– Seu pai é um soldado capaz – disse o Rei Stannis. – Derrotou uma vez o meu irmão, em Vaufreixo. Mance Tyrell reclamou alegremente as honras dessa vitória, mas Lorde Randyll tinha resolvido o assunto antes de Tyrell sequer encontrar o campo de batalha. Ele matou Lorde Cafferen com aquela sua grande espada valiriana e mandou a cabeça dele a Aerys. – O rei esfregou o queixo com um dedo. – Você não é o tipo de filho que eu esperaria que um homem assim tivesse.
– Eu... eu não sou o tipo de filho que ele desejava, senhor.
– Se não tivesse vestido o negro, daria um refém útil – devaneou Stannis.
– Ele vestiu o negro, senhor – apontou Meistre Aemon.
– Estou bem consciente desse fato – disse o rei. – Estou consciente de mais do que pensa, Aemon Targaryen.
O velho inclinou a cabeça.
– Sou apenas Aemon, senhor. Abandonamos o nome de nossas Casas quando forjamos as correntes de meistre.
O rei respondeu àquilo com um aceno seco, como quem diz que sabia e não se importava.
– Matou aquela criatura com um punhal de obsidiana, segundo me dizem – disse ele a Sam.
– S-sim, Vossa Graça. Foi Jon Snow quem me deu.
– Vidro de dragão. – O riso da mulher vermelha era música. –
– Em Pedra do Dragão, onde tinha a minha sede, vê-se muita desta obsidiana nos velhos túneis por baixo da montanha – disse o rei a Sam. – Grandes pedaços, pedregulhos, veios. A maior parte é negra, se bem me lembro, mas havia também alguma verde, alguma vermelha, até púrpura. Mandei dizer a Sor Rolland, o meu castelão, para começar a miná-la. Não controlarei Pedra do Dragão durante muito mais tempo, receio, mas o Senhor da Luz talvez nos permita obter
Sam pigarreou.
– S-senhor. O punhal... o vidro de dragão apenas estilhaçou-se quando tentei apunhalar uma criatura.
Melisandre sorriu.
– É a necromancia que anima essas criaturas, mas elas não deixam de ser apenas carne morta. O aço e o fogo servirão para elas. Aqueles que chamam de Outros são algo mais.
– Demônios feitos de neve, gelo e frio – disse Stannis Baratheon. – O antigo inimigo. O único inimigo que importa. – Voltou a fitar Sam. – Disseram-me que você e aquela garota selvagem passaram por baixo da Muralha, através de um portão mágico qualquer.
– O P-Portão Negro – gaguejou Sam. – Por baixo de Fortenoite.
– Fortenoite é o maior e mais antigo dos castelos na Muralha – disse o rei. – É lá que pretendo me instalar, enquanto travo esta guerra. Você irá me mostrar esse portão.
– Eu – disse Sam –, eu m-mostro, se... –
– Mostrará – exclamou Stannis. – Eu direi quando.
Meistre Aemon sorriu.
– Vossa Graça – disse –, antes de irmos, pergunto a mim mesmo se poderia nos fazer a grande honra de mostrar essa maravilhosa lâmina de que tanto ouvimos falar.
–
– Sam será os meus olhos.
O rei franziu a testa.
– Todo mundo já viu a coisa, por que não um cego? – seu cinto da espada e a bainha estavam pendurados em um gancho perto da lareira. Pegou o cinto e desembainhou a espada. Aço roçou em madeira e couro, e uma radiância encheu o aposento privado; cintilando, ondulando, uma dança de luz dourada, alaranjada e vermelha, todas as cores brilhantes do fogo.
– Conte-me, Samwell. – Meistre Aemon tocou-lhe o braço.
– Ela
– Agora estou vendo, Sam. Uma espada cheia da luz do sol. Uma beleza de se admirar. – O velho fez uma hirta reverência. – Vossa Graça. Minha senhora. Foi muita amabilidade sua.
Quando o Rei Stannis embainhou a espada cintilante, a sala pareceu ficar muito escura, apesar da luz do sol que entrava pela janela.
– Muito bem, já a viram. Podem voltar aos seus deveres. E lembrem-se do que eu disse. Seus irmãos escolherão um Senhor Comandante esta noite, caso contrário eu farei desejarem que tivessem escolhido.
Meistre Aemon manteve-se perdido em pensamentos enquanto Sam o ajudava a descer a estreita escada em espiral. Mas quando atravessavam o pátio, disse:
– Não senti nenhum calor. Você sentiu, Sam?
– Calor? Vindo da espada? – tentou lembrar-se. – O ar em volta dela estremecia, como faz por cima de um braseiro quente.
– Mas não
– Não – admitiu Sam. – Que eu visse, não.