Depois de duzentos e trinta degraus, o poço estava negro como breu, mas ele conseguia sentir o ar quente que saía do túnel à sua esquerda, como se fosse o hálito de alguma grande fera. Apalpou desajeitadamente com um pé e saiu com cuidado da escada. O túnel ainda era mais apertado do que o poço. Qualquer homem de estatura normal teria sido obrigado a engatinhar, mas Tyrion era suficientemente baixo para caminhar direito.
– O mais provável é que seja torta – disse Lum. Isso levou-os a uma discussão sobre o modo como Tyrion morreria na manhã seguinte. – Ele vai chorar como uma mulher e suplicar misericórdia, vai ver – insistia Lum. Lester achava que enfrentaria o machado com a coragem de um leão, sendo um Lannister como era, e estava disposto a apostar nisso as botas novas. – Ah, estou cagando nas suas botas – disse Lum –, sabe que nunca vão servir aqui nestes meus pés. Olha, se eu ganhar, pode limpar a porcaria da minha cota de malha durante uma quinzena.
Ao longo de um a dois metros, Tyrion conseguiu ouvir cada palavra do regateio entre os dois, mas, quando prosseguiu, as vozes desvaneceram-se rapidamente.
Chegou à terceira porta e tateou em volta durante bastante tempo até que seus dedos roçaram num pequeno gancho de ferro instalado entre duas pedras. Quando o puxou para baixo, ouviu-se um ruído surdo e fraco, que no silêncio pareceu o estrondo de uma avalanche, e um quadrado de tênue luz alaranjada abriu-se trinta centímetros à sua esquerda.
– Senhor? – chamou uma voz de mulher.
– Estava à espera de alguém mais alto, querida?
Grandes lágrimas molhadas encheram os olhos dela.
– Eu não queria dizer aquelas coisas, a rainha obrigou-me.
– Minha senhora Shae – disse Tyrion em voz baixa. – Todo o tempo que fiquei na cela negra esperando morrer, não parava de me lembrar de sua beleza. Vestida de seda ou tecido grosseiro, ou de coisa nenhuma...
– O senhor deve estar de volta daqui a pouco. Você devia ir, ou... veio me levar?
– Alguma vez gostou? – envolveu-lhe o rosto com as mãos, lembrando-se de todas as vezes que tinha feito isso. De todas as vezes que tinha deslizado as mãos em torno da cintura dela, apertado seus pequenos e firmes seios, afagado seus curtos cabelos escuros, tocado seus lábios, bochechas, orelhas. De todas as vezes que a abrira com um dedo para sondar a sua doçura secreta e fazê-la gemer. – Alguma vez gostou do meu toque?
– Mais do que tudo – disse ela –, meu gigante de Lannister.
Tyrion enfiou uma mão por baixo da corrente do pai, e torceu. Os elos apertaram-se, enterrando-se no pescoço dela.
– Porque mãos de ouro são sempre frias, mas há calor em mãos de mulher – disse.
Deu às mãos frias outra torção enquanto as quentes batiam nele, limpando-lhe as lágrimas.