muito certo, mas a Muralha fica muito longe e Bran não tem outras pernas que não sejam as de Hodor. Se estivéssemos a cavalo...
– Se fôssemos águias, poderíamos voar – disse Jojen em tom cortante –, mas não temos asas, assim como não temos cavalos.
– Há cavalos que podemos obter – disse Meera. – Até mesmo nas profundezas da mata de lobos há lenhadores, caseiros, caçadores. Alguns devem ter cavalos.
– E se tiverem, vamos roubá-los? Somos ladrões? A última coisa de que precisamos é de homens nos perseguindo.
– Poderíamos comprá-los – disse ela. – Negociar por eles.
– Olhe para nós, Meera. Um rapaz aleijado com um lobo gigante, um gigante simplório e dois cranogmanos a mil léguas do Gargalo.
– Como, Jojen? – perguntou a irmã. –
– A pé – respondeu ele. – Um passo de cada vez.