– Nunca desejei a honra em si mesma. Na última eleição, afastei-me, grato, quando o nome de Lorde Mormont foi sugerido, tal como tinha feito por Lorde Qorgyle na eleição anterior. Desde que a Patrulha da Noite permaneça em boas mãos, estou satisfeito. Mas Bowen Marsh não está à altura da tarefa e Othell Yarwyck também não. E este dito Senhor de Harrenhal é uma cria de carniceiro promovida pelos Lannister. Não me admira que seja venal e corrupto.
– Há outro homem – Sam deixou escapar. – O Senhor Comandante Mormont confiou nele. E Donal Noye e Qhorin Meia-Mão também. Embora o nascimento dele não seja tão nobre quanto o seu, provém de sangue antigo. Nasceu e foi educado num castelo, e aprendeu a manejar espada e lança com um cavaleiro e as letras com um meistre da Cidadela. O pai era um senhor, e o irmão, um rei.
Sor Denys afagou sua longa barba branca.
– Talvez – disse, após um longo momento. – É muito jovem, mas... talvez. Poderá servir, admito, embora eu fosse mais adequado. Não tenho qualquer dúvida. Eu seria a escolha mais sensata.
– Se não escolhermos um Senhor Comandante esta noite, o Rei Stannis pretende nomear Cotter Pyke. Ele disse isso ao Meistre Aemon esta manhã, depois de todos vocês terem saído.
– Entendo. – Sor Denys ergueu-se. – Tenho de pensar sobre isso. Obrigado, Samwell. E dê os meus agradecimentos também ao Meistre Aemon.
Sam estava tremendo quando saiu da Lança.
Pyke não se mostrou satisfeito com o seu retorno.
– Você outra vez? Seja rápido, você começa a me aborrecer.
– Só preciso de mais um momento – prometeu Sam. – Disse que não se retiraria por Sor Denys, mas poderia se retirar por outro homem.
– Quem é dessa vez, Matador? Você?
– Não. Um lutador. Donal Noye entregou-lhe a Muralha quando os selvagens chegaram e era escudeiro do Velho Urso. O único problema é que é bastardo.
Cotter Pyke soltou uma gargalhada.
– Oh, inferno. Isso ia enfiar uma lança no cu do Mallister, não ia? Pode valer a pena só por isso. O rapaz talvez não seja tão ruim, não é? – fungou. – Mas eu seria melhor. Eu sou o líder de quem precisamos, qualquer idiota consegue ver isso.
– Qualquer idiota – concordou Sam –, até eu. Mas... bem, eu não devia lhe contar, mas... o Rei Stannis pretende nos obrigar a aceitar Sor Denys, se não escolhermos um homem esta noite. Ouvi-o dizendo isso ao Meistre Aemon, depois do resto de vocês ter sido mandado embora.
JON
Emmett de Ferro era um jovem patrulheiro alto e magricela cuja resistência, força e habilidade com a espada eram o orgulho de Atalaialeste. Jon saía sempre de suas sessões hirto e dolorido, e no dia seguinte acordava coberto de hematomas, o que era exatamente o que queria. Nunca conseguiria se aperfeiçoar defrontando gente como Cetim, Cavalo ou mesmo Grenn.
Jon gostava de pensar que na maior parte dos dias batia tanto quanto apanhava, mas não naquele. Quase não tinha dormido na noite anterior, e após passar uma hora virando-se na cama, num desassossego, desistiu até de tentar, vestiu-se e percorreu o topo da Muralha até o sol nascer, lutando com a oferta de Stannis Baratheon. A falta de sono estava agora se fazendo sentir, e Emmett malhava nele sem misericórdia pátio afora, mantendo-o sobre os calcanhares com um longo golpe em arco após outro, e batendo nele de tempos em tempos com o escudo, para variar. O braço de Jon ficou dormente com os impactos, e a espada de treino sem gume parecia tornar-se mais pesada a cada momento.
Estava prestes a baixar a lâmina e pedir para pararem quando Emmett fez uma finta baixa e arremeteu por cima de seu escudo com um violento golpe direto que atingiu Jon num lado da cabeça. Cambaleou, com o elmo e a cabeça ressoando com a força do ataque. Durante meio segundo o mundo para lá de sua viseira foi uma mancha indistinta.
E então os anos desapareceram, e ele estava uma vez mais de volta a Winterfell, usando um casaco de couro almofadado em vez de cota de malha e placa de aço. Sua espada era feita de madeira, e era Robb quem o defrontava, e não Emmett de Ferro.